31 de dezembro de 2012

O eco


Uma história nas costas
Um sonho na pupila
Um germe no coração

Esforço cotidiano
Esperança semeada
Confiança oferecida

Gritos compartilhados
Lamentos reprimidos
Ofensas digeridas

Murchou-se a flor da manhã
Uma geada estéril tomou conta
As estrelas tornaram-se noite

Para que continuar cantando
Para quem espalhar meus versos
Se afinal somente o eco me responde?

24 de dezembro de 2012

Grávido


Como tornado imprevisto
Agitando meu interior
Como criança ansiosa
Abrindo caminhos para nascer

Como vulcão impetuoso
Expelindo o coração do mundo
São os sentimentos que me dominam
Contorcendo cruelmente minha vida

Grávido
Estou grávido
Inesperadamente
Assustadoramente

Fiquei grávido da Utopia
Essa senhora sempre nova
Que me seduz e encanta
Com ilusões palpáveis

Engravidei sem duvidar
Puxado pelo coração amante
Num fervilhar de sonhos possíveis
Arrebatado pelo céu vindouro

E quando a criatura se formava
Surgiu a palavra indesejada
E afastou-me da vida que tecia
Condenando-me à solidão fecunda

Agora estou grávido de angústia
Pelas sendas não percorridas
Pelas ideias não semeadas
Pelos sonhos que fugiram

Estou grávido de tristeza
Por tanta semente sem germinar
Por tanto esforço sem futuro
Por tanta herança não repartida

Estou grávido de raiva
Pelas lutas em que me envolveram
Por sofrer o destino dos dissidentes
Por ter que extinguir este amor gestante

17 de dezembro de 2012

Advento


Arrancarão do coração o sonho
E a vida se esvaziará sem sentido
Pausadamente
Inexoravelmente

Chegarão lógicas e explicações
Mas a dor não sabe de raciocínios
Terrivelmente
Inevitavelmente

Afastarão a seiva que me nutre
Transformando-me em terra ressequida
Solitariamente
Inexplicavelmente

Arrastar-me-ão como bicho desprezível
Arrebatando-me o sangue que me ergue
Sigilosamente
Impiedosamente

Mas ressurgirei da vergonha e do fracasso
Proclamando aos ventos o que amo
Irredutivelmente
Agradecidamente

10 de dezembro de 2012

Dolorosas obviedades


A flor murcha
Quando a raiz adoece

O medo impera
No coração atribulado

A razão se desvanece
Com cada palavra que fere

A esperança definha
Quando o orgulho governa

As sombras festejam
Quando o sol declina

A angústia congela
As asas dos sonhos

A noite se alastra
Obrigando o dia a fugir

O amor é uma frágil pena
Sacudida pela soberba

3 de dezembro de 2012

Condenados


Como onda violenta
Que arrasta o fundo
E faz borbulhar a pele

Como tornado repentino
Que arrasa a superfície
E arranca pela raiz a vida

Como tempestade de verão
Que engole a luz do dia
E transforma o céu em mar

Assim são a raiva e a impotência
Que habitam no coração ferido
Quando a mentira e a ofensa
Tomam conta do mundo
Afastando-nos dos sonhos
E condenando-nos ao pranto

26 de novembro de 2012

Apátrida

No país dos idiotas
É honrado e aclamado
Quem manipula os desejos
E submete a coragem

No império dos ignorantes
Somente os surdos
Sobrevivem ao temporal
De ofensas e sarcasmos

Na pátria dos soberbos
O carnaval é diário
Tabuleiro perfeito
Para bajuladores e falsos

19 de novembro de 2012

Uma pedra e outra pedra


Uma pedra
E outra pedra
Um míssil estrelado
Aniquila sem piedade
Uma família palestina

Uma pedra
E outra pedra
Uma bala perdida
Arrasta pelo chão da morte
Mais uma criança carioca

Uma pedra
E outra pedra
Os mercenários do império
Arrasam um povoado
Na sua faxina afegane

Uma pedra
E outra pedra
Crianças adestradas
Como máquinas de extermínio
Dessangram o coração da África

Uma pedra
E outra pedra
Os bancos e seus capangas
Impassíveis amarram a corda
Que enforcará a vida
De um despejado na Espanha

Uma pedra
E outra pedra
Gordos e ricos fazendeiros
Maquinam armadilhas legais
Para exterminar seus irmãos índios

Uma pedra
E outra pedra
Que não lapidem nosso coração
Alcemos nossa consciência
E vomitemos vergonha

Uma pedra
E outra pedra
Com todas as mãos na massa
Edifiquemos a dignidade
Desta humanidade estuprada

12 de novembro de 2012

Variações


A mão aberta
O olhar profundo
O passo firme
A voz terna
O ouvido atento
O sorriso franco
O coração disposto

A mão firme
O olhar atento
O passo disposto
A voz franca
O ouvido profundo
O sorriso terno
O coração aberto

Combinações
Variações
Decisões

5 de novembro de 2012

A missão do poeta

Não direi nada novo
Não revelarei mistérios
Nem propagarei segredos
Simplesmente darei voz
Aos sentimentos que nos afogam
Às esperanças que nos nutrem
E aos amores que nos sustentam
Gritarei em solidariedade rebelde
A dor de quem não conta
O silêncio imposto
E a raiva contida
De quem habita a noite
Cantarei com todas as vozes
Em todas as línguas
E com todas as cores
Que a vida é uma dança
Quando o coração nos guia
Que as espinhas nunca abafarão
A fragrância das rosas
E que o sol retornará do exílio
Quando derrotarmos as trevas

29 de outubro de 2012

As cores da vida


Com todos os tons
Todos os matizes
E todas as misturas
Assim é o mundo
Assim é a vida
Que sonho e construo

Azul escuro
É o esforço das minhas lutas
Como o oceano infinito
Onde repousa a utopia

Verde floresta
É a justiça que persigo
Para que a vida floresça
No coração mais árido

Vermelho intenso
São os sorrisos e abraços
Que acendem nossa alma
Quando o inverno nos cerca

Amarelo pálido
São as perguntas que nos guiam
Diversas e eternas
Para nunca desistir da viagem

Alaranjado luminoso
São os frutos da paz semeada
Nascendo dentre as trevas
Anunciando o dia que germina

Branco imaculado
É o coração de quem ama
Reunindo num só gesto
Todas as cores da vida

22 de outubro de 2012

Sol nascente


Afasta de ti as trevas
E permite que o dia floresça
Arreda as estrelas e as ilusões
Que a manhã refulgente
Desabroche no teu inverno

Não alimentes os fantasmas
Que habitam tuas sombras
Não deixes que seus gritos
Silenciem a melodia
Do teu coração vibrante

Abre as portas do céu
Convida a noite a fugir por elas
Abraça o fogo que em ti lateja
Deixa que o amor te deslumbre
E a confiança te conquiste

Que nada murche tua alegria
Nem os frios nem as penas
Esculpe um berço no teu peito
Para o sol morar sempre nele
Inflamando o que te faz viver

15 de outubro de 2012

Um sonho no meu coração


Os anjos sabem que muitos homens pragmáticos
ganham o pão com o suor do rosto do sonhador.
Gibrán Khalil Gibrán (Areia e espuma. 1926)

Numa travessura das estrelas
Uma delas esqueceu um sonho
No fundo do meu coração

Com a luz do dia o descobri
Tímido e apoucado
Enroscado no meu interior

- Não temas nem fujas
Neste meu coração humilde
Poderás germinar se quiseres

- Que o amor e a esperança
Sejam a terra fecunda
Que abrace e nutra as tuas raízes

- Que tuas flores e frutos
Sustentem minhas forças
Nas compridas noites do inverno

- Que tua luz eterna
Guie meus trêmulos passos
Rumo ao céu que te viu nascer

- E no definhar do meu caminho
Emocionado e agradecido
Devolver-te-ei ao colo que te gerou

8 de outubro de 2012

As vozes do porão


Desde a negritude deste mundo
Desde a feminidade da dor
Nos porões desta desumanidade
Escuto impotente e revoltado
Os sons que alimentam este inferno:
É a indiferença que fere
A gargalhada que vexa
O ouro que explora
A palavra que violenta
O olhar que humilha
A mão que tortura

É o menino soldado no Sudão
O mineiro escravo no Congo
A menina vendida na Indonésia
O camponês explorado no Brasil
A trabalhadora extenuada no Paquistão
O ilegal perseguido na Europa

As senzalas deste mundo
Continuam abertas e sangrantes
Tatuando os corpos de milhões
Com os sinais da violência
E do desprezo
Semeando a indignidade
Coletando a morte

Desde a negritude e a feminidade
Deste sistema cruel
Eleva-se um grito de insurreição
Um clamor que penetra no coração
De quem ainda sente a humanidade
Na própria pele

4 de outubro de 2012

Democracia

Numa escolha
O futuro
Numa decisão 
A dignidade
Numa oportunidade
A liberdade

Nem as ordens do fortão
Nem o ouro do ricaço
Nem os muros do arrogante
Nem as armas do brutão

Pelos que não são consultados
Pelos que não decidem
Pelos que ninguém considera
Pelos que somente sofrem

Para que a vida
Se torne humana
Para que a justiça
Se descubra viva

Numa escolha 
A possibilidade
Numa decisão
A responsabilidade
Numa oportunidade
A solidariedade 

1 de outubro de 2012

Andorinha atrevida


Uma andorinha atrevida
Me visita cada aurora
E sem licença nem recato
Rouba um por um
Meus sentimentos

Nestes dias perguntei curioso
– O que você faz
Andorinha abusada
Com as minhas emoções?
E ela sorriu descarada

– Peguei sua raiva
E a levei para bem longe
Até as gélidas paisagens
De eternas neves
Onde repousará adormecida
Até o dia que precise dela

– Sua tristeza teve como destino
O imenso e escuro oceano
E como era tão pesada
Afundou num instante
Lá deve estar afligindo as marés

–  Quando apanhei sua alegria
O céu se tornou uma festa
Todas as estrelas queriam recebê-la
Para cuidar dela com carinho
Tive que dividi-la entre todas
Até iluminar para sempre nossas noites

– A sua ternura até agradeceu pelo passeio
Me abraçou com tanta delicadeza
Que derreteu meu coração
A deixei bem pertinho da lua
Para que a noite se torne carícia
Afugentando os medos e a solidão

– Também recolhi sua misericórdia
Me pareceu uma verdadeira gracinha
Enquanto agitava as asas ela me animava
Encorajando-me na fadiga
Vou semeá-la nos corações
Para que a vida de todos floresça

24 de setembro de 2012

No silêncio rebelde


No silêncio rebelde
Conspiram os sonhos
Maquinando a estratégia
Para a insurreição dos simples

Não agitam bandeiras
Nem proferem promessas
Aprenderam sofrendo
A não se entregar a ilusões

A paciência é sua arma
Contra a astúcia dos fortes
O peso que carregam
Os transformará em gigantes

No silêncio rebelde
Conspiram os simples
Maquinando os sonhos
Que insurgirão o presente

17 de setembro de 2012

Desconhecido


Desconheço os olhos
Que um dia me modelaram
As mãos que me reconheceram
E os lábios que me receberam
Ignoro com qual material me forjaram
Em quais paisagens se inspiraram
Com quais formas me contornaram
Não decifro os fios com que me teceram
Nem a trama que me configura
Sou um estranho para mim mesmo
Um estrangeiro no seu próprio corpo
Um apátrida escravo na sua terra
Quanto mais me adentro nestas grutas
Por veredas e sendeiros sempre novos
Mais me assustam os vertiginosos descensos
As eternas e sufocantes ascensões
E os horizontes sempre inalcançáveis
Qual o meu fundo e o meu destino?
Qual a minha origem e a minha essência?
Para que a minha terra e os meus fantasmas?
Para quem o meu sangue e os meus poemas?
Sou sem saber e vivo sem querer
Desconheço os olhos
Que um dia me acolherão
As mãos que me resgatarão
E os lábios que me abraçarão

10 de setembro de 2012

Em nome dos sem nome


Em nome daqueles
Que não têm nome
Nem verbo
Nem rosto
Nem sonho

Em nome daqueles
Que não têm força
Nem luta
Nem arma
Nem causa

Em nome daqueles
Que não têm posse
Nem raça
Nem terra
Nem vida

Em nome daqueles
Que não podem nada
Que não lucram nada
Que não vendem nada
Que não deixam nada

Em seu nome arguo
Sem achar resposta
Em seu nome canto
Sem poupar esforços
Sem evitar o pranto

3 de setembro de 2012

Até acordar a terra


Fecha o punho
Até doer a vida
Alça a voz
Até abafar o vento
Aperta o passo
Até acordar a terra

Um novo dia
Está se tecendo
Um novo amanhã
Está sendo gerado
Com esperança inabalável
Com fúria irrefreável

Que o céu estrelado
Se faça eterno
Na força do teu olhar

Que o horizonte sonhado
Se torne próximo
Com cada luta sem abandonar

27 de agosto de 2012

Finalmente


Na memória
Paisagens eternas
Dolorosas jornadas
Mágicos ocasos

No olhar
Horizontes abertos
Tímidas estrelas
Coloridas auroras

No sangue
Furacões impetuosos
Generosas entregas
Saudosos combates

Na voz
Discursos apaixonados
Trêmulas melodias
Esquivos afetos

Na memória
No olhar
No sangue
Na voz
Uma vida agradecida
Um sonho semeado
Um tesouro recebido
Um amor imerecido

20 de agosto de 2012

O silêncio

O silêncio
Tentação ou ameaça?
Condenação ou oportunidade?
Deserto ou vale fértil?

O silêncio
Assalta-me como ladrão noturno
Invadindo as instâncias mais íntimas
Deste coração tímido

O silêncio
Chega como impetuoso temporal
Dissipando as marcas do ardente verão
Deste coração ferido

O silêncio
Surge devagarinho como broto na terra
Acalmando as afrontas e revoltas
Deste coração rebelde

O silêncio
Angústia ou esperança?
Pergunta ou resposta?
Destino ou escolha?

13 de agosto de 2012

ABCD


Alcemos as mãos e recebamos a esperança nascente
Batamos os pés no chão para acordar o caminho
Cantemos os hinos da nossa identidade
Deixemos para sempre os medos e as angústias

Aproxima-se um novo e feliz dia no horizonte
Balbuciando os verbos que construirão o futuro
Conquistando a dignidade e o amor que nos furtaram
Devolvendo a luz que iluminará nossas lutas

Abramos sem temor as portas do amanhã
Brindemos jubilosos pela terra avistada
Conciliemos nossos sonhos com um forte nó
Despreguemos as velas para os novos ventos que virão

Abracemos as estrelas antes que o dia as extinga
Bebamos de um trago as raivas e as ofensas
Coloquemos no seu lugar o sol que eclipsaram
Dissipemos as dúvidas e semeemos o céu em cada passo

5 de agosto de 2012

Contam as estrelas


Contam as estrelas
Para quem sabe escutá-las
Que no mais profundo deste planeta
Em silenciosa e irrefreável agitação
O fogo e a rocha se fundem
balançam e contorcem
Como eternos e jovens amantes
Nem as geladas neves boreais
Nem os abrasadores desertos
Nem o persistente pranto tropical
Lograram esmorecer seu amor queimante

Contam as estrelas
Para quem gosta de atendê-las
Que no mais profundo de cada ser
Em rítmica e interminável pulsação
O afeto e a cordura se debatem
Desafiam e enredam
Como ignorados e velhos vizinhos
Nem os antigos sermões moralistas
Nem as inteligentes lições dos mestres
Nem a ameaça dos ardentes infernos
Serviram para compassar sua dança frenética

30 de julho de 2012

Chega logo

Chega logo vento de agosto
E arranca com tua fúria
As pesadas correntes
Que nos impôs a noite

Chega rápido e disposto
Antes que as cruéis sombras
Extingam definitivamente o dia
Dissipando para sempre a esperança

Chega com tua mão firme
E tua voz implacável
Desafiando as argúcias e boatos
De quem queimou nossos sonhos

Chega com o coração na frente
Para que não seja a raiva
Quem lidere a batalha
E acabe trocando mau por ruim

Chega empunhando o perdão
Para que as mentiras e ofensas
Que semearam nas trevas
Cedam espaço aos abraços e às flores

9 de julho de 2012

No mais profundo de ti

No mais profundo do teu olhar
Posso intuir o universo
O celestial e desconhecido espaço
Por onde, qual vagalumes errantes
Se deslizam teus sentimentos
E cintila tua candura

No mais profundo do teu verbo
Imagino oceanos infinitos
Calmos ou arrebatados mares
Por onde, quais dançarinos cardumes
Se agitam tuas esperanças
E revivem teus sonhos

No mais profundo de ti
Um novo dia está germinando
Uma aurora de radiante júbilo
Um sol de arrebatadora justiça
Uma terra semeada de paz
E um anoitecer de agradecido amor

2 de julho de 2012

Pergunta


Pergunta aos ventos
De onde eles procedem
Qual o destino que os aguarda

Pergunta ao fogo
Por quem arde no seu íntimo
O que se forja no seu seio

Pergunta aos mares
Quem agita suas profundezas
Onde repousam suas tempestades

Pergunta às estrelas
Quando acenderam seus rostos
Quem aquece agora sua solidão

Pergunta ao teu coração
Por quem sonhas e cantas todo dia
O que te faz persistir neste turbilhão

25 de junho de 2012

O lar da vida


Num sorriso inocente
Numa lágrima meiga
Num gesto de ternura
Ou num silêncio solidário
Intuo um universo de sentido
Um horizonte infinito
Que me convida à confiança
Avivando minha coragem

Nos palcos e altares
Nas batalhas e vitórias
Nos méritos e conquistas
Descubro um mundo de falsidade
Palavras e reproches artificiais
Estrategicamente desenhados
Que ameaçam e intimidam
Até sufocarem a esperança

18 de junho de 2012

Deixa que explique

Arrastando a vida
Pelo chão do mundo
Descubro as perguntas
Que animam meus passos

Entoando as notas
Que o céu compõe
Sinto-me revigorado
Numa sinfonia de amor eterno

Escrutando o íntimo
Do coração humano
Intuo o propósito
Que me mantém vivo

11 de junho de 2012

Aprenderei sofrendo


E aprenderei somente sofrendo
Deixando a pele em cada passo
Arrastando a vida em cada ocaso
Recolhendo o sangue de cada luta

Aprenderei como sempre sofrendo
Voltando para casa exausto e ferido
Depois de enfrentar tempestades e iras
Depois de vagar entre espinhos e pedras

Aprenderei mais uma vez sofrendo
Tragando sem reclamo as raivas
Cuspindo aos prantos o orgulho
Guardando no silêncio os medos

Aprenderei mesmo sofrendo
E erguerei novamente meus punhos
Semeando aos ventos meus versos
Até florescerem na consciência do mundo

4 de junho de 2012

A dor nossa de cada dia


Dói a alma
Quando alguém inclemente reabre as velhas feridas
E as escuras nuvens que arruinaram o passado
Novamente ensombrecem o horizonte

Dói a vida
Quando o orgulho dilacera nossos sonhos
E desaparecem no céu as estrelas
Que em outro tempo guiaram os meus passos

Dói o sangue
Quando a mentira invade nossas veias
E como câncer toma conta da esperança
Decompondo as poucas forças que ainda tinha

Dói a raiva
Quando o silêncio se impõe sobre o direito
E o coração se afoga chorando no escondido
Regando com dor os brotos que florirão no futuro

28 de maio de 2012

Nas encruzilhadas da vida


Com cada escolha
Que fazemos na vida
Uma chuva de contradições
Invadem nosso coração
Todo passo adiante
Deixa sempre uma sombra atrás
Uma descoberta e uma perda
Uma expectativa que nasce
E uma carga de remorsos nas costas
Uma vasta paisagem cada manhã
E um anoitecer com gosto de saudade
Um horizonte novo para conquistar
E um passado latejante que aceitar

Com cada decisão
Um medo e uma esperança
Um respiro e uma dúvida
Uma ocasião e um pesar
Um pedido de desculpa
E um agradecido amém.

21 de maio de 2012

Maturidade


Desde o topo da vida
Começo a intuir o fim
Quando as luzes se extingam
E as vozes se percam na noite

Com um olhar passageiro
Se faz releitura dos passos
Quanto deserto inalterado
E que pouca vida germinada!

Outros dirão que não é certo
Que foi uma aventura única
Mas o coração continua exausto
Afogado na sede do eterno

Chegado ao fim das tentativas
Me seguro nas derradeiras forças
Revivendo comovido os sonhos
Agradecendo a vida entregada

14 de maio de 2012

Imerso na contradição


O sol que nos aquece
É o sol que resseca

A água que revitaliza
É a água que nos afoga

As flores que embelezam
São as flores que murcham

As nuvens que aliviam
São as nuvens que nos entristecem

O afeto que comove
É o afeto que nos desvela

O coração que sonha
É o coração que se acanha

O abraço que nos sustenta
É o abraço que nos prende

9 de maio de 2012

O tesouro da cotidianidade


Gritos e gargalhadas atravessam cada dia nosso espaço, invadindo salas, revoando entre as árvores e inundando o nosso ar. É a vida acontecendo neste pequeno universo escolar. É a felicidade tomando conta das crianças. É um reflexo do mundo que sonhamos. (Continuar lendo...)



Numa sala de aula o debate se aviva entre os alunos e o professor, a atualidade é analisada criticamente. Um tema polêmico, ideias divergentes, propostas e soluções, o futuro desejado começa a ser construído agora, na formação da consciência pessoal, na reflexão compartilhada e no diálogo formativo.


Uma turminha de "beija-flores" (alunos/as da pré-escola) cruza o pátio rumo à biblioteca. Nos rostos sorridentes se intui a ansiedade, qual história os surpreenderá hoje? Mais uma vez mergulharão no mundo imaginário das palavras, em que pessoas, animais, plantas, coisas... tudo ganha vida! As melhores atitudes e os valores mais humanos vão consolidando-se como alicerces na vida das crianças. 

As torcidas animam aos gritos suas equipes. Parece que temos um jogo quente no ginásio. Rivais no esporte e parceiros na vida. Os jogos são um laboratório para a vida. Neles aprendemos o valor do esforço, da colaboração com os outros, do aproveitamento das melhores capacidades de cada jogador, das regras que nos obrigam a agir de forma justa, do sacrifício pessoal para bem de todos e do respeito sagrado ao rival. Entregar a vida em cada jogo e aprender a viver para que ganhemos todos, esse é o desafio.

Alegria, cansaço, entusiasmo, preocupação, esperança, agradecimento... os rostos dos/as funcionários/as (todos/as educadores/as) são um completo mapa dos sentimentos humanos. Tudo se mistura naqueles que fazem parte ativa desta bonita história. Que ninguém seja espectador do que aqui acontece e que todos/as assumam com responsabilidade sua parte nesta missão é o nosso desejo e esforço.

Em outra sala reina o silêncio, é fácil adivinhar o que está acontecendo. Olhares preocupados, caras sérias, ansiedade e nervosismo perfumam o ambiente. O que seria do ensino sem as clássicas, habituais, “insubstituíveis” e terríveis provas? Não sabemos por que quase ninguém experimentou outras formas, mas será que existem? Com certeza que sim! Afinal, o que queremos é formar pessoas e não simplesmente treinar para a resolução de provas e o sucesso nas avaliações, sempre parciais, desconectadas da vida e incapazes de refletir a qualidade ética da pessoa. E se isto está claro, por que continuamos repetindo velhos e limitados padrões?

A tecnologia vai, aos poucos, configurando o espaço e as práticas escolares. Computadores, lousas, datashows e quem sabe o que chegará no futuro. Nunca uma máquina poderá substituir o professor na necessária e complexa missão de educar. Porém, devemos reconhecer que há muitos professores que poderiam ser perfeitamente substituídos por um computador, porque não educam, simplesmente “ensinam” e, para fazer isso, o computador e a Internet são muito mais eficazes. Evitar que isso aconteça aqui é o nosso compromisso, sabendo que ainda temos muito trabalho pela frente.

A rotina tinge agora nossa atmosfera. Parece que cada dia é como o anterior, que nada muda, que nada novo acontece. Mas somente nessa cotidianidade cinzenta e monótona é que as ideias e os sonhos, os desafios e compromissos, os projetos e as inovações podem se transformar em realidade. Precisamos de estrelas para guiar nossa viagem no meio da escura noite, mas o caminho se faz somente caminhando, com cada pequeno passo, até chegar ao nosso destino, e não simplesmente observando o brilho cativante das inalcançáveis estrelas.

Semeemos nossos sonhos nesta cotidiana monotonia, no solo fértil da insistência. Adubemos com a nossa fidelidade e reguemos a vida com a nossa esperança. Protejamos os rebentos de pragas e tempestades. O futuro começa a se tecer em cada palavra, em cada atitude, em cada gesto. Que o nosso presente cotidiano e rotineiro anuncie e antecipe um futuro feliz e em paz para todas as pessoas.

7 de maio de 2012

Educação


Neste mundo inacabado
Cada ser que surge
Cada coração que inicia
A sublime aventura humana
Desponta um botão de esperança
E um rebento de futuro
Começa a sonhar sua dita

A vida se abre em cada mão
Como um livro virgem
Aguardando as histórias
Que engrossarão seu tesouro

- Reinventa-me! - grita o mundo
- Dá-me novos significados! -
Clama a natureza expectante
Tu tens o poder da criatividade
Uma vida inédita por construir
Para enriquecer o eterno museu
Da nossa genialidade humana

Eu serei tua muleta nos primeiros passos
Uma bússola no oceano das tuas indecisões
O bandeirante no deserto da cotidianidade
O aconchego do lar quando voltes exausto
A força que te encorajará nas noites
E a experiência que te erguerá no fracasso
Eu serei teu EDUCADOR

30 de abril de 2012

As consequências da vida


Uma lágrima banha a pele
De quem se feriu amando

Um calafrio agita o corpo
De quem escolheu ser terno

Um silêncio afoga o gesto
De quem escutou o mundo

Uma estrela brilha no olho
De quem esperou na noite

Um oceano nasce no torso
De quem confiou no outro

Um sorriso ilumina o passo
De quem venceu as sombras

Um verso explica a vida
De quem se doou sem medo

Uma dúvida inunda a terra
De quem tentou abraçar o céu

23 de abril de 2012

Peço desculpas


Por tecer minha vida
Com mil fios coloridos
Sem trama estabelecida
Nem desenho padronizado
Bolando o destino em cada passo
Peço desculpas

Por lançar aos ares
Meus anseios e versos
Livres e intensos como o vento
Sem esperar elogios
Nem sucesso no mercado
Peço desculpas

Por viver inconformado
Carregando o mundo na retina
Sofrendo com as dores injustas
Chorando a vida que se apaga
Por ter nascido humano
Peço desculpas

Por andar em liberdade
Sem amarras nem débitos
Amando cada história
Que a vida me apresenta
Por abraçar até a alma
Peço desculpas

Por deixar esfriar meu fogo
Com os anos e a rotina
Desmontando as bandeiras
Que me orientaram nas lutas
Por me esparramar abatido
Peço desculpas

16 de abril de 2012

Abre a mão

Abre por favor a mão

E recebe com cuidado nela

As lágrimas do meu quebranto

Guarda nela este abatido espírito

Que sem bússola nem mapa

Vaga errante pelos ares

Sem perceber o chão que o alimenta


Abre a mão com delicadeza

E acolhe com carinho nela

Este coração atribulado

Perseguido pelos repetidos fracassos

Castigado por incontáveis fraquezas

Este coração atormentado

Pelas sombras dos próprios medos

9 de abril de 2012

Vida desafinada

Em que momento terrível
Desafinaram minhas cordas
Transformando em amargo trago
Os acordes que me orientavam?

O que extraviou meu canto
E afrouxou meus ventos
Convertendo em teimoso pranto
As notas que acordavam o riso?

Por onde fugiu a harmonia
Das palavras e das cores
Que sustentava minha alma
No fragor das batalhas?

Quem amassou a partitura
Que recolhia minha memória
Destruindo a apaixonada sinfonia
Que me fazia dançar cada dia?

2 de abril de 2012

Acorda

Psiu
Acorda!
Abre os sentidos
Mexe a consciência
É hora de ressurgir das sombras
É tempo de construir os sonhos

Olha a vida que renasce
As flores que sorriem generosas
As aves saudando brincalhonas
O céu aberto em um infinito abraço
É o universo te recebendo
É a vida que te chama

Liberta-te das amarras
Que te acorrentaram ao medo
Joga fora o temor e a dúvida
E abre o coração ao sol nascente
Que cada dia nos convida
A reinventar o mundo

26 de março de 2012

Mundo noturno

Sombras fugazes
Vozes distantes
Reflexos ilusórios
A noite se prolonga impiedosa
O sol fugiu das trevas

Os sonhos exaustos
Abandonaram a luta
Enquanto vitoriosos pesadelos
Os eternos lobos internos
Erguiam seus estandartes

Quem resgatará o sol de sua morte?
Quem descortinará a esperança?
Quem nos devolverá o amanhã?
Achamo-nos conquistadores
Enquanto engatinhamos na vida

A noite do mundo parece invencível
Mas não esqueçamos nunca
Que uma minúscula faísca
Pode acordar o dia e acender a vida
Quando o amor a provoca

19 de março de 2012

Esperança

Alça voo esperança

Que não te paralisem os medos

Nem te intimidem as lutas

Eleva-te e descobre para nós

Os horizontes sempiternos

O infinito firmamento

E as sendas ainda virgens

Que nos conduzirão à vida

Alça a vista e o espírito

Que a lama não prenda teu sonho

Nem os ventos desbaratem teu verso

Semeia as estrelas que nos guiam

Protege os abraços que nos nutrem

E floresçam em acordes

Nossos cantos e bandeiras

12 de março de 2012

Malvivendo

Sem olhar

Sem ouvir

Sem sentir

Mergulhemos na estupidez

Fechemos as janelas

E a consciência

Isolemos nossa pele

Vitoriemos a ignorância

Passemos pelo mundo

Impassíveis e apáticos

Não percamos tempo

Com as dores alheias

Proclamemos o egoísmo

E esbanjemos nossa vida

Enquanto a vida se dessangra

Nos infernos deste mundo

5 de março de 2012

Ergue os olhos

Ergue os olhos
Desafiando o sol
Que não te acovardem
Os fogos sem coração
Nem os brilhos efêmeros

Ergue os olhos
A coragem e a voz
Nem as sombras estridentes
Nem os silêncios infames
Extinguirão teu canto

Ergue os olhos
A alma e os sonhos
E transforma-os em passos
Pequenos e constantes
Até conquistar o céu

27 de fevereiro de 2012

De mãos dadas

Uma mão
E outra mão
Num encontro leve
Sem protocolos
Nem apresentações
Uma carícia ligeira
Uma vida pela frente

Uma mão
E outra mão
Com apertada ternura
Em cumplicidade utópica
Protegidas do frio
Resistindo ao sono
Numa viagem eterna

Uma mão
E outra mão
Num abraço solidário
Numa prece partilhada
Elevando ao céu seus medos
Recolhendo no seio sua história
Escrevendo cada dia o futuro

18 de fevereiro de 2012

Carnaval

Pinta um sorriso no rosto
E continua caminhando
Ninguém perceberá que é falso
Ninguém comprovará se tem raiz
Risca um sorriso e segue adiante
Neste mundo de máscaras
É arriscado ser natural
Desenha um sorriso na tua dor
E aparenta um profundo bem-estar
Não interessa o que se passa por dentro
Ninguém deseja saber de ti
Mas de si próprio contigo
Não estragues o momento
Engole tuas lágrimas e gritos
E mente sem piedade para mim
Prefiro tua falsidade neutral
À tua polêmica verdade
Faz uma careta bonitinha
E todos pensaremos que tu és feliz
E nos sentiremos afortunados contigo
Porque não tocas nossas feridas
Nem desvelas nossas fraquezas
Traça um sorriso na tua consciência
E deixa-nos viver em paz!
...
Não concordas?
Não aceitas?
Sublevemo-nos!

13 de fevereiro de 2012

Universo interior

Grita
Salta
Coração medroso
Não fiques em paz
Enquanto o mundo
Este mundo universo
E nosso universo interior
É ferido e humilhado
Por tanta demagogia homicida
Por cruéis interesses ocultos
Por ciladas de nossa fraca natureza

Não te conformes
Com deixar passar o tempo
Perdendo a vida
Sem rumo e sem fogo
Não te contentes com pouco
Pois o teu infinito interior
Foi semeado de estrelas

Abre as janelas do céu
E adentra-te nos mundos alheios
Nas vidas irmãs
Que se debatem e lutam
Nas almas rebeldes
Que teimam em colorir
Esta paisagem cinza
Que nos acanha o espírito

6 de fevereiro de 2012

Desenha para mim!

- Desenha para mim a esperança!
E os olhos se erguem ávidos
Procurando no infinito
Algum sinal inspirador
Que transforme em luzes e cores
O noturno pesar que me invade

- Desenha para mim a alegria!
E as mãos se abrem generosas
Revivendo a pele de outras mãos
As carícias e os sorrisos
Que no meio das tormentas
Sustentaram esta barca

- Desenha para mim o amor!
E o rosto se relaxa agradecido
Ao ver despontar na memória
Os rostos e os abraços
Que forjaram minha história
Enfeitando com estrelas meu deserto

30 de janeiro de 2012

Súplica

Ó doces sons das estrelas
Avivem as tênues faíscas
Libertem minha esperança
Desta inexorável carga

Não me deixem nesta hora
Quando a raiva me acossa
Não permitam que sua garra
Dilacere minha alma

Joguem aos ventos suas notas
Criem ciclones e chuvas
Brotem no seio da terra
Novos hinos e bandeiras

Cantem com vigor e graça
Até espantar as sombras
Abram no céu uma porta
E surja a luz que nos salva

23 de janeiro de 2012

Abre-te à vida

Abre a mão, o coração e o sangue
Deixa que a vida flua por teu íntimo
E purifique tuas entranhas,
Teus medos e tuas sombras
Até que o mais sincero sentimento
Se eleve em harmonioso canto agradecido

Não temas a violência da torrente
As arremetidas dos afetos
Nem o fascínio das primeiras luzes
Espera paciente que se acalmem as águas
E tudo encontre um novo equilíbrio
Só então perceberás a vida que germina

16 de janeiro de 2012

Armado só de palavras

Armado só de palavras
Vou encarando este mundo
Desafiando as mentiras
Rimando nossos anseios

Armado só de palavras
Vou construindo futuro
Levantando as bandeiras
Que nos guiarão nos duelos

Armado só de palavras
Vou erigindo castelos
Para descanso das almas
Que se verteram nos campos

Armado só de palavras
Vou semeando os caminhos
Anunciando as colheitas
Que nutrirão nossos sonhos