A nossa razão de ser é educar pessoas livres, integralmente formadas para serem responsáveis, competentes e felizes em todas as dimensões de sua realidade pessoal e de sua vida, com um projeto de vida inspirado nos valores de Jesus de Nazaré (justiça, paz, fraternidade), sujeitos de uma sociedade mais justa e solidária ...
"No mundo dos deuses primeiros, os que formaram o mundo, tudo é sonho. E a terra em que vivemos e morremos é um grande espelho do sonho no qual vivem os deuses. Vivem todos juntos os grandes deuses. Bem juntinhos estão. Não há uns acima e outros abaixo. É a injustiça, quando vira governo, a que desarticula o mundo, colocando uns poucos acima e uns muitos abaixo. Não assim no mundo verdadeiro, o grande espelho do sonho dos deuses primeiros, quem formaram um mundo grande onde todos entram juntos e iguais. Não é como o mundo de agora, feito cada vez mais pequenininho para que uns poucos fiquem acima e muitos fiquem embaixo. O mundo de agora não é um bom espelho, não reflete o mundo de sonhos onde moram os deuses primeiros.
Os deuses deram como presente aos homens um espelho chamado ‘dignidade’. Nele os homens se percebem iguais, tornando-se rebeldes quando deixam de sê-lo. Foi assim que começou a rebeldia dos nossos primeiros avôs, os que hoje morrem em nós para que vivamos.
O espelho da dignidade serve para derrotar os demônios que espalham a escuridão. Se olhado no espelho, o senhor da escuridão aparece refletido como a nada que a forma. Como se fosse nada, o ‘desigualador’ do mundo torna-se nada diante do espelho da dignidade o senhor da escuridão.
Quatro pontos colocaram os deuses para o mundo permanecer deitado. Não porque estivesse cansado, senão para que iguais caminhassem sempre homens e mulheres, para todos terem lugar, para ninguém passar por cima do outro. Dos pontos colocaram os deuses para poder voar ou para ficar na terra. Outro ponto colocaram os deuses para os homens e mulheres verdadeiros puder caminhar. Sete são os pontos que dão sentido ao mundo e trabalho aos homens e mulheres verdadeiros: na frente e atrás, de um e do outro lado, acima e embaixo, e o sétimo, é o caminho que sonhamos, o destino dos homens e mulheres verdadeiros.
Uma lua em cada seio ofereceram os deuses às mulheres mães, para alimentarem com sonhos os homens e mulheres novos. Com eles se conserva viva a história e a memória, sem eles nos devoram a morte e o esquecimento. Há na terra, nossa grande mãe, dois seios para que os homens e mulheres apreendam a sonhar. Aprendendo a sonhar apreendem a ser grandes, a ser dignos, a lutar. Por isso, quando os homens e mulheres verdadeiros querem dizer ‘vamos sonhar’, falam: ‘vamos lutar’" (Subc. Marcos - Chiapas, México).
A globalização oficial (e comercial) nos oferece continuamente um único modelo de pessoa, de sociedade, de cultura, de mercado, de pensamento, de felicidade... E nós, ávidos consumidores de novidades, compramos pensando ser o primeiro, o original e único, e realmente é um modelo único, não por sua exclusividade, mas por ser o mesmo para todos os homens e mulheres deste mundo, pelo menos para todos aqueles com capacidade e vontade para comprar.
No meio dessa globalização do ‘modelo único’ é agradável escutar vozes dissonantes, nos convidando a refletir, nos questionando nos nossos fundamentos existenciais, nos oferecendo a possibilidade de enxergar e interpretar o mundo desde um ponto de vista diferente do oficial. E talvez nos perguntemos: o que tudo isto tem a ver com a gente? Resposta telegráfica desde as chaves da nossa identidade: Colégio São Miguel Arcanjo (“Educar é libertar”) dos Padres Escolápios (“Educar evangelizando para transformar a sociedade”).
A nossa razão de ser é educar pessoas livres, integralmente formadas para serem responsáveis, competentes e felizes em todas as dimensões de sua realidade pessoal e de sua vida, com um projeto de vida inspirado nos valores de Jesus de Nazaré (justiça, paz, fraternidade), sujeitos de uma sociedade mais justa e solidária.
E daí nasce o questionamento: será que estamos educando na esperança e com a convicção de que um mundo melhor é possível, que uma pessoa mais livre e feliz é possível? Será que queremos alimentar com sonhos o coração das crianças e jovens, ou estamos, talvez sem sermos conscientes, tão empanturrados do modelo único que já não sabemos nem podemos enxergar a realidade com outros olhos? Realmente nos interessa que este mundo mude ou é melhor deixar ele assim como está?
O modelo único (de pessoa, sociedade, mundo, política, economia, pensamento, felicidade, diversão, escola...) vai se impondo também no mundo educativo (sempre disfarçado, com diferentes aparências e nomes), nos colocando, sem percebermos, no caminho único da concorrência empresarial, da excelência mercantilista, da mediocridade existencial.
Os que sonhamos, acreditamos e trabalhamos por uma pessoa e um mundo melhor para todos os homens e mulheres devemos estar de olho, porque até a educação (“melhor forma de servir a Deus, fazendo o bem às crianças mais pobres”, em palavras de São José de Calasanz), semente de um futuro melhor, pode se transformar facilmente numa fábrica de clones, reproduzindo a mesma realidade que questionamos.
Que São José de Calasanz (pedagogo e evangelizador incansável, inovador, criativo e sempre insatisfeito reformador) nos conserve a fé e o esforço por fazer acontecer o Reino de Deus através da educação.
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