21 de fevereiro de 2014

A festa dos idiotas

Cantamos sem refletir
Comemos sem digerir
Beijamos sem saborear
Amamos sem renunciar

Na festa dos idiotas
Nada tem sentido
Tudo virou automático
Sem criatividade
Nem espontaneidade
Alienado rito tragicômico
Repetido até a extenuação

Na festa dos idiotas
Os mais espertos têm a batuta
E dirigem a orquestra
Sem jeito nem maneira
Enquanto os idiotas da vida
Arrastam seus passos
Num frenesi alcoolizado
Num delírio narcotizado

Na festa dos idiotas
Palavras vazias
Enfeitam as paredes e as salas
Enchendo os olhos 
De fascinados leitores
Que engolem a vida
Sem questionar nem sentir

Na festa dos idiotas
A ideologia é servida
Em sedutores pratos
De manjares exóticos
Enquanto empapuçados convidados
Dormitam recostados
Sobre a miséria do mundo

Existimos sem rumo
Dançamos sem gosto
Sofremos sem pranto
Morreremos sem luto

14 de fevereiro de 2014

Me chamarão de louco

Me chamarão de louco
Por sonhar com estrelas impossíveis
Por desenhar florestas no deserto
Por perguntar aos ventos
Quem causou esta barbárie

Me chamarão de louco
Por erguer o rosto ao chegar a tempestade
Por resistir em silêncio agravos e calúnias
Por semear no crepúsculo
Harmonias íntimas de amor e de luta

Me chamarão de louco
Por confiar ainda na bondade humana
Por esperar cada noite o renascer do dia
Por proclamar aos gritos
Que a vida está viva no coração da gente

5 de fevereiro de 2014

Caminhei silencioso

Caminhei silencioso
Para não acordar os ventos
Para não alertar as estrelas
Para não acender o sol

Caminhei silencioso
No meio de sombras
No meio das presas
No meio da dor

Caminhei silencioso
Sem procurar um destino
Sem olhar o vizinho
Sem importar o suor

Caminhei silencioso
Confiando nos sonhos
Confiando nos outros
Confiando em vão

Caminhei silencioso
Passo a passo pela vida
Passo a passo pelo mundo
Passo a passo pela fé