vamos brincar de ingênuos
eu serei o rei do país dos ingênuos
um rei que trabalhe e viva como o povo
preocupado com que tudo seja de todos
dialogante e compreensivo com todos os povos
a paz será uma ordem e o respeito ao diferente uma lei
eu serei o ministro ingênuo da economia
criarei um plano nacional de combate à riqueza
para evitar mais mortes por culpa dos excessos
os salários serão estabelecidos segundo as necessidades
e não as necessidades criadas segundo os salários
ninguém passará fome porque ninguém sofrerá de obesidade
eu vou ser o ministro da defesa ingênua
a minha primeira ordem será radical e inquestionável:
proibir a fabricação, compra e venda de armas
serei o ministro da paz e nunca da guerra
transformarei os militares em socorristas
e os quartéis em escolas de diálogo e compaixão
eu quero ser ministro ingênuo da cultura
e a partir de hoje será obrigatório pensar criticamente
quem se deixar manipular, quem copiar ou renunciar a escolher
sofrerá uma pena de reeducação, até conquistar sua liberdade
proibirei as formaturas, porque ninguém parará de estudar enquanto viver
e será tratado como terrorista quem se achar detentor da verdade absoluta
vamos brincar de ingênuos
e fazer um pouco mais feliz a vida de todos
brinquemos de idealistas sonhadores
e transformemos o mundo em um grande brinquedo
para que mais ninguém saiba o que é a tristeza e a solidão
26 de dezembro de 2010
20 de dezembro de 2010
Ninguém como tu
Ninguém como tu
perambulando por entre as tímidas estrelas
assobiando afetuosos versos
brincando com a pena e os sonhos
Ninguém como tu
saltitando pelas gélidas montanhas
mergulhando nos cálidos abismos
afagando a ira e os prantos
Ninguém como tu
dançando com idílicas lembranças
costurando os esparramados afetos
nutrindo a ternura e os risos
15 de dezembro de 2010
Quem sonha depois dos 60 anos?
Não é muito habitual encontrar pessoas com mais de 60 anos que ainda sonhem com a vida, o mundo, a história, o trabalho... Sonhar parece ser um costume (alguns falariam em doença ou, no melhor dos casos, defeito) da juventude. No entanto, sonhar é uma capacidade única do ser humano à qual não podemos nem devemos renunciar. (Continua)
Podemos sonhar para evadir o presente complicado e hostil, para fugir da realidade se refugiando num mundo bonitinho criado à medida dos meus desejos e ilusões, das minhas necessidades e das minhas frustrações.
Podemos sonhar também para construir uma imagem perfeita de mim mesmo, para criar a ilusão de que sou quem sempre quis ser, para disfarçar minha realidade tão pobre e imperfeita, para me convencer de que sou o que imagino ser.
Na pior das hipóteses, podemos sonhar com alucinógenos ideológicos ou religiosos, criando uma outra “irrealidade”, na qual encontramos consolo, justificação, força moral para continuar convencidos de que estamos no caminho certo e, por isso, somos melhores que os outros e, antes ou depois, a vida, ou a história, ou Deus nos recompensarão por isso.
Finalmente, podemos sonhar para idealizar, mental e afetivamente, o que o presente deveria ser, visualizando um novo horizonte de sentido que se transforme em referência e bússola para a realidade atual. Sonhar para exprimir até o limite as possibilidades do presente, projetando-as no futuro desejado, descobrindo ao mesmo tempo os passos a dar e os esforços a realizar. Sonhar para que o presente não nos afogue, apagando nossos fogos de juventude e nossos melhores sentimentos. Sonhar para não se conformar com o que as circunstâncias exigem de nós, para poder, se necessário, transformar as circunstâncias antes que elas nos deformem. Sonhar para que cada pequena ação, cada passo, palavra e gesto tenham uma mesma origem e um único fim. Sonhar para que os instintos mais animais não nos dominem e desumanizem. Sonhar para viver a vida, evitando que a realidade imposta e a opinião geral acabem vivendo nossa vida.
As instituições não são como as pessoas e, por estarem formadas por elas, deveriam ser suporte, refúgio e lançadeira para os sonhos, projetos e esforços dessas pessoas. As instituições não deveriam envelhecer, cansar ou renunciar aos seus sonhos fundacionais. Em cada etapa da história de uma instituição, as pessoas que lhe dão vida, atualizando sua missão, conservando seus valores e conquistando sua visão, são novas e, portanto, cheias de sonhos, vontade, energia e força. As instituições não são a soma das individualidades que fazem parte dela, mas um ser vivo que nasce e renasce, em cada momento histórico, a partir do que as pessoas oferecem, amam, sonham e entregam.
Infelizmente às vezes nos deparemos com instituições que enclaustram, abafam, aprisionam e mutilam as pessoas que as formam. Instituições que agem como se tivessem vida própria, engolindo energias e propostas, pessoas e idéias, projetos e sonhos. Instituições que parecem envelhecer se tornando fosseis ou múmias, ancoradas numa época que já não existe, olhando passar a história e julgando uma realidade que desconhecem e não amam. Conhecemos pessoas que são dessa forma, mas é triste quando as instituições acabam assim, porque acabam arrastando as pessoas que vivem e trabalham nela, e junto com as pessoas, afundam sonhos e bons projetos.
No 2011, o Colégio São Miguel Arcanjo celebrará 60 anos de existência. Seria, talvez, o momento de procurar a tranquilidade da terceira-idade, saboreando os frutos recolhidos, aproveitando a sabedoria adquirida e se acomodando no espaço conquistado. Mas não é assim que queremos comemorar esta data tão significativa. Quem hoje dá vida à missão escolápia no Colégio São Miguel não somos aqueles que o fundaram, várias gerações passaram já por este chão, deixando a marca de suas façanhas, seus êxitos e fracassos, levando com elas um pedacinho do coração deste colégio. Hoje o São Miguel existe pelos que aqui estamos, mas principalmente, pelos que continuamos sonhando que educar para libertar e transformar a vida de pessoas e da sociedade toda vale a pena, e por isso acordamos bem cedinho para empurrar o sol e fazer que chegue o dia esperado, o dia da nossa missão, o dia de dar vida (corpo, sangue, afeto e espírito) àquela brilhante intuição de Calasanz: se desde a mais terna infância, as crianças forem educadas na piedade e nas letras, poderemos esperar um futuro feliz para suas vidas e para a vida da sociedade que elas construirão.
Depois de 60 anos continuamos sonhando com um mundo melhor, mais humano e digno para toda a família humana, com uma sociedade mais justa e em paz, com umas famílias focadas no amor e na educação dos filhos. Sonhamos com uma escola nova, fazendo parte desta história, mas com uma atitude crítica e transformadora, uma escola laboratório de humanidade, de alteridade, de solidariedade. Sonhamos com uma educação que faça crescer as capacidades próprias de cada criança, em vez de uniformizá-las na mediocridade e na repetição de padrões fracassados. Sonhamos com um São Miguel que oferece o que nenhum outro colégio oferece, não por orgulho ou presunção de sermos o primeiro, mas porque amamos o que somos e o que deveríamos ser, o mais autêntico de nós, o que nos faz ser únicos e diferentes: o carisma herdado de Calasanz e atualizado com a vida dos que nos precederam. Sonhamos com um São Miguel que articule de forma efetiva e prática as três dimensões da nossa missão: evangelizar, educar e transformar. Sonhamos com a Família São Miguel, uma família de famílias, onde todos/as possam encontrar um lugar para crescer pessoalmente, para se comprometer com um mundo melhor, para viver e alimentar sua fé, para experimentar uma vida plena.
E sonhamos também, bom, na verdade já deixou de ser um sonho e, daqui a pouco, será uma realidade, com a Fraternidade Escolápia do Brasil. Pequenas comunidades cristãs enriquecidas com o carisma escolápio, partilhando a missão, espiritualidade e vida comunitária, desde todas as vocações e opções de vida. Uma experiência de vida cristã comunitária, adulta, profunda, significativa, integral para quem quiser aprofundar na sua vocação e vivência cristã, com o carisma escolápio como fio comum que costurará uma bonita colcha de retalhos, respeitando e aproveitando as diferenças e peculiaridades de cada pessoa.
Neste ano que comemoramos 60 anos nos sentimos mais jovens que nunca, cheios de energia, ideias, sonhos e projetos. E queremos que esta força que sentimos se contagie por todas as pessoas que fazem parte desta família. Somos e queremos ser muito mais que um colégio, queremos ser um espaço físico e humano seguro e alternativo, o laboratório de uma sociedade melhor, uma grande família de famílias, uma verdadeira comunidade eclesial onde experimentar a presença de Jesus Cristo, o amor fraterno que nos convoca e o Reino de paz e justiça que nos provoca.
Estão todos/as convidados/as para a nossa festa de aniversário.
14 de dezembro de 2010
Que não pare a festa!
O tempo voa e o fim do ano está já aí, batendo à porta da escola. Parece que era ontem quando começávamos o ano, com ansiedade, novos projetos e muitas ideias, e amanhã estaremos encerrando-o. O que conseguimos fazer de tudo isso a que nos propusemos? Cada qual responda... (continua)
Pode resultar triste, mas é bom olhar para trás e comparar o que queríamos realizar no início do ano e o que realmente logramos fazer. Quantos desejos e projetos frustrados! É verdade que às vezes conseguimos cumprir nossas metas ou, pelo menos, avançar e enfrentar alguns desafios, mas o que predomina são as tentativas que acabaram ficando pelo caminho.
Lembrei agora as palavras do escritor uruguaio Eduardo Galeano, “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. É difícil nos definir pelo que fazemos, porque fazemos pouco e com escassa qualidade. Ainda mais complicado é nos definir pelo que pensamos, nossa inteligência é esperta para idealizar um mundo bonitinho na nossa cabeça e acabar nos convencendo de que somos isso pelo fato de pensá-lo. Muitas vezes o que pensamos não tem reflexo nenhum no que fazemos e, o contrário, o que fazemos nada tem a ver com o que pensamos e, muito menos, com o que pensamos que fazemos.
Somos o que realmente podemos chegar a ser. Somos o que está em potência dentro de nós. Somos o que sabemos ou intuímos que poderíamos ser. Somos o que ainda está por descobrir (não falei inventar). Somos o que está sendo trabalhado, revisado, educado, formado, acompanhado, exigido, reconciliado, acolhido, mudado, superado... amado. Somos uma mistura de realidade e projeto: realidade projetada e projeto que vai se realizando. Todos sabemos quem e como somos (ou deveríamos saber), o verdadeiro desafio se encontra em averiguar o que poderíamos chegar a ser e, sobretudo, em iniciar o processo de transformação pessoal para, partindo da realidade, chegar ao ideal não de perfeição, mas de plenitude (ser o melhor e o máximo que pudermos chegar a ser).
Brinquei demais com as palavras? Peço desculpas. Tentarei ser mais claro e direto.
Acaba um ano com muitas ideias, projetos e sonhos que ficaram pelo caminho. Aceitemos com humildade e sinceridade. Mas a história não acaba aqui. Em poucos dias estaremos começando uma nova aventura, um novo capítulo do livro da vida, e as páginas estão todas em branco. O que queremos chegar a ser? Onde colocaremos nosso limite pessoal?
Alunos/as que estão formando e nos deixarão... abandonem o ninho e voem para outros céus. Ainda não lograram nada na vida, fizeram somente o que, com as oportunidades oferecidas e suas capacidades próprias, deviam fazer. A vida pra valer começa agora, mas nunca se esqueçam do alimento que aqui receberam. Não se conformem em ser o que todos/as são. Não percorram caminhos já trilhados por outros/as que somente conduzem a uma vida monótona, sem sentido e sem felicidade. Não vivam superficialmente. Aprofundem na vida, no conhecimento, na realidade, na fé, no amor, na amizade, sempre procurando a experiência mais plena. Não se conformem com menos.
Alunos/as que continuarão seu processo de formação aqui, no São Miguel... aproveitem as oportunidades para forjar os alicerces da vida. Não deixem passar o tempo à toa, caso contrário, quando menos esperarem, descobrirão que outros já se apropriaram de sua vida. Não se deixem transformar em marionetes. Mergulhem na sua própria realidade, explorem suas capacidades, questionem a vida e o mundo, aprendam! Mas, sobretudo, aprendam a viver de verdade, procurem a felicidade mais profunda. E lembrem sempre que ninguém é feliz sozinho.
Funcionários/as que fazem parte desta família... são todos/as necessários/as. O São Miguel e a missão escolápia precisam de cada um/a de vocês, do melhor que vocês puderem chegar a ser, dos seus melhores esforços, da sua responsabilidade e amor, não para engrandecer o nome do Colégio, mas para engrandecer a vida de tantas crianças e adolescentes que nos foram confiados/as. Sejamos o mais bonito sorriso, o mais profundo abraço, a mais exigente proposta, a mais compreensiva paciência, a mais generosa entrega. Todos/as nós dizemos, com orgulho ou com resignação (dependendo de cada pessoa), que trabalhamos no São Miguel. Tomara que algum dia cheguemos a afirmar que, trabalhando no São Miguel, aprendemos a viver.
Famílias todas... abram as portas e as janelas de suas casas, abram a sua realidade familiar, o mundo não termina no tapete da entrada, aí é que o mundo começa. Não se isolem, nem se afastem do mundo, nem se refugiem na casa. Vivam em casa o que gostariam que o mundo fosse, e mostrem ao mundo que é possível ser feliz em família. Infelizmente, estamos acostumados a ver famílias irreais, com aparência de felicidade e uma realidade que só provoca sair correndo. O mundo real está fora, não podemos criar submundos, nem realidades paralelas, seria um grande prejuízo para seus/suas filhos/as. O mundo é o que é, e será o que nós quisermos que seja. Quem enxerga o mundo com olhar medroso, somente descobre perigos; quem olha com confiança, somente percebe oportunidades; quem contempla com amor, somente encontra necessidades para atender. Transformem suas famílias num laboratório de partilha, respeito mútuo (mútuo!), liberdade, empatia e, sobretudo, amor (gratuito e sem cobranças). Deixem que o mundo, com seus problemas, desafios e necessidades, entre na vida familiar e sonhem juntos. Sonhem com o que deveriam oferecer para mudar a realidade, com o que poderiam viver para transformar a parcela de mundo na qual existem, com o que de fato acrescentarão com suas vidas, únicas e irrepetíveis.
Acaba um ano, mas a vida continua... O que logramos neste ano que acaba? O que queremos lograr no próximo ano? Cada qual responda.
Encerramos mais um ano de trabalho. Ano em que comemoramos 60 anos de presença escolápia no Brasil. Em breve iniciaremos outro que também nos convida a celebrar: 60 anos de existência do Colégio São Miguel Arcanjo.
Acaba um ano, mas a festa da vida, da missão escolápia, da educação que liberta e do compromisso que transforma, continua.
Que não pare a festa!
Pode resultar triste, mas é bom olhar para trás e comparar o que queríamos realizar no início do ano e o que realmente logramos fazer. Quantos desejos e projetos frustrados! É verdade que às vezes conseguimos cumprir nossas metas ou, pelo menos, avançar e enfrentar alguns desafios, mas o que predomina são as tentativas que acabaram ficando pelo caminho.
Lembrei agora as palavras do escritor uruguaio Eduardo Galeano, “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. É difícil nos definir pelo que fazemos, porque fazemos pouco e com escassa qualidade. Ainda mais complicado é nos definir pelo que pensamos, nossa inteligência é esperta para idealizar um mundo bonitinho na nossa cabeça e acabar nos convencendo de que somos isso pelo fato de pensá-lo. Muitas vezes o que pensamos não tem reflexo nenhum no que fazemos e, o contrário, o que fazemos nada tem a ver com o que pensamos e, muito menos, com o que pensamos que fazemos.
Somos o que realmente podemos chegar a ser. Somos o que está em potência dentro de nós. Somos o que sabemos ou intuímos que poderíamos ser. Somos o que ainda está por descobrir (não falei inventar). Somos o que está sendo trabalhado, revisado, educado, formado, acompanhado, exigido, reconciliado, acolhido, mudado, superado... amado. Somos uma mistura de realidade e projeto: realidade projetada e projeto que vai se realizando. Todos sabemos quem e como somos (ou deveríamos saber), o verdadeiro desafio se encontra em averiguar o que poderíamos chegar a ser e, sobretudo, em iniciar o processo de transformação pessoal para, partindo da realidade, chegar ao ideal não de perfeição, mas de plenitude (ser o melhor e o máximo que pudermos chegar a ser).
Brinquei demais com as palavras? Peço desculpas. Tentarei ser mais claro e direto.
Acaba um ano com muitas ideias, projetos e sonhos que ficaram pelo caminho. Aceitemos com humildade e sinceridade. Mas a história não acaba aqui. Em poucos dias estaremos começando uma nova aventura, um novo capítulo do livro da vida, e as páginas estão todas em branco. O que queremos chegar a ser? Onde colocaremos nosso limite pessoal?
Alunos/as que estão formando e nos deixarão... abandonem o ninho e voem para outros céus. Ainda não lograram nada na vida, fizeram somente o que, com as oportunidades oferecidas e suas capacidades próprias, deviam fazer. A vida pra valer começa agora, mas nunca se esqueçam do alimento que aqui receberam. Não se conformem em ser o que todos/as são. Não percorram caminhos já trilhados por outros/as que somente conduzem a uma vida monótona, sem sentido e sem felicidade. Não vivam superficialmente. Aprofundem na vida, no conhecimento, na realidade, na fé, no amor, na amizade, sempre procurando a experiência mais plena. Não se conformem com menos.
Alunos/as que continuarão seu processo de formação aqui, no São Miguel... aproveitem as oportunidades para forjar os alicerces da vida. Não deixem passar o tempo à toa, caso contrário, quando menos esperarem, descobrirão que outros já se apropriaram de sua vida. Não se deixem transformar em marionetes. Mergulhem na sua própria realidade, explorem suas capacidades, questionem a vida e o mundo, aprendam! Mas, sobretudo, aprendam a viver de verdade, procurem a felicidade mais profunda. E lembrem sempre que ninguém é feliz sozinho.
Funcionários/as que fazem parte desta família... são todos/as necessários/as. O São Miguel e a missão escolápia precisam de cada um/a de vocês, do melhor que vocês puderem chegar a ser, dos seus melhores esforços, da sua responsabilidade e amor, não para engrandecer o nome do Colégio, mas para engrandecer a vida de tantas crianças e adolescentes que nos foram confiados/as. Sejamos o mais bonito sorriso, o mais profundo abraço, a mais exigente proposta, a mais compreensiva paciência, a mais generosa entrega. Todos/as nós dizemos, com orgulho ou com resignação (dependendo de cada pessoa), que trabalhamos no São Miguel. Tomara que algum dia cheguemos a afirmar que, trabalhando no São Miguel, aprendemos a viver.
Famílias todas... abram as portas e as janelas de suas casas, abram a sua realidade familiar, o mundo não termina no tapete da entrada, aí é que o mundo começa. Não se isolem, nem se afastem do mundo, nem se refugiem na casa. Vivam em casa o que gostariam que o mundo fosse, e mostrem ao mundo que é possível ser feliz em família. Infelizmente, estamos acostumados a ver famílias irreais, com aparência de felicidade e uma realidade que só provoca sair correndo. O mundo real está fora, não podemos criar submundos, nem realidades paralelas, seria um grande prejuízo para seus/suas filhos/as. O mundo é o que é, e será o que nós quisermos que seja. Quem enxerga o mundo com olhar medroso, somente descobre perigos; quem olha com confiança, somente percebe oportunidades; quem contempla com amor, somente encontra necessidades para atender. Transformem suas famílias num laboratório de partilha, respeito mútuo (mútuo!), liberdade, empatia e, sobretudo, amor (gratuito e sem cobranças). Deixem que o mundo, com seus problemas, desafios e necessidades, entre na vida familiar e sonhem juntos. Sonhem com o que deveriam oferecer para mudar a realidade, com o que poderiam viver para transformar a parcela de mundo na qual existem, com o que de fato acrescentarão com suas vidas, únicas e irrepetíveis.
Acaba um ano, mas a vida continua... O que logramos neste ano que acaba? O que queremos lograr no próximo ano? Cada qual responda.
Encerramos mais um ano de trabalho. Ano em que comemoramos 60 anos de presença escolápia no Brasil. Em breve iniciaremos outro que também nos convida a celebrar: 60 anos de existência do Colégio São Miguel Arcanjo.
Acaba um ano, mas a festa da vida, da missão escolápia, da educação que liberta e do compromisso que transforma, continua.
Que não pare a festa!
1 de dezembro de 2010
Procurando-me
Sonhará a erva com ser lírio
Voar como as águias a simples rolinha?
Será com oceanos que a crisálida fantasia
Correr pelos prados o devaneio do golfinho?
Perguntei tantas vezes ao silêncio e aos ventos
Indaguei insistente nas estrelas e nos mares
Procurando a verdade dos meus sonhos
O íntimo significado das minhas dores
A cruel origem dos mais profundos medos.
Peregrino e sem guia aventurei-me pelos mundos
Mergulhei nas formas, nos sons, nas cores
Não me reconheci nos cantos, nos risos, nos prantos
Perdi-me entre disfarces, caretas e luzes
Sem achar explicação ao que borbulha nos fundos.
24 de novembro de 2010
Canta
quando a noite te abrace com seu hálito funesto
e um frio mórbido abafe teu grito eterno
quando o medo ofusque teu coração meigo
e espessas nuvens escuras pressagiem tormento
quando as flores noturnas poluam teus sonhos
e as estrelas se contorçam num cintilar de prantos
quando as trilhas se percam entre pedras e espinhos
e as sombras proclamem assustadores augúrios
canta!
canta o canto da lua e dos mundos
o canto que não tem limite nem motivos
canta!
canta os ritmos da terra e dos povos
os ritmos sofridos de ancestrais anseios
canta!
canta a melodia do vento e dos mares
a melodia do sangue vertido em amores
e um frio mórbido abafe teu grito eterno
quando o medo ofusque teu coração meigo
e espessas nuvens escuras pressagiem tormento
quando as flores noturnas poluam teus sonhos
e as estrelas se contorçam num cintilar de prantos
quando as trilhas se percam entre pedras e espinhos
e as sombras proclamem assustadores augúrios
canta!
canta o canto da lua e dos mundos
o canto que não tem limite nem motivos
canta!
canta os ritmos da terra e dos povos
os ritmos sofridos de ancestrais anseios
canta!
canta a melodia do vento e dos mares
a melodia do sangue vertido em amores
21 de novembro de 2010
Uma ferida abriu-se no meu peito
Uma ferida abriu-se no meu peito
Uma fenda de dor e tristeza
E como um vulcão, expele de mim
O que me sustenta e anima
A esperança que me mantém firme
Acordando minhas forças para a vida
Impulsionando-me a novos voos
E me libertando dos erros de cada dia
A confiança na vida e nos sonhos
Que me ampara nas tempestades
Firmando os pés e os ânimos
Na bondade e beleza das novidades
O amor pelo que faço e pelo que posso ser
Pelas pessoas que comigo lutam
Pelos esforços que darão seus frutos
Pelas vidas que silenciosamente se doam
Uma ferida abriu-se no meu peito
Uma incisão de frustração e agonia
Por onde entrou, sem licença, o medo
E fugiu, deixando só remorso, a alegria
Uma fenda de dor e tristeza
E como um vulcão, expele de mim
O que me sustenta e anima
A esperança que me mantém firme
Acordando minhas forças para a vida
Impulsionando-me a novos voos
E me libertando dos erros de cada dia
A confiança na vida e nos sonhos
Que me ampara nas tempestades
Firmando os pés e os ânimos
Na bondade e beleza das novidades
O amor pelo que faço e pelo que posso ser
Pelas pessoas que comigo lutam
Pelos esforços que darão seus frutos
Pelas vidas que silenciosamente se doam
Uma ferida abriu-se no meu peito
Uma incisão de frustração e agonia
Por onde entrou, sem licença, o medo
E fugiu, deixando só remorso, a alegria
16 de novembro de 2010
O nascimento de uma flor
Delicada e indefesa
a pequena flor brotou
Com esforço e sofrimento
desdobrou-se para ver o sol
Entre espinhos, ventos, chuvas
o seu perfume exalou
Não temas!
Cochichou a terra.
Não renuncies!
Vozeou o sol.
E uma humilde borboleta,
no seu gracioso vagar
Aproximou-se com carinho
e num sussurro declarou
Sonha, luta, ama!
Não tens limites, senão o céu
Eu serei tuas asas
quando o fogo ameaçar
Eu serei teu fôlego
quando a seca te abafar
Eu te darei minha vida
quando o vento te arrancar
e num abraço eterno
nos fundiremos no amor
a pequena flor brotou
Com esforço e sofrimento
desdobrou-se para ver o sol
Entre espinhos, ventos, chuvas
o seu perfume exalou
Não temas!
Cochichou a terra.
Não renuncies!
Vozeou o sol.
E uma humilde borboleta,
no seu gracioso vagar
Aproximou-se com carinho
e num sussurro declarou
Sonha, luta, ama!
Não tens limites, senão o céu
Eu serei tuas asas
quando o fogo ameaçar
Eu serei teu fôlego
quando a seca te abafar
Eu te darei minha vida
quando o vento te arrancar
e num abraço eterno
nos fundiremos no amor
4 de novembro de 2010
De nomes repleto
Quando a noite se aquieta e o silêncio me invade,
quando a escuridão nos obriga a esse tempo de espera,
sozinho, tateando, visualizo seus rostos, me surgem mil nomes.
São meus amores, que me acompanham e velam,
que me arrulham e ninam, com cantos de memória,
com melodias gravadas no íntimo da minha história,
me devolvendo a identidade no caminho perdida.
São meus amores, que me lembram que vivo,
que me devolvem aos antigos caminhos
e me abrem a novas paisagens, dizendo: “adiante!
sempre além, pois no extremo, no topo, alguém nos espera”.
São meus amores, com quem saboreio a vida,
que me mostram a profundeza e largura do sentir humano,
que me enchem e transbordam sem fraude nem mercado,
que, caladinhos, tecem o mundo com fios de afeto.
São meus amores, que me lançam ao mundo,
me oferecendo o rumo, a mão e o alento,
transformando em direito o que até agora foi um luxo,
afirmando que o amor é possível graças Àquele que nos amou primeiro.
quando a escuridão nos obriga a esse tempo de espera,
sozinho, tateando, visualizo seus rostos, me surgem mil nomes.
São meus amores, que me acompanham e velam,
que me arrulham e ninam, com cantos de memória,
com melodias gravadas no íntimo da minha história,
me devolvendo a identidade no caminho perdida.
São meus amores, que me lembram que vivo,
que me devolvem aos antigos caminhos
e me abrem a novas paisagens, dizendo: “adiante!
sempre além, pois no extremo, no topo, alguém nos espera”.
São meus amores, com quem saboreio a vida,
que me mostram a profundeza e largura do sentir humano,
que me enchem e transbordam sem fraude nem mercado,
que, caladinhos, tecem o mundo com fios de afeto.
São meus amores, que me lançam ao mundo,
me oferecendo o rumo, a mão e o alento,
transformando em direito o que até agora foi um luxo,
afirmando que o amor é possível graças Àquele que nos amou primeiro.
4/11/2010
28 de outubro de 2010
Fica calada e escuta
fica calada...
não digas nada...
deixa que o mundo te descubra
que a confiança cresça
que te perceba atenta...
tem séculos querendo gritar para alguém
fica calada e escuta...
o clamor de quem nunca foi escutado
o pranto de quem desconhece a alegria
a voz de quem sempre foi silenciado
fica calada e escuta...
descobrirás a força dos que lutam
a esperança dos que cantam
o amor dos que choram
fica calada e escuta...
a vida que desabrocha
a ternura que floresce
o carinho que desponta
fica calada e escuta...
o coração do universo gritando
o coração da terra gemendo
o coração da vida chamando
fica calada e escuta...
teu nome é cantado e chorado
tu estás no seio da vida
no ventre fértil que gera o futuro
fica calada e escuta...
no silêncio encontrarás teu canto
e no canto descobrirás a vida
não digas nada...
deixa que o mundo te descubra
que a confiança cresça
que te perceba atenta...
tem séculos querendo gritar para alguém
fica calada e escuta...
o clamor de quem nunca foi escutado
o pranto de quem desconhece a alegria
a voz de quem sempre foi silenciado
fica calada e escuta...
descobrirás a força dos que lutam
a esperança dos que cantam
o amor dos que choram
fica calada e escuta...
a vida que desabrocha
a ternura que floresce
o carinho que desponta
fica calada e escuta...
o coração do universo gritando
o coração da terra gemendo
o coração da vida chamando
fica calada e escuta...
teu nome é cantado e chorado
tu estás no seio da vida
no ventre fértil que gera o futuro
fica calada e escuta...
no silêncio encontrarás teu canto
e no canto descobrirás a vida
28/10/2010
23 de outubro de 2010
Palestra: "Reavivar minha vocação de educador/a".
Disponibilizo aqui o material da palestra oferecida em Pouso Alegre, no evento organizado pela Secretaria de Educação como homenagem a professores/as da rede municipal. Trata-se da última apresentação das três que foram usadas, com o título "Reavivar minha vocação de educador/a", em formato PDF. Clicar aqui.
15 de outubro de 2010
Problemas complexos requerem soluções abrangentes.
Estamos assistindo nestes dias, por causa do segundo turno das eleições para a presidência da República, um debate superficial sobre o tema do aborto. Interesses políticos, econômicos, religiosos se misturam no confronto. Na verdade, nem de debate se trata, mas de uma campanha desleal e difamante que usa o tema do aborto como bandeira, para atingir o coração principalmente dos/as católicos/as, em busca dos seus votos (continua...).
Não quero entrar em detalhes legais, médicos ou éticos para justificar ou defender o aborto, nem o contrário. Quero oferecer alguns questionamentos sobre a manipulação que se faz deste tema, desta realidade dramática.
Não resulta curioso que sejam os setores mais conservadores da sociedade e da Igreja (que nunca se preocuparam com a maioria pobre do país e do mundo) os que mais rejeitam a mudança na lei sobre o aborto?
Por que não se investem os esforços, energias e recursos que se dedicam a lutar contra o aborto (defendendo a vida dos não nascidos) para defender, proteger e garantir também a vida digna dos já nascidos, abortado em vida, de milhões de seres humanos condenados a sobreviver como animais? Está claro, é muito mais fácil defender a vida daqueles que não dependerão de mim. A final de contas, a criança por nascer será responsabilidade única da mãe... que se vire! Mas esses milhões de empobrecidos/as, seu futuro e sua dignidade dependem fundamentalmente da distribuição justa das riquezas, do uso racional e solidário dos recursos... sua vida, por tanto, depende de mim! Aí não... É fácil defender a vida que não questiona, nem mexe, nem condiciona minha forma de viver. É fácil defender a vida, quando esta nada tem a ver comigo.
A lei vigente já não responde às necessidades e condições da realidade atual. Mudar a lei e elaborar uma nova significa iniciar um debate nacional que, como toda troca de ideias, pode ser muito enriquecedor para a sociedade toda. Quem tem medo de pensar? Quem prega em homilias e palestras que não devemos pensar, senão aceitar cegamente o que “mestres e doutores” falam para nós? Quem rejeita uma teologia dialogante, aberta e criativa, propondo como teologia única a transmissão de verdades, sem discussão nem questionamentos?
Sabemos que as causas e consequências do aborto não são superficiais. Como sacerdote, tenho recebido e acompanhado a não poucas mulheres grávidas que queriam praticar um aborto, e outras que já tinham praticado. O que essas mulheres vivem é dramático. Somente colocando-nos no seu lugar poderemos começar a imaginar o que sentem, seus sofrimentos e a dor causada pela experiência de morte que vivem. Banalizamos o aborto quando esquecemos a mulher e olhamos somente os dogmas, tópicos gerais que não expressam nada, mas que enchem a boca de quem os proclama. Em todas as situações de possível aborto existem, pelo menos, duas vidas que devem ser escutadas, atendidas, amadas e protegidas.
O aborto é, nestes momentos, um dos problemas mais complexos que existem na nossa sociedade. São inúmeras as variantes, condições, necessidades, carências, limitações e possibilidades que existem e que fazem que, cada caso, seja único. Um problema tão complexo não pode ter uma solução simples: “sim ao aborto em todos os casos” ou “não ao aborto em todos os casos”. Hoje precisamos de leis abrangentes, que contemplem o maior número possível de variantes, que respondam a todas as situações possíveis. Quando nos envolvemos em problemas complexos, percebemos rapidamente que as soluções não são simples nem automáticas. Na problemática do aborto se combinam múltiplas variáveis, de tipo legal, médico, ético, cultural, religioso, econômico... Um problema tão complexo não pode ser resolvido com um simples sim ou não.
Como acabo de expressar e denunciar, até um posicionamento radicalmente contrário ao aborto, por motivos religiosos e éticos, pode estar condicionado por interesses econômicos e políticos de classe. Defendemos a vida desde a sua concepção até o momento final... mas só de uns poucos, daqueles que não complicarão minha vida, meu nível econômico, meus privilégios e tranquilidade. Muitos deles nascerão, porque nós defendemos sua vida, para serem condenados a sobreviver como abortos em vida. Ah, mas esse problema já não é mais comigo, esse é um outro departamento.
Não quero entrar em detalhes legais, médicos ou éticos para justificar ou defender o aborto, nem o contrário. Quero oferecer alguns questionamentos sobre a manipulação que se faz deste tema, desta realidade dramática.
Não resulta curioso que sejam os setores mais conservadores da sociedade e da Igreja (que nunca se preocuparam com a maioria pobre do país e do mundo) os que mais rejeitam a mudança na lei sobre o aborto?
Por que não se investem os esforços, energias e recursos que se dedicam a lutar contra o aborto (defendendo a vida dos não nascidos) para defender, proteger e garantir também a vida digna dos já nascidos, abortado em vida, de milhões de seres humanos condenados a sobreviver como animais? Está claro, é muito mais fácil defender a vida daqueles que não dependerão de mim. A final de contas, a criança por nascer será responsabilidade única da mãe... que se vire! Mas esses milhões de empobrecidos/as, seu futuro e sua dignidade dependem fundamentalmente da distribuição justa das riquezas, do uso racional e solidário dos recursos... sua vida, por tanto, depende de mim! Aí não... É fácil defender a vida que não questiona, nem mexe, nem condiciona minha forma de viver. É fácil defender a vida, quando esta nada tem a ver comigo.
A lei vigente já não responde às necessidades e condições da realidade atual. Mudar a lei e elaborar uma nova significa iniciar um debate nacional que, como toda troca de ideias, pode ser muito enriquecedor para a sociedade toda. Quem tem medo de pensar? Quem prega em homilias e palestras que não devemos pensar, senão aceitar cegamente o que “mestres e doutores” falam para nós? Quem rejeita uma teologia dialogante, aberta e criativa, propondo como teologia única a transmissão de verdades, sem discussão nem questionamentos?
Sabemos que as causas e consequências do aborto não são superficiais. Como sacerdote, tenho recebido e acompanhado a não poucas mulheres grávidas que queriam praticar um aborto, e outras que já tinham praticado. O que essas mulheres vivem é dramático. Somente colocando-nos no seu lugar poderemos começar a imaginar o que sentem, seus sofrimentos e a dor causada pela experiência de morte que vivem. Banalizamos o aborto quando esquecemos a mulher e olhamos somente os dogmas, tópicos gerais que não expressam nada, mas que enchem a boca de quem os proclama. Em todas as situações de possível aborto existem, pelo menos, duas vidas que devem ser escutadas, atendidas, amadas e protegidas.
O aborto é, nestes momentos, um dos problemas mais complexos que existem na nossa sociedade. São inúmeras as variantes, condições, necessidades, carências, limitações e possibilidades que existem e que fazem que, cada caso, seja único. Um problema tão complexo não pode ter uma solução simples: “sim ao aborto em todos os casos” ou “não ao aborto em todos os casos”. Hoje precisamos de leis abrangentes, que contemplem o maior número possível de variantes, que respondam a todas as situações possíveis. Quando nos envolvemos em problemas complexos, percebemos rapidamente que as soluções não são simples nem automáticas. Na problemática do aborto se combinam múltiplas variáveis, de tipo legal, médico, ético, cultural, religioso, econômico... Um problema tão complexo não pode ser resolvido com um simples sim ou não.
Como acabo de expressar e denunciar, até um posicionamento radicalmente contrário ao aborto, por motivos religiosos e éticos, pode estar condicionado por interesses econômicos e políticos de classe. Defendemos a vida desde a sua concepção até o momento final... mas só de uns poucos, daqueles que não complicarão minha vida, meu nível econômico, meus privilégios e tranquilidade. Muitos deles nascerão, porque nós defendemos sua vida, para serem condenados a sobreviver como abortos em vida. Ah, mas esse problema já não é mais comigo, esse é um outro departamento.
8 de outubro de 2010
Deus olha pra mim... E simplesmente sorri
Tantas angustias, tantos medos, tantos fantasmas,
tanta escuridão pela que deambulo,
sem saber se realmente encontrei a bondade,
sem achar melhores respostas.
Gritando em silêncio, chorando por dentro,
sem coragem para sair correndo
com forças só para alçar a vista,
e aí, no mais alto, expectante
descubro sua silenciosa presença,
com os braços estendidos e o coração aberto...
e Deus olha pra mim... e simplesmente... sorri.
tanta escuridão pela que deambulo,
sem saber se realmente encontrei a bondade,
sem achar melhores respostas.
Gritando em silêncio, chorando por dentro,
sem coragem para sair correndo
com forças só para alçar a vista,
e aí, no mais alto, expectante
descubro sua silenciosa presença,
com os braços estendidos e o coração aberto...
e Deus olha pra mim... e simplesmente... sorri.
(versão do original de 1-10-98)
1 de outubro de 2010
Sentir e viver
Olha o mundo e canta
Que a dor não abafe o coração que sangra
Escuta o céu e grita
Que o silêncio não mate a consciência que acorda
Toca a vida e chora
Que o frio não adormeça a ternura que germina
Saboreia a morte e dança
Que a noite não esqueça do amor que desponta
Que a dor não abafe o coração que sangra
Escuta o céu e grita
Que o silêncio não mate a consciência que acorda
Toca a vida e chora
Que o frio não adormeça a ternura que germina
Saboreia a morte e dança
Que a noite não esqueça do amor que desponta
24 de setembro de 2010
Projeto Social do Colégio São Miguel Arcanjo
Quero partilhar aqui esta apresentação do Projeto Social colégio São Miguel Arcanjo, aprovado este ano e que já está sendo desenvolvido. As experiências interessantes devem ser partilhadas. Por isso convido os leitores deste blog para que comentem, sugiram, proponham, ou para que partilhem outras experiências e projetos. Para assistir carregar a apresentação e avançar manualmente clicando na seta preta (recomendo ativar fullscreen em More).
7 de setembro de 2010
Esforcemo-nos na construção e não na decoração
Estamos acostumados a enxergar e julgar as coisas pela aparência, pelo aspecto externo. Nosso olhar muitas vezes é superficial e fugaz, não perdemos tempo em entrar em detalhes, em analisar, em buscar explicações. Olhamos e, de uma vez, comentamos, ou até julgamos (continua...)
A cultura atual substituiu a ética pela estética, a inteligência pela dietética, a racionalidade pela superficialidade. Hoje os projetos são substituídos por operativos, as campanhas por ações, a identidade pela moda. Nesse ambiente que nos envolve é fácil se deixar levar e arrastar sem perceber. Hoje a política, economia, cultura, religião, etc. navegam felizes pelos mares da externalidade, do evento superficial e fugaz que fascina, encanta e leva até o êxtase total. Tudo é efêmero, momentâneo, pontual e, portanto, provisório e relativo. Os poderes públicos se empenham em realizar operativos que não resolvem, mas enfeitam; as grandes corporações econômicas organizam eventos e ações solidárias para lavar sua imagem pública e encobrir o lucro desmedido e egoísta; até as Igrejas gastam esforços e recursos em eventos pontuais que estimulam a insaciável emotividade das massas, mas que não mudam nada da realidade pessoal e social. Hoje importa mais parecer que ser, ter experiências que ter convicções, ser espectador que ator, ser consumidor e não mais construtor.
Também a educação pode acabar cedendo à pressão ambiental, transformando uma missão que, por essência, é processual e demorada. A educação precisa de um projeto, que estabeleça claramente os objetivos a alcançar, os meios a usar e as ações a realizar. Este projeto deve mostrar para todas as pessoas envolvidas nessa missão o horizonte para o qual caminhamos, os caminhos que percorreremos, a bagagem que levaremos e a companhia com a que contaremos para a viagem. O projeto se transforma assim em mapa e bússola ao mesmo tempo. Cada jornada dessa viagem será fundamental para chegar ao destino final, e em cada jornada nos depararemos com uma infinidade de decisões, escolhas, opções por realizar, nos constantes cruzamentos de caminhos que encontraremos, na necessidade ou não de parar para descansar, na eventual retomada do caminho após ter errado a eleição, quando enfrentemos tempestades ou nos meio-dias abrasadores. A educação, como a viagem, se decide nos pequenos detalhes, quando conectados coerente e progressivamente para nos levar até o objetivo almejado. Hoje devemos encarar a tentação de focar todos os nossos esforços nas ações extraordinárias, esquecendo o que nos trouxe até aqui e o que ainda nos falta por descobrir. A viagem não se realiza nas fogueiras noturnas, quando nos reunimos para partilhar as aventuras do dia, para contar e cantar os sonhos e os medos, para comemorar as conquistas e agradecer pelo dia. A viagem precisa desses momentos, mas é no outro dia, no passo a passo que esta acontece. A educação precisa de momentos extraordinários, não como evasão da rotina, mas como alimento e reforço para voltar com mais energia e ânimo a essa mesma rotina, porque nela é que o projeto acontece ou fracassa.
Uma educação de operativos, eventos e ações isoladas somente servirá para formar pessoas desintegradas, necessitadas de experiências fortes para poder enfrentar o deserto da cotidianidade, sem visão de futuro por terem ficado cegas por causa do deslumbrante imediatismo. O dia a dia, o gesto, a palavra, a atitude concreta, a resposta dada a cada questionamento, a reação diante de cada experiência, a solução oferecida ou a ajuda solicitada... São essas pequenas coisas as que fazem a diferença, fazendo andar o projeto e, por tanto, nos levando até o destino sonhado, ou atrapalhando a caminhada e nos levando por caminhos tortuosos.
Educar não é encher a vista com espetáculos fugazes, com fumaças coloridas e feitos luminosos. Educamos acompanhando cada passo, os mais rotineiros e aparentemente sem valor, os que não chamam a atenção, mas que acabam nos levando pelos caminhos certos. Educamos ajudando a descobrir o sentido e valor das pequenas coisas da vida, nas quais nos mostramos como somos e com as quais podemos aprender a ser como queremos. Educamos com o que de fato somos, não com o que esporadicamente fazemos. Educamos com o que realmente vivemos e não com o que dizemos que deveríamos viver. Educamos quando acreditamos no processo e em quem o vive, com confiança e esperança, e porque acreditamos somos extremamente responsáveis com o papel que nos toca realizar, porque sabemos das consequências disso, tanto positivas como negativas. Educamos ensinando a aprender, a ler em profundidade a vida, a analisar criticamente a realidade, a sonhar com uma normalidade mais digna e feliz para todos/as, a construir essa outra “normalidade” com as pequenas coisas de cada dia. Educamos com a constância, perseverança, paciência, mas também com exigência de saber que cada passo é fundamental, cada tijolo é necessário, cada oportunidade é única.
Queremos construir pessoas íntegras, com consciência crítica, com um coração aberto às necessidades das outras pessoas, com a convicção profunda de fazer parte da família humana, e com o compromisso existencial de servir para construir um mundo melhor para todos/as. Como educadores/as queremos dedicar a vida a esta construção, nos esforçando a cada dia no que realmente serve para edificar. Não queremos acabar confundindo construção com o que simplesmente é decoração, porque educar não é enfeitar a vida, as pessoas e os espaços, nem oferecer experiências fascinantes e efêmeras para preencher uma rotina existencialmente vazia e sem sentido. Educar é construir um ser humano, uma sociedade e um mundo plena e profundamente feliz. Por uma construção como esta, vale a pena entregar a própria vida.
Também a educação pode acabar cedendo à pressão ambiental, transformando uma missão que, por essência, é processual e demorada. A educação precisa de um projeto, que estabeleça claramente os objetivos a alcançar, os meios a usar e as ações a realizar. Este projeto deve mostrar para todas as pessoas envolvidas nessa missão o horizonte para o qual caminhamos, os caminhos que percorreremos, a bagagem que levaremos e a companhia com a que contaremos para a viagem. O projeto se transforma assim em mapa e bússola ao mesmo tempo. Cada jornada dessa viagem será fundamental para chegar ao destino final, e em cada jornada nos depararemos com uma infinidade de decisões, escolhas, opções por realizar, nos constantes cruzamentos de caminhos que encontraremos, na necessidade ou não de parar para descansar, na eventual retomada do caminho após ter errado a eleição, quando enfrentemos tempestades ou nos meio-dias abrasadores. A educação, como a viagem, se decide nos pequenos detalhes, quando conectados coerente e progressivamente para nos levar até o objetivo almejado. Hoje devemos encarar a tentação de focar todos os nossos esforços nas ações extraordinárias, esquecendo o que nos trouxe até aqui e o que ainda nos falta por descobrir. A viagem não se realiza nas fogueiras noturnas, quando nos reunimos para partilhar as aventuras do dia, para contar e cantar os sonhos e os medos, para comemorar as conquistas e agradecer pelo dia. A viagem precisa desses momentos, mas é no outro dia, no passo a passo que esta acontece. A educação precisa de momentos extraordinários, não como evasão da rotina, mas como alimento e reforço para voltar com mais energia e ânimo a essa mesma rotina, porque nela é que o projeto acontece ou fracassa.
Uma educação de operativos, eventos e ações isoladas somente servirá para formar pessoas desintegradas, necessitadas de experiências fortes para poder enfrentar o deserto da cotidianidade, sem visão de futuro por terem ficado cegas por causa do deslumbrante imediatismo. O dia a dia, o gesto, a palavra, a atitude concreta, a resposta dada a cada questionamento, a reação diante de cada experiência, a solução oferecida ou a ajuda solicitada... São essas pequenas coisas as que fazem a diferença, fazendo andar o projeto e, por tanto, nos levando até o destino sonhado, ou atrapalhando a caminhada e nos levando por caminhos tortuosos.
Educar não é encher a vista com espetáculos fugazes, com fumaças coloridas e feitos luminosos. Educamos acompanhando cada passo, os mais rotineiros e aparentemente sem valor, os que não chamam a atenção, mas que acabam nos levando pelos caminhos certos. Educamos ajudando a descobrir o sentido e valor das pequenas coisas da vida, nas quais nos mostramos como somos e com as quais podemos aprender a ser como queremos. Educamos com o que de fato somos, não com o que esporadicamente fazemos. Educamos com o que realmente vivemos e não com o que dizemos que deveríamos viver. Educamos quando acreditamos no processo e em quem o vive, com confiança e esperança, e porque acreditamos somos extremamente responsáveis com o papel que nos toca realizar, porque sabemos das consequências disso, tanto positivas como negativas. Educamos ensinando a aprender, a ler em profundidade a vida, a analisar criticamente a realidade, a sonhar com uma normalidade mais digna e feliz para todos/as, a construir essa outra “normalidade” com as pequenas coisas de cada dia. Educamos com a constância, perseverança, paciência, mas também com exigência de saber que cada passo é fundamental, cada tijolo é necessário, cada oportunidade é única.
Queremos construir pessoas íntegras, com consciência crítica, com um coração aberto às necessidades das outras pessoas, com a convicção profunda de fazer parte da família humana, e com o compromisso existencial de servir para construir um mundo melhor para todos/as. Como educadores/as queremos dedicar a vida a esta construção, nos esforçando a cada dia no que realmente serve para edificar. Não queremos acabar confundindo construção com o que simplesmente é decoração, porque educar não é enfeitar a vida, as pessoas e os espaços, nem oferecer experiências fascinantes e efêmeras para preencher uma rotina existencialmente vazia e sem sentido. Educar é construir um ser humano, uma sociedade e um mundo plena e profundamente feliz. Por uma construção como esta, vale a pena entregar a própria vida.
30 de agosto de 2010
O analfabeto político
"O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante, e o pior de todos os bandidos: que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."
Bertolt Brecht
29 de agosto de 2010
Na sociedade atual, é possível educar nos limites?
Nesta sociedade de consumo e bem-estar, que tem como modelo de pessoa o ser-consumidor, com um sistema econômico totalmente focado na exploração da capacidade ilimitada que o ser humano tem de desejar, nesta cultura da riqueza e o prazer... Será possível educar nos limites? Quem pode educar no controle dos próprios limites, se todos nós somos consumidores compulsivos? Existe alguma alternativa?
Palestra ministrada no Congresso Internacional de Educação da Conexa Eventos em Pouso Alegre. Para acessar ao material clicar aqui.
24 de agosto de 2010
Seguimos em campanha
"Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem."
Bertold Brecht
8 de agosto de 2010
Em campanha...
No mês que a Igreja brasileira dedica às vocações e já envolvidos na campanha política para as próximas eleições, eu me pergunto:
- Cadê os/as políticos/as vocacionados/as?
- Quem estragou definitivamente a política profissionalizando-a?
- Por que os/as políticos/as olham mais para o seu emprego (e salário) que para o serviço público que prestarão?
- Quem pode sonhar com um país melhor se seus dirigentes e representantes só olham seu próprio umbigo?
- Como confiar o nosso futuro nas mãos destes profissionais do lobby, da imagem, da vida boa, cuja lei é “trabalha pouco e recebe muito”?
Quando os meios para o bem comum se transformam em fins e os representantes do povo viram “funcionários/as”, podemos dar por morta a democracia.
Quem deveria servir para atender as necessidades e os direitos da sociedade, trabalha focado num único objetivo: ocupar um lugar dentro das estruturas de poder para poder garantir sua vida e seu futuro individual.
As estruturas, quando absolutizadas, matam a criatividade e desprezam a dignidade da pessoa. O poder corrompe os mais nobres corações e deixa apodrecer os melhores sonhos.
Será possível, algum dia, uma política diferente, melhor? Acho que com os/as atuais profissionais da política não dá.
2 de agosto de 2010
Escolápios - Brasil
Carregar clicando na seta preta. Recomenda-se visualizar "Fullscreen" (em More) e avançar manualmente.
26 de julho de 2010
Poesia dinâmica
Clicar no triângulo para iniciar, depois avançar manualmente clicando no mesmo triângulo. Também pode avançar de forma automática clicando em Autoplay (em More).
15 de julho de 2010
Psicologia evolutiva para catequistas
Mais um material prático que pode servir para educadores/as e catequistas. Trata-se de uma síntese de Psicologia Evolutiva, desde a infância até a adolescência. Pode acessar ao pdf com o material completo aqui.
29 de junho de 2010
Afetividade na adolescência
O mundo afetivo na adolescência destaca pela confusão de sentimentos contraditórios, fugazes e intensos. É necessário explicar para os/as adolescentes sua própria realidade afetiva, para que saibam lidar com tanta "bagunça" interior, aceitando o momento que vivem, aproveitando as oportunidades desta etapa e focando seus esforços na construção da pessoa adulta que realmente querem ser.
Com esse objetivo foi elaborado este material que coloco a disposição de quem quiser aproveitar. Para abrir o pdf clique aqui. Para quem conhece e gosta dos "Prezis" aqui tem o link com esse mesmo material.
Com esse objetivo foi elaborado este material que coloco a disposição de quem quiser aproveitar. Para abrir o pdf clique aqui. Para quem conhece e gosta dos "Prezis" aqui tem o link com esse mesmo material.
18 de junho de 2010
Não somos ilhas
A dimensão social na construção de pessoas integradas e integradoras.
Palestra oferecida a pais e mães do Colégio São Miguel Arcanjo de Belo Horizonte no ano de 2009, destacando a necessidade de aprender a viver em sociedade, desenvolvendo nossa dimensão social e crescendo no encontro com as outras pessoas, para sermos plenamente humanos. Após uma rápida análise dos tempos atuais, em que somos convidados ao individualismo, à falta de comunicação sincera e à solidão, nos é proposto um caminho de aprendizagem e crescimento pessoal, caminho que passa pela criação de relacionamentos profundos, pelo diálogo sincero e transformador, pela empatia e a abertura total às outras pessoas. Pode acessar ao material da palestra em PDF aqui.
10 de junho de 2010
Limites na medida certa
Mais uma reflexão sobre o tema dos limites na educação de crianças e adolescentes, criada para uma palestra com pais e mães do nosso Colégio Escolápio Ibituruna, em Governador Valadares. A palestra acontecerá no dia 17 de junho.
Para acessar ao material em PDF clique aqui.
Para acessar ao material em PDF clique aqui.
30 de maio de 2010
Resolução não violenta de conflitos na escola.
Deixo aqui o material do mini-curso ministrado por mim sobre "Educação para a paz" organizado pela empresa Conexa Eventos e a Secretaria de Educação da Prefeitura de Itaú de Minas, para professores/as da rede pública. Este material complementa a palestra "A escola de hoje e a necessidade da educação para a paz", material que já foi publicado neste blog.
"Resolução não violenta de conflitos na escola" em PDF, abra aqui.
18 de maio de 2010
Recomendação...
Um dos Blogs que sigo fielmente é "Teología sin censura" de um conhecido teólogo espanhol, José Maria Castillo. Neste meu blog aparece o link da última postagem de forma permanente. No entanto,hoje quero destacar seu último escrito. Está em espanhol, claro, e escrito desde o contexto social espanhol (crise econômica sem precedentes) mas acho que vale a pena fazer o esforço para traduzir a linguagem e o contexto, principalmente eclesial.
Altamente recomendado para quem trabalha e sonha com uma Igreja diferente; para quem almeja uma vivência mais autêntica da fé cristã; para quem não se conforma com esta instituição esclerosada: clique aqui para ler.
11 de maio de 2010
Traídos pela própria memória
Perante a proposta da Campanha da Fraternidade Ecumênica
O ser humano é engraçado. Cada dia me surpreende mais a capacidade, e facilidade, que temos os humanos para “esquecer” aquelas coisas, expressões, experiências, propostas e até críticas que nos incomodam, que mexem com nosso “natural equilíbrio”.
Esquecemos as experiências negativas que nos magoaram (no entanto, a mágoa permanecerá aí do mesmo jeito), os erros cometidos, as responsabilidades não assumidas, etc. Apagamos da nossa memória consciente tudo aquilo que nos atrapalha, nos pesa ou nos incomoda. A nossa psicologia é assim.
Infelizmente, essa armadilha psicológica não se limita a aspectos emocionais. O esquecimento proposital atinge também a nossa experiência de fé. O tema da atual Campanha da Fraternidade (economia e vida) nos ajudará a compreender isto que afirmo ...
Que a economia deve estar a serviço da vida das pessoas é claro, imagino que ninguém será tão descerebrado para afirmar o contrário. O problema não está em admitir afirmações tão categóricas e claras, do tipo: a pessoa tem valor absoluto, enquanto o dinheiro é um valor relativo e subsidiário; os sistemas econômicos são meios criados pelas sociedades a serviço do bem comum; o lucro nunca pode ser mais importante que a dignidade das pessoas; e outras desse estilo. O conflito aparece quando tiramos consequências éticas, políticas, econômicas, sociais e pessoais dessas frases.
Mas a Campanha da Fraternidade nos coloca ainda outro desafio, desta vez nascido da proposta de vida cristã: não podemos servir a Deus e ao dinheiro. E pensando nessa frase tirada do Evangelho de Mateus é que me nasce um questionamento. Se os Evangelhos (a proposta de vida que Jesus fez e, através da Palavra viva que é a Bíblia, continua nos fazendo) são tão claros, como é que nós cristãos damos tão pouca credibilidade a determinadas palavras de Jesus? Quero dizer, e continuando com a reflexão que inicia este escrito, que é muito fácil esquecer aquelas propostas, críticas, advertências e outros ensinamentos que Jesus nos faz, enquanto lembramos direitinho daquelas que nos interessam, que não mexem com o nosso estilo de vida, que não questionam nossa consciência. Colocarei alguns exemplos.
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino, e dava banquete todos os dias. E um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava caído à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E ainda vinham os cachorros lamber-lhe as feridas...” (Lc 16,19) Texto bem conhecido, uma parábola revolucionária. O povo judeu acreditava que a riqueza era uma benção de Deus e a pobreza um castigo. Imaginemos esse povo escutando dos lábios de Jesus que o pobre Lázaro (único que tem nome na parábola, portanto dignidade) foi salvo (só pelo fato de ter sido pobre), enquanto o rico é condenado ao sofrimento eterno, somente pelo fato de não ter sido compassivo (se continuou sendo rico diante do pobre, quer dizer que não teve compaixão dele). Com certeza que ficaram escandalizados.
“Vendo isso, Jesus disse: - Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” (Lc 18,24). O que foi que Jesus viu antes de afirmar isso? Ele presenciou a decepção de um jovem que queria ser “como Jesus”, mas foi incapaz de largar fora sua riqueza. É que não se pode ser rico e cristão? Para Jesus não, infelizmente para nossa Igreja sim... Será que nos esquecemos destas frases de Jesus? E por que um rico não pode ser cristão? Porque ser cristão significa viver a serviço do outro, até doar a própria vida se for necessário. Diante dos milhões de indigentes que vivem morrendo, carecendo do mais básico para sobreviver, o que eu possuo sem necessidade se transforma em acusação para mim, revelando meu egoísmo. Uma pessoa com mais recursos econômicos que um país completo, uma família vivendo com o que milhões de pessoas precisam para não morrer, podem ser cristãos? Sim, deixando de ser ricos!
"Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o colocavam aos pés dos apóstolos; depois, ele era distribuído a cada um conforme a sua necessidade”. Essa é a verdadeira proposta cristã: ninguém rico, para que ninguém tenha que ser pobre, porque cada rico tem um preço muito alto: a vida de vários milhões de pessoas. O Reino que Jesus anuncia consiste nisso, na partilha para que a ninguém falte o necessário; em não acumular o desnecessário, para que a outros não falte o básico. O mundo não tem recursos suficientes para que todos sejamos ricos, mas tem para que todos vivamos dignamente, portanto, a riqueza de uns poucos está condenando hoje milhões de pessoas a morrer lentamente na miséria.
Talvez as palavras mais claras e, por isso mesmo, exigentes: “todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram” (Mt 25). Quantas coisas estão fazendo os católicos ricos do nosso país e do nosso mundo pelas massas de “pequeninos” excluídos, famintos, abandonados à miséria e violência, explorados...? Todos somos responsáveis, mas olhando o nosso estilo de vida, devemos afirmar que uns são mais responsáveis que outros. São Basílio, no século IV, já deixou bem claro escrevendo sobre os ricos que não partilham sua riqueza: “cometes tantas injustiças quanto as pessoas que poderias ajudar”.
E, por último, as palavras lembradas pela Campanha: “Não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). É fácil se justificar: “eu tenho dinheiro sim, mas não sou escravo dele”. Zaqueu se libertou efetivamente de sua riqueza no momento que decidiu: «A metade dos meus bens, Senhor, eu dou aos pobres; e, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais» (Lc 19,8). O Zaqueu rico se transforma em não-rico quando se faz seguidor de Jesus. Neste mundo dilacerado pela miséria, a fome e as doenças simples que matam milhões de inocentes, quem possui muito mais do que precisa para viver com dignidade,está numa situação de verdadeiro pecado. Talvez seja verdade que não serve ao dinheiro, se serve dele, do dinheiro próprio e do dinheiro que milhões de pessoas precisam para sobreviver, e que ele guarda para nada. Pode falar o que quiser e até pode ajudar muitos pobres, seu deus é o dinheiro, o luxo, o prazer, ou ele mesmo, sua riqueza fala por ele, gritando ao mundo sua falta de compaixão, de solidariedade, de amor. Pode um cristão viver numa situação tão gritante e escandalosa como essa? Talvez até se considerem católicos. Talvez até sejam militantes das “causas morais” da Igreja Católica (luta contra o aborto, os anticoncepcionais, em defesa da família, da educação católica...), o que não dá para compreender é que não tenham problemas de consciência diante dos milhares de pessoas que estão sendo “abortadas em vida” pela sua falta de solidariedade e compaixão.
Quando as palavras de Jesus nos incomodam, mexendo com nosso estilo de vida, é fácil cair na tentação de “cortar” o Evangelho, condenar ao esquecimento frases, parábolas, propostas, exigências de Jesus. Infelizmente o que mais predomina na Igreja de hoje são os cristãos “de cardápio”, aqueles que escolhem o que querem acreditar, o que querem aceitar da proposta de Jesus. E o resto do Evangelho? Não estão nem aí.
Quando Jesus aponta o dedo à nossa responsabilidade (por ação ou omissão) pelo massacre da miséria deste mundo, é fácil olhar para outra parte, colocar o foco da nossa fé na resolução milagreira e egoísta das nossas necessidades individuais, na satisfação das nossas carências e frustrações afetivas. Louvar a Deus sempre foi mais fácil que amar a Deus (quem somente pode ser amado através do amor aos outros). E lembremos que cristão é quem segue Jesus, tentando viver como ele (suas opções, atitudes, valores...) e não quem somente adora Jesus.
Quando a pressão cultural é mais forte que a vivência da fé, esta se transforma em um acréscimo, o enfeite de uma vida já “cozinhada”. Mas, uma fé que acrescenta sem mudar, que enfeita sem transformar, será realmente fé cristã? Duvido.
A Campanha da Fraternidade toca um tema necessário e urgente para o destino do nosso mundo e, principalmente, para o futuro da humanidade, ou de outra forma: para que a humanidade tenha futuro. Infelizmente, e tomara esteja enganado, acho que esta Campanha passará rápido e sem consequências, tanto pela sociedade como pela Igreja.
Gostemos ou não, a única forma de garantir vida digna para a humanidade toda, passa pela redução dos níveis de consumo, do bem-estar, da produção de “bens” desnecessários. Passa pela renúncia à atual corrida desenfreada do mercado e do consumo. Hoje se faz extremamente necessário e urgente renunciar ao lucro de uns poucos para garantir a dignidade de todos. E essa nova cultura começa por cada um.
São José de Calasanz abandonou definitivamente os palácios e as riquezas dos Cardeais romanos quando descobriu o rosto sofrido, abandonado e maltratado de Jesus Cristo nas crianças mais pobres. Exemplo chocante nos dias de hoje, como chocante foi e continua sendo Jesus. Mas fiquemos tranquilos, até isso tem solução... É só esquecer desses detalhes e, mais uma vez, olhar para nosso umbigo e fazer nosso próprio cardápio... A memória (e a falta dela) é nossa melhor aliada... e nossa pior inimiga.
Que a economia deve estar a serviço da vida das pessoas é claro, imagino que ninguém será tão descerebrado para afirmar o contrário. O problema não está em admitir afirmações tão categóricas e claras, do tipo: a pessoa tem valor absoluto, enquanto o dinheiro é um valor relativo e subsidiário; os sistemas econômicos são meios criados pelas sociedades a serviço do bem comum; o lucro nunca pode ser mais importante que a dignidade das pessoas; e outras desse estilo. O conflito aparece quando tiramos consequências éticas, políticas, econômicas, sociais e pessoais dessas frases.
Mas a Campanha da Fraternidade nos coloca ainda outro desafio, desta vez nascido da proposta de vida cristã: não podemos servir a Deus e ao dinheiro. E pensando nessa frase tirada do Evangelho de Mateus é que me nasce um questionamento. Se os Evangelhos (a proposta de vida que Jesus fez e, através da Palavra viva que é a Bíblia, continua nos fazendo) são tão claros, como é que nós cristãos damos tão pouca credibilidade a determinadas palavras de Jesus? Quero dizer, e continuando com a reflexão que inicia este escrito, que é muito fácil esquecer aquelas propostas, críticas, advertências e outros ensinamentos que Jesus nos faz, enquanto lembramos direitinho daquelas que nos interessam, que não mexem com o nosso estilo de vida, que não questionam nossa consciência. Colocarei alguns exemplos.
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino, e dava banquete todos os dias. E um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava caído à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E ainda vinham os cachorros lamber-lhe as feridas...” (Lc 16,19) Texto bem conhecido, uma parábola revolucionária. O povo judeu acreditava que a riqueza era uma benção de Deus e a pobreza um castigo. Imaginemos esse povo escutando dos lábios de Jesus que o pobre Lázaro (único que tem nome na parábola, portanto dignidade) foi salvo (só pelo fato de ter sido pobre), enquanto o rico é condenado ao sofrimento eterno, somente pelo fato de não ter sido compassivo (se continuou sendo rico diante do pobre, quer dizer que não teve compaixão dele). Com certeza que ficaram escandalizados.
“Vendo isso, Jesus disse: - Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” (Lc 18,24). O que foi que Jesus viu antes de afirmar isso? Ele presenciou a decepção de um jovem que queria ser “como Jesus”, mas foi incapaz de largar fora sua riqueza. É que não se pode ser rico e cristão? Para Jesus não, infelizmente para nossa Igreja sim... Será que nos esquecemos destas frases de Jesus? E por que um rico não pode ser cristão? Porque ser cristão significa viver a serviço do outro, até doar a própria vida se for necessário. Diante dos milhões de indigentes que vivem morrendo, carecendo do mais básico para sobreviver, o que eu possuo sem necessidade se transforma em acusação para mim, revelando meu egoísmo. Uma pessoa com mais recursos econômicos que um país completo, uma família vivendo com o que milhões de pessoas precisam para não morrer, podem ser cristãos? Sim, deixando de ser ricos!
"Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o colocavam aos pés dos apóstolos; depois, ele era distribuído a cada um conforme a sua necessidade”. Essa é a verdadeira proposta cristã: ninguém rico, para que ninguém tenha que ser pobre, porque cada rico tem um preço muito alto: a vida de vários milhões de pessoas. O Reino que Jesus anuncia consiste nisso, na partilha para que a ninguém falte o necessário; em não acumular o desnecessário, para que a outros não falte o básico. O mundo não tem recursos suficientes para que todos sejamos ricos, mas tem para que todos vivamos dignamente, portanto, a riqueza de uns poucos está condenando hoje milhões de pessoas a morrer lentamente na miséria.
Talvez as palavras mais claras e, por isso mesmo, exigentes: “todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram” (Mt 25). Quantas coisas estão fazendo os católicos ricos do nosso país e do nosso mundo pelas massas de “pequeninos” excluídos, famintos, abandonados à miséria e violência, explorados...? Todos somos responsáveis, mas olhando o nosso estilo de vida, devemos afirmar que uns são mais responsáveis que outros. São Basílio, no século IV, já deixou bem claro escrevendo sobre os ricos que não partilham sua riqueza: “cometes tantas injustiças quanto as pessoas que poderias ajudar”.
E, por último, as palavras lembradas pela Campanha: “Não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). É fácil se justificar: “eu tenho dinheiro sim, mas não sou escravo dele”. Zaqueu se libertou efetivamente de sua riqueza no momento que decidiu: «A metade dos meus bens, Senhor, eu dou aos pobres; e, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais» (Lc 19,8). O Zaqueu rico se transforma em não-rico quando se faz seguidor de Jesus. Neste mundo dilacerado pela miséria, a fome e as doenças simples que matam milhões de inocentes, quem possui muito mais do que precisa para viver com dignidade,está numa situação de verdadeiro pecado. Talvez seja verdade que não serve ao dinheiro, se serve dele, do dinheiro próprio e do dinheiro que milhões de pessoas precisam para sobreviver, e que ele guarda para nada. Pode falar o que quiser e até pode ajudar muitos pobres, seu deus é o dinheiro, o luxo, o prazer, ou ele mesmo, sua riqueza fala por ele, gritando ao mundo sua falta de compaixão, de solidariedade, de amor. Pode um cristão viver numa situação tão gritante e escandalosa como essa? Talvez até se considerem católicos. Talvez até sejam militantes das “causas morais” da Igreja Católica (luta contra o aborto, os anticoncepcionais, em defesa da família, da educação católica...), o que não dá para compreender é que não tenham problemas de consciência diante dos milhares de pessoas que estão sendo “abortadas em vida” pela sua falta de solidariedade e compaixão.
Quando as palavras de Jesus nos incomodam, mexendo com nosso estilo de vida, é fácil cair na tentação de “cortar” o Evangelho, condenar ao esquecimento frases, parábolas, propostas, exigências de Jesus. Infelizmente o que mais predomina na Igreja de hoje são os cristãos “de cardápio”, aqueles que escolhem o que querem acreditar, o que querem aceitar da proposta de Jesus. E o resto do Evangelho? Não estão nem aí.
Quando Jesus aponta o dedo à nossa responsabilidade (por ação ou omissão) pelo massacre da miséria deste mundo, é fácil olhar para outra parte, colocar o foco da nossa fé na resolução milagreira e egoísta das nossas necessidades individuais, na satisfação das nossas carências e frustrações afetivas. Louvar a Deus sempre foi mais fácil que amar a Deus (quem somente pode ser amado através do amor aos outros). E lembremos que cristão é quem segue Jesus, tentando viver como ele (suas opções, atitudes, valores...) e não quem somente adora Jesus.
Quando a pressão cultural é mais forte que a vivência da fé, esta se transforma em um acréscimo, o enfeite de uma vida já “cozinhada”. Mas, uma fé que acrescenta sem mudar, que enfeita sem transformar, será realmente fé cristã? Duvido.
A Campanha da Fraternidade toca um tema necessário e urgente para o destino do nosso mundo e, principalmente, para o futuro da humanidade, ou de outra forma: para que a humanidade tenha futuro. Infelizmente, e tomara esteja enganado, acho que esta Campanha passará rápido e sem consequências, tanto pela sociedade como pela Igreja.
Gostemos ou não, a única forma de garantir vida digna para a humanidade toda, passa pela redução dos níveis de consumo, do bem-estar, da produção de “bens” desnecessários. Passa pela renúncia à atual corrida desenfreada do mercado e do consumo. Hoje se faz extremamente necessário e urgente renunciar ao lucro de uns poucos para garantir a dignidade de todos. E essa nova cultura começa por cada um.
São José de Calasanz abandonou definitivamente os palácios e as riquezas dos Cardeais romanos quando descobriu o rosto sofrido, abandonado e maltratado de Jesus Cristo nas crianças mais pobres. Exemplo chocante nos dias de hoje, como chocante foi e continua sendo Jesus. Mas fiquemos tranquilos, até isso tem solução... É só esquecer desses detalhes e, mais uma vez, olhar para nosso umbigo e fazer nosso próprio cardápio... A memória (e a falta dela) é nossa melhor aliada... e nossa pior inimiga.
Um ditado para refletir....
Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.
Eduardo Galeano
26 de abril de 2010
Quando a mãe esta doente, os/as filhos/as sofrem
Amo profundamente a Igreja, daria a vida por ela, de fato estou entregando-a há muitos anos, mas estes últimos tempos estão me deixando tão abalado... Acredito profundamente na Igreja de Jesus Cristo, me sinto orgulhoso de fazer parte dela e é por isso que me produzem tanta dor os escândalos, as indecências, as barganhas e a politicagem dentro dela. Não quero analisar a situação, pois acho que nem precisa. Simplesmente quero expressar por escrito questionamentos, perguntas, sentimentos que surgem em mim neste momento...
Diante de tanto escândalo na Igreja ou causado por representantes oficiais dela, eu me pergunto:
- Quantos teólogos/as, sacerdotes, bispos, religiosos/as e leigos/as foram, nas últimas décadas, silenciados (quando não proibidos) desde o Vaticano por "problemas ideológicos" e quantos por problemas morais, sendo muitos desses problemas verdadeiros delitos?
- Quantos governos e sociedades (ou grupos sociais) foram e continuam sendo condenados pela Igreja simplesmente por defender "outras formas" de compreender o ser humano e de construir cultura, enquanto ficamos mudos e cegos diante do desrespeito da dignidade humana dentro da Igreja?
- Por que a instituição eclesiástica se mobiliza tão rápida e visceralmente contra o uso de preservativos e contraceptivos, ou contra as uniões homossexuais, ou contra a vida sexual fora do matrimônio... e nada faz contra aqueles que fabricam armas, ou contra os que negociam com a saúde dos pobres (ou com a falta de saúde e com seus medicamentos), ou contra os que continuam explorando crianças e mulheres?
- Por que ainda hoje representantes da Igreja continuam negando a comunhão a quem não casou na Igreja (ainda defendem que a sexualidade sem o carimbo matrimonial é pecado!), ou a quem vive um segundo relacionamento, e não têm problema de consciência para dar a comunhão (e continuar "em comunhão") a ditadores, banqueiros, empresários... Que pecado é mais grave, carecer do sacramento (se é que isso é pecado!) ou ser omisso e insensível diante da morte de milhões por carecerem do que eles têm de sobra e acumulam desnecessariamente?
- Quantos bispos estão do lado dos pobres do mundo e quantos são amigos dos ricos e poderosos? Quantos ficam indignados pelas vítimas da fome, das guerras, pelos milhões sem água potável, sem terra para trabalhar ou sem respeito dos seus direitos mínimos (educação, saúde, moradia...)?
- Quantos bispos são hoje perseguidos por denunciar a injustiça e quantos são hoje questionados (ou denunciados) por ter silenciado injustiças? Quantos bispos sabemos que são omissos diante dos escândalos de padres pedófilos, ou de padres alcoólatras ou autoritários ou machistas ou corruptos... A balança da justiça não parece ser igual para todos/as.
É triste ter que fazer estas perguntas, mas é ainda mais triste ficar calado/a e deixar que as coisas aconteçam. Amo a Igreja. Sinto dor por esta Igreja. Sei que a Igreja é muito mais que todas suas (e minhas) porcarias, mas não podemos permanecer em silêncio diante destas.
Amo a Igreja, mas quero uma Igreja diferente e trabalho cada dia para fazer isso acontecer.
Diante de tanto escândalo na Igreja ou causado por representantes oficiais dela, eu me pergunto:
- Quantos teólogos/as, sacerdotes, bispos, religiosos/as e leigos/as foram, nas últimas décadas, silenciados (quando não proibidos) desde o Vaticano por "problemas ideológicos" e quantos por problemas morais, sendo muitos desses problemas verdadeiros delitos?
- Quantos governos e sociedades (ou grupos sociais) foram e continuam sendo condenados pela Igreja simplesmente por defender "outras formas" de compreender o ser humano e de construir cultura, enquanto ficamos mudos e cegos diante do desrespeito da dignidade humana dentro da Igreja?
- Por que a instituição eclesiástica se mobiliza tão rápida e visceralmente contra o uso de preservativos e contraceptivos, ou contra as uniões homossexuais, ou contra a vida sexual fora do matrimônio... e nada faz contra aqueles que fabricam armas, ou contra os que negociam com a saúde dos pobres (ou com a falta de saúde e com seus medicamentos), ou contra os que continuam explorando crianças e mulheres?
- Por que ainda hoje representantes da Igreja continuam negando a comunhão a quem não casou na Igreja (ainda defendem que a sexualidade sem o carimbo matrimonial é pecado!), ou a quem vive um segundo relacionamento, e não têm problema de consciência para dar a comunhão (e continuar "em comunhão") a ditadores, banqueiros, empresários... Que pecado é mais grave, carecer do sacramento (se é que isso é pecado!) ou ser omisso e insensível diante da morte de milhões por carecerem do que eles têm de sobra e acumulam desnecessariamente?
- Quantos bispos estão do lado dos pobres do mundo e quantos são amigos dos ricos e poderosos? Quantos ficam indignados pelas vítimas da fome, das guerras, pelos milhões sem água potável, sem terra para trabalhar ou sem respeito dos seus direitos mínimos (educação, saúde, moradia...)?
- Quantos bispos são hoje perseguidos por denunciar a injustiça e quantos são hoje questionados (ou denunciados) por ter silenciado injustiças? Quantos bispos sabemos que são omissos diante dos escândalos de padres pedófilos, ou de padres alcoólatras ou autoritários ou machistas ou corruptos... A balança da justiça não parece ser igual para todos/as.
É triste ter que fazer estas perguntas, mas é ainda mais triste ficar calado/a e deixar que as coisas aconteçam. Amo a Igreja. Sinto dor por esta Igreja. Sei que a Igreja é muito mais que todas suas (e minhas) porcarias, mas não podemos permanecer em silêncio diante destas.
Amo a Igreja, mas quero uma Igreja diferente e trabalho cada dia para fazer isso acontecer.
14 de abril de 2010
Lástima ao ver hoje a minha querida Venezuela.
Morei por 10 anos na Venezuela, alguns dos anos mais felizes da minha vida. Fui companheiro de caminhada e de esperança do povo pobre. Acompanhamos e participamos do processo de transformação iniciado pelo MBR-200 e, infelizmente, abortado depois pelo cacique Chávez. Hoje sinto lástima ao ver como esse povo tranquilo, acolhedor, alegre e lutador, se transforma em mais um fantoche da ideologia militarista e violenta dos autoritários. As armas nunca construirão a paz. Os exércitos são um mal a superar. Nestes dias o presidente Chávez juramentou mais de 30.000 milicianos, civis armados para defender sua revolução. Que pena!
Foto: Globovisión
11 de abril de 2010
Perguntas indiscretas...
- Quem diz que onde comem dois, comem três?
- Como faço para achar uma estrela no meio de tanto céu?
- Para onde nos leva o sentimento, se quanto mais esqueço, mais sinto?
- Por onde é que se abre o céu, nesse azul imenso que contemplo?
- De que me fizeram por dentro, que desde fora não enxergo?
- Onde é que está a porta do céu, que a do inferno já conheço?
- Será que tudo foi dito, pois nem de criar temos vontade?
- O que se cozinha dentro de mim quando tão apagado me encontro?
- Que gelo me enche, que teu fogo não consegue nem tirar de mim uma lágrima?
- De onde nascem tantas perguntas se já nem pensar quero?
29 de março de 2010
Na noite, esperarei por ti
Neste tempo de Semana Santa, resgato do meu baú um velho poema de esperança. Posso imaginar Jesus Cristo escutando no seu coração palavras parecidas, suficientes para enchê-lo de coragem e poder continuar até o final. Quem sabe, possam ajudar-nos nas nossas noites escuras ...
Quando a escuridão invada teu horizonte
e nada possamos já esperar do dia,
quando a luz bata em retirada
e tudo se torne ameaçador,
não fujas, não temas,
porque na noite, esperarei por ti.
Quando sintas que tudo acaba
e que o esforço é já inútil,
quando somente enxergues sombras
e tua esperança murche
não sofras, não abandones,
na tua noite, esperarei por ti.
Quando os sonos virem pesadelos
e o teu coração se amedronte,
quando o cansaço te derrote
e as forças sucumbam envergonhadas,
não chores, não tremas,
na mais escura noite, esperarei por ti.
20-8-98
24 de março de 2010
Dom Oscar A. Romero, aos 30 anos do seu martírio
Homenagem simples a tão grande Pastor, Profeta e Mártir. Ofereço algumas páginas com reflexões, notícias, etc. sobre estes 30 anos do martírio de São Romero de América:
- Dom Pedro Casaldáliga: Jubileu de São Romero da América
- J.B. Libânio: Espiritualidade aliada ao compromisso político.
- Oscar Romero: mártir e profeta (Diocese de Mariana)
- Zenit
- Celebrando Monseñor Romero. (Espanhol)
- Agência Ecclesia
11 de março de 2010
Na sociedade atual, é possível educar nos limites?
No marco da Campanha da Fraternidade Ecumênica, deste ano 2010, com o tema: Economia e vida, fui convidado pelas escolas católicas de Belo Horizonte a dar uma palestra para educadores/as e funcionários/as sobre esta temática.
Com este plano de fundo, ofereço uma reflexão questionadora sobre um tema polêmico: a educação nos limites. Nesta sociedade de consumo e bem-estar, que tem como modelo de pessoa o ser-consumidor, com um sistema econômico totalmente focado na exploração da capacidade ilimitada que o ser humano tem de desejar, nesta cultura da riqueza e o prazer... Será possível educar nos limites? Quem pode educar no controle dos próprios limites, se todos nós somos consumidores compulsivos? Existe alguma alternativa? ...
3 de março de 2010
Além do oceano... Na velha Europa...
Uma viagem pelas contradições da realidade espanhola.
Responsabilidades na missão escolápia levaram-nos, nos últimos dias de fevereiro, por uma rápida viagem pela minha terra, o País Basco. Não vou fazer uma crônica da viagem, mas partilhar sentimentos, percepções e impressões surgidas nesta visita...
Clima versus realidade: uma das primeiras coisas que me chama a atenção cada vez que viajo para Europa, concretamente para Espanha, é a enorme importância que a meteorologia tem na vida da sociedade, na mídia e no universo de preocupações e diálogos entre as pessoas. Particularmente gosto muito da meteorologia, não se trata disso. O que me preocupa é quando transformamos os fenômenos climáticos (sejam extraordinários ou não) em tema estrela. Neste momento em que o mundo debate-se com a morte por culpa de fenômenos históricos, por desídia dos que “bem-estão”, por políticas econômicas injustas e cruéis, não é esta uma sutil proposta para fugir da realidade? Por motivos religiosos ou metereológicos, resulta mais cômodo olhar para o céu do que para o rosto de quem sofre. Num mundo que tem séculos em alerta vermelha, numa sociedade cheia de situações dolorosas e trágicas, nos preocupamos com o clima como se nossa vida estivesse em risco, quando o verdadeiro risco é do 80% da nossa humanidade, em situação permanente de sobrevivência. Contraditório, não é?
Crise versus férias: a crise econômica dos países ricos (infelizmente, a maior parte do mundo vive em permanente situação de crise) está afetando fortemente a prosperidade econômica da sociedade espanhola. As políticas e os políticos não levaram a sério os sintomas da crise, e agora, a improvisação não consegue segurar o bem-estar prometido e, ficticiamente, conseguido. Uma economia construída sobre o comércio virtual de hipotecas e créditos, visando somente o lucro máximo e veloz, sem as necessárias raízes da produção para a distribuição, não aguenta uma tempestade. Aumenta o desemprego, cai o nível de consumo (até agora totalmente desmedido), se cortam as ajudas sociais, os créditos enforcam a vida das famílias... mas ninguém renuncia à viagem nas férias. Não conheço os dados, mas seria bom saber quanto gastam as famílias espanholas nas suas férias, em viagens exóticas, em aventuras consumistas e desnecessárias. Com certeza que também este valor diminuiu com a crise, mas com certeza também que não é pequeno. Mais uma contradição?
Espetáculo versus cultura: Europa é um continente com história, com povos milenares, com uma riqueza cultural incalculável. Infelizmente hoje a cultura se transformou em espetáculo triste, deprimente, dantesco, grotesco. O mercado se apropriou da cultura, transformando-a em mercadoria de consumo, sofrendo também ela a lógica da produção comercial atual: bens supérfluos, desnecessários, frágeis, que produzam um prazer imediato e fugaz, que chamem a atenção sem acrescentar nada, que cativem sem enriquecer, que criem dependência do consumo e não do produto. A cultura virou espetáculo, num processo de embrutecimento acelerado, enchendo as horas vagas dos desocupados, dos que, cumprido o expediente, se abandonam ao tédio em espera do final de semana (verdadeiro tempo de salvação da juventude européia moderna). A produção é comercial, não cultural; o objetivo é o lucro, não a cultura; o convite é ao consumismo, não ao deleite. Coitada da cultura dos civilizados!
Existem alternativas? Graças a Deus existem. Nesta rápida visita mergulhamos numa realidade diferente da predominante. Não quero pecar por presunçoso, louvando o que é próprio, mas realmente o fenômeno social e eclesial que está acontecendo ao redor da Escola Pia, principalmente no País Basco e com reflexo em outros lugares do mundo, me enche de esperança. Centenas de jovens e adultos, inconformados com ser como todos/as, vivem experiências grupais e comunitárias nas que se propõe um crescimento integral, nos valores evangélicos (sendo cristãos pelo que vivem, não só pelo que acreditam), experimentando a partilha e a solidariedade com os mais desfavorecidos, procurando um sentido para suas vidas, construindo aos poucos um mundo melhor, uma Igreja mais viva e significativa, comprometida com a construção do Reino. Não é o paraíso nem o modelo perfeito, mas é uma experiência verdadeiramente alternativa, no meio de uma sociedade que não enxerga além de seu nariz e de seu cartão de crédito. É um pequeno mundo novo e diferente acontecendo no coração do velho mundo. Mais uma contradição? Neste caso: abençoada contradição!
Clima versus realidade: uma das primeiras coisas que me chama a atenção cada vez que viajo para Europa, concretamente para Espanha, é a enorme importância que a meteorologia tem na vida da sociedade, na mídia e no universo de preocupações e diálogos entre as pessoas. Particularmente gosto muito da meteorologia, não se trata disso. O que me preocupa é quando transformamos os fenômenos climáticos (sejam extraordinários ou não) em tema estrela. Neste momento em que o mundo debate-se com a morte por culpa de fenômenos históricos, por desídia dos que “bem-estão”, por políticas econômicas injustas e cruéis, não é esta uma sutil proposta para fugir da realidade? Por motivos religiosos ou metereológicos, resulta mais cômodo olhar para o céu do que para o rosto de quem sofre. Num mundo que tem séculos em alerta vermelha, numa sociedade cheia de situações dolorosas e trágicas, nos preocupamos com o clima como se nossa vida estivesse em risco, quando o verdadeiro risco é do 80% da nossa humanidade, em situação permanente de sobrevivência. Contraditório, não é?
Crise versus férias: a crise econômica dos países ricos (infelizmente, a maior parte do mundo vive em permanente situação de crise) está afetando fortemente a prosperidade econômica da sociedade espanhola. As políticas e os políticos não levaram a sério os sintomas da crise, e agora, a improvisação não consegue segurar o bem-estar prometido e, ficticiamente, conseguido. Uma economia construída sobre o comércio virtual de hipotecas e créditos, visando somente o lucro máximo e veloz, sem as necessárias raízes da produção para a distribuição, não aguenta uma tempestade. Aumenta o desemprego, cai o nível de consumo (até agora totalmente desmedido), se cortam as ajudas sociais, os créditos enforcam a vida das famílias... mas ninguém renuncia à viagem nas férias. Não conheço os dados, mas seria bom saber quanto gastam as famílias espanholas nas suas férias, em viagens exóticas, em aventuras consumistas e desnecessárias. Com certeza que também este valor diminuiu com a crise, mas com certeza também que não é pequeno. Mais uma contradição?
Espetáculo versus cultura: Europa é um continente com história, com povos milenares, com uma riqueza cultural incalculável. Infelizmente hoje a cultura se transformou em espetáculo triste, deprimente, dantesco, grotesco. O mercado se apropriou da cultura, transformando-a em mercadoria de consumo, sofrendo também ela a lógica da produção comercial atual: bens supérfluos, desnecessários, frágeis, que produzam um prazer imediato e fugaz, que chamem a atenção sem acrescentar nada, que cativem sem enriquecer, que criem dependência do consumo e não do produto. A cultura virou espetáculo, num processo de embrutecimento acelerado, enchendo as horas vagas dos desocupados, dos que, cumprido o expediente, se abandonam ao tédio em espera do final de semana (verdadeiro tempo de salvação da juventude européia moderna). A produção é comercial, não cultural; o objetivo é o lucro, não a cultura; o convite é ao consumismo, não ao deleite. Coitada da cultura dos civilizados!
Existem alternativas? Graças a Deus existem. Nesta rápida visita mergulhamos numa realidade diferente da predominante. Não quero pecar por presunçoso, louvando o que é próprio, mas realmente o fenômeno social e eclesial que está acontecendo ao redor da Escola Pia, principalmente no País Basco e com reflexo em outros lugares do mundo, me enche de esperança. Centenas de jovens e adultos, inconformados com ser como todos/as, vivem experiências grupais e comunitárias nas que se propõe um crescimento integral, nos valores evangélicos (sendo cristãos pelo que vivem, não só pelo que acreditam), experimentando a partilha e a solidariedade com os mais desfavorecidos, procurando um sentido para suas vidas, construindo aos poucos um mundo melhor, uma Igreja mais viva e significativa, comprometida com a construção do Reino. Não é o paraíso nem o modelo perfeito, mas é uma experiência verdadeiramente alternativa, no meio de uma sociedade que não enxerga além de seu nariz e de seu cartão de crédito. É um pequeno mundo novo e diferente acontecendo no coração do velho mundo. Mais uma contradição? Neste caso: abençoada contradição!
1 de fevereiro de 2010
"É tempo ainda de amar sem fronteiras"
Com esta frase inicia-se a música "Comunhão da terra", da Missa Cabocla (da banda Raízes Caboclas), e com ela quero começar este comentário, refletindo e partilhando a experiência vivida por mim em Amazonas ...
Pelo terceiro ano consecutivo, no mês de janeiro, participei como assessor do curso de teologia organizado pelo Projeto Teologia Viva de Belo Horizonte e a Diocese de Alto Solimões (Amazonas), com a participação de mais de 60 agentes de pastoral de todas as paróquias e comunidades.
Foram três anos de convivência e profunda fraternidade, nos quais todos nos enriquecemos com a experiência, o pensar e o sentir de cada pessoa. Três anos de aproximação a uma realidade tão complexa e difícil como cativante. Três anos fazendo teologia numa Igreja cabocla, mestiça, popular, pobre economicamente, mas riquíssima em cultura, humanidade e testemunho cristão.
Nesse tempo conheci pessoas simples, profundas, alegres no meio de grandes dificuldades, disponíveis e comprometidas com uma Igreja viva e “em pé de testemunho” como diria Dom Pedro Casaldáliga. Neste tempo em que a Igreja brasileira se debate entre a resistência por manter com vida suas raízes libertadoras e evangélicas, e a tentação de acomodação, ou de concorrência com igrejas pentecostalistas, ou de procura do sucesso comercial... é bom respirar o ar fresco e fiel da Igreja de Alto Solimões. Começando pelo seu pastor, Dom Alcimar, um verdadeiro profeta, um homem claro, profundamente espiritual e, por isso, radicalmente comprometido com a vida digna de seu povo. Todos os dias agradecerei a Deus o presente de sua amizade. E falando de sacerdotes, não posso deixar de reconhecer aqui o apoio incondicional do Pe. Valdemir e a vida doada em cada pequena coisa do Pe. Elias. Mas eles não são nada sem suas comunidades, sem esse povo cristão, caboclo, pobre aos olhos do mundo, mas um tesouro no coração de Deus e da Igreja.
São muitos nomes e rostos que ficarão para sempre gravados no meu diário afetivo. Vocês fazem parte da minha história, da minha vocação e da minha vida. Agora, envolvido de novo nos trabalhos administrativos e pastorais de nossas obras escolápias, entre uma reunião e outra, seus olhares, sorrisos, perguntas, sonhos, preocupações... emergem no meu coração, me levando numa viagem por rios, florestas e igarapés, que alegram minha rotina e alimentam minha esperança: o Reino está surgindo.
É tempo ainda de amar sem fronteiras, superando distância e tempo... no amor de Deus nos encontraremos todos num eterno abraço de paz, partilhando o tucumã e açaí com farinha, dançando o quatipurú, ou de mãos dadas na luta pela paz e a justiça.
Muito obrigado, Diocese de Alto Solimões. Que Deus continue fazendo de vocês uma bênção para este mundo.
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