25 de julho de 2011

Sobre a nossa natureza

Com quais materiais nos fizeram
Quando teceram nossas entranhas
E modelaram nossos sentidos?

Quais as palavras que nos gestaram
Quando se formava nossa sensibilidade
E se construía nossa consciência?

Quais olhares nos iluminaram
Quando tateávamos caminhos
E se desenhavam nossos mapas?

Com quais afetos nos alimentaram
Quando enraizava nossa estima
E se erguia cintilante o amor?

Quais as mãos que nos guiaram
Quando nos aventuramos na vida
E o horizonte invadiu nosso anseio?

Quem continua velando nossa viagem
Quando erramos nossas escolhas
E sentimos que o futuro nos espanta?

18 de julho de 2011

Conselho final


Toca o céu com teu olhar
Procurando estrelas e horizontes
Não te conformes com a poeira
Arremessada em cada passo
Cansado e trêmulo caminhar
De quem perdeu a esperança

Mergulha ávido na tua dor
Até achar a mais clara verdade
Não te resignes com as palavras
Proferidas qual afiada seta
Consciência e espírito feridos
Por quem congelou a ternura

14 de julho de 2011

Mundo próprio

É necessário olhar no íntimo
Aventurar-se nas entranhas do ego
Para advertir agradecido
O manancial que me alimenta
A luz que me orienta
E os amores que me sustentam

A natureza que se transforma
A vida que se recria
Em uma dança inteligente
Um elogio da beleza
Que comove o espírito
E amolece a ira

A capacidade humana
Para transformar o mundo
Num “re” criativo e fecundo
Reinterpretar
Remodelar
Reinventar
Uma inteligência menina
Que não dá sossego nem descansa
Na descoberta diária do universo

O coração vibrante
Ímpeto e energia a serviço da vida
Delicadeza e ternura nas mãos amigas
Um coração que sorri e chora
Se apaixona e sofre
Que canta e dança
Ao escutar alguns nomes
Que se endurece e fecha
Diante da violência e da morte

E finalmente a memória
Do que foi vivido e sofrido
Do que me enriquece e anima
Das esperanças partilhadas
Das histórias construídas
Memória que modela meu ser
Lembranças, sonhos, rostos
Daqueles que me criaram
Dos que trabalharam minha massa
Dos que entregaram tudo de graça
Dos amores que proclamam
Que a vida é digna quando se ama

11 de julho de 2011

Teimosa esperança

Nem as trevas
Nem os silêncios
Nem as mágoas
Nem os medos
Far-me-ão desistir
Desta busca incessante
Desta aventura sem fim

Contra a correnteza da rotina
Contra o vento do desânimo
Contra tempestades de intriga
Contra furacões de gelo
Persistirei obstinado
Procurando um sentido
Procurando um futuro

Por cima de ciladas
Por cima de temores
Por cima de ameaças
Por cima de rumores
Erguer-me-ei em desacato
Com o punho em alto
Com o coração em canto

8 de julho de 2011

Ai!

Oswaldo Guayasamín
Ai! Quem sentira como própria
A dor de tantas vidas truncadas
Das almas eternamente esquecidas
Neste império da autossuficiência

Ai! Quem assumira com ternura
Os sonhos das vidas condenadas
Dos que nunca sentirão a dita
De construir com esforço suas vidas

Ai! Quem oferecera esperança
Àqueles que se arrastam nas trevas
Sem horizonte nem ventura
Nesta noite que se pressagia eterna

Ai! Quem contemplara com lágrimas
Este mundo que se desmancha
Com a marreta da indiferença
E a ilusão da prosperidade própria

4 de julho de 2011

Sem deter o passo

Ascende
Eleva o espírito
Respira fundo os nomes e os rostos
Abraça tuas sombras
E continua a caminho
Que nada detenha teu ímpeto
Que ninguém abafe teu canto
Uma plêiade de sonhadores te espera
Deixa te aconchegarem com afeto
Deixa te alimentarem com respeito

Corre até perfurar os ventos
Até fusionar os medos
Até diluir o horizonte no eterno
Não olhes as pedras nem os muros
As estrelas guiarão teu curso
Meus versos acompanharão teu esforço

E quando sintas que o fim se afasta
Que a esperança enfraquece
E o passado estagnado refreia o passo
Lê e canta os sons do coração
A memória das carícias
Que aguçaram os sentidos
E aqueceram nossos gelos
Resgata os sonhos adormecidos
E os projetos postergados
E confia cegamente
Na mão firme que sustenta tua vida
No amor que te recebe cada noite
E nesta alma que por ti vela