28 de outubro de 2010

Fica calada e escuta

fica calada...
não digas nada...

deixa que o mundo te descubra
que a confiança cresça
que te perceba atenta...
tem séculos querendo gritar para alguém

fica calada e escuta...
o clamor de quem nunca foi escutado
o pranto de quem desconhece a alegria
a voz de quem sempre foi silenciado

fica calada e escuta...
descobrirás a força dos que lutam
a esperança dos que cantam
o amor dos que choram

fica calada e escuta...
a vida que desabrocha
a ternura que floresce
o carinho que desponta

fica calada e escuta...
o coração do universo gritando
o coração da terra gemendo
o coração da vida chamando

fica calada e escuta...
teu nome é cantado e chorado
tu estás no seio da vida
no ventre fértil que gera o futuro

fica calada e escuta...
no silêncio encontrarás teu canto
e no canto descobrirás a vida
28/10/2010

23 de outubro de 2010

Palestra: "Reavivar minha vocação de educador/a".

Disponibilizo aqui o material da palestra oferecida em Pouso Alegre, no evento organizado pela Secretaria de Educação como homenagem a professores/as da rede municipal. Trata-se da última apresentação das três que foram usadas, com o título "Reavivar minha vocação de educador/a", em formato PDF. Clicar aqui.

15 de outubro de 2010

Problemas complexos requerem soluções abrangentes.

Estamos assistindo nestes dias, por causa do segundo turno das eleições para a presidência da República, um debate superficial sobre o tema do aborto. Interesses políticos, econômicos, religiosos se misturam no confronto. Na verdade, nem de debate se trata, mas de uma campanha desleal e difamante que usa o tema do aborto como bandeira, para atingir o coração principalmente dos/as católicos/as, em busca dos seus votos (continua...).
Não quero entrar em detalhes legais, médicos ou éticos para justificar ou defender o aborto, nem o contrário. Quero oferecer alguns questionamentos sobre a manipulação que se faz deste tema, desta realidade dramática. 
Não resulta curioso que sejam os setores mais conservadores da sociedade e da Igreja (que nunca se preocuparam com a maioria pobre do país e do mundo) os que mais rejeitam a mudança na lei sobre o aborto?
Por que não se investem os esforços, energias e recursos que se dedicam a lutar contra o aborto (defendendo a vida dos não nascidos) para defender, proteger e garantir também a vida digna dos já nascidos, abortado em vida, de milhões de seres humanos condenados a sobreviver como animais? Está claro, é muito mais fácil defender a vida daqueles que não dependerão de mim. A final de contas, a criança por nascer será responsabilidade única da mãe... que se vire! Mas esses milhões de empobrecidos/as, seu futuro e sua dignidade dependem fundamentalmente da distribuição justa das riquezas, do uso racional e solidário dos recursos... sua vida, por tanto, depende de mim! Aí não... É fácil defender a vida que não questiona, nem mexe, nem condiciona minha forma de viver. É fácil defender a vida, quando esta nada tem a ver comigo.
A lei vigente já não responde às necessidades e condições da realidade atual. Mudar a lei e elaborar uma nova significa iniciar um debate nacional que, como toda troca de ideias, pode ser muito enriquecedor para a sociedade toda. Quem tem medo de pensar? Quem prega em homilias e palestras que não devemos pensar, senão aceitar cegamente o que “mestres e doutores” falam para nós? Quem rejeita uma teologia dialogante, aberta e criativa, propondo como teologia única a transmissão de verdades, sem discussão nem questionamentos?
Sabemos que as causas e consequências do aborto não são superficiais. Como sacerdote, tenho recebido e acompanhado a não poucas mulheres grávidas que queriam praticar um aborto, e outras que já  tinham praticado. O que essas mulheres vivem é dramático. Somente colocando-nos no seu lugar poderemos começar a imaginar o que sentem, seus sofrimentos e a dor causada pela experiência de morte que vivem. Banalizamos o aborto quando esquecemos a mulher e olhamos somente os dogmas, tópicos gerais que não expressam nada, mas que enchem a boca de quem os proclama. Em todas as situações de possível aborto existem, pelo menos, duas vidas que devem ser escutadas, atendidas, amadas e protegidas.
O aborto é, nestes momentos, um dos problemas mais complexos que existem na nossa sociedade. São inúmeras as variantes, condições, necessidades, carências, limitações e possibilidades que existem e que fazem que, cada caso, seja único. Um problema tão complexo não pode ter uma solução simples: “sim ao aborto em todos os casos” ou “não ao aborto em todos os casos”. Hoje precisamos de leis abrangentes, que contemplem o maior número possível de variantes, que respondam a todas as situações possíveis. Quando nos envolvemos em problemas complexos, percebemos rapidamente que as soluções não são simples nem automáticas. Na problemática do aborto se combinam múltiplas variáveis, de tipo legal, médico, ético, cultural, religioso, econômico... Um problema tão complexo não pode ser resolvido com um simples sim ou não.
Como acabo de expressar e denunciar, até um posicionamento radicalmente contrário ao aborto, por motivos religiosos e éticos, pode estar condicionado por interesses econômicos e políticos de classe. Defendemos a vida desde a sua concepção até o momento final... mas só de uns poucos, daqueles que não complicarão minha vida, meu nível econômico, meus privilégios e tranquilidade. Muitos deles nascerão, porque nós defendemos sua vida, para serem condenados a sobreviver como abortos em vida. Ah, mas esse problema já não é mais comigo, esse é um outro departamento.

8 de outubro de 2010

Deus olha pra mim... E simplesmente sorri

Tantas angustias, tantos medos, tantos fantasmas,
tanta escuridão pela que deambulo,
sem saber se realmente encontrei a bondade,
sem achar melhores respostas.
Gritando em silêncio, chorando por dentro,
sem coragem para sair correndo
com forças só para alçar a vista,
e aí, no mais alto, expectante
descubro sua silenciosa presença,
com os braços estendidos e o coração aberto...
e Deus olha pra mim... e simplesmente... sorri.
(versão do original de 1-10-98)

1 de outubro de 2010

Sentir e viver

Olha o mundo e canta
Que a dor não abafe o coração que sangra
Escuta o céu e grita
Que o silêncio não mate a consciência que acorda
Toca a vida e chora
Que o frio não adormeça a ternura que germina
Saboreia a morte e dança
Que a noite não esqueça do amor que desponta