Sem rosto
Sem nome
Sem história
Uma sombra desconhecida
Um grito amordaçado
Invadindo a noite proibida
Pulando os muros de ferro
Os oceanos engoliram suas memórias
Os rios arrastaram suas esperanças
Por desertos e montanhas
Por estradas e trilhos
Multidões anônimas
Semeadas nas entranhas da terra
Quem inventou as fronteiras?
Quem criou essa asneira chamada pátria?
Quem dividiu a família humana?
Neste terreiro cósmico
Não existem ilegais
Ninguém deveria se sentir estranho
Nesta casa planetária
Todo rosto é irmão
Toda vida é querida
Todo sonho é sagrado
8 de fevereiro de 2015
20 de julho de 2014
Revolução
Um rio de vontades
Arremetendo com fúria
Contra os muros levantados
Pela indiferença histórica
Um furacão de raivas
Arrancando de raiz
Séculos de injustiças
Edificadas com sangue
Uma multidão de anônimos
Erguendo a voz e o canto
Contra o silêncio imposto
Pelo terror estabelecido
O mundo se levantando
De um letargo forçoso
De uma noite opressora
De um inverno eterno
Uma revolução taciturna
Um povo novo ressurgindo
Um amanhecer desabrochando
Uma esperança se engendrando
Arremetendo com fúria
Contra os muros levantados
Pela indiferença histórica
Um furacão de raivas
Arrancando de raiz
Séculos de injustiças
Edificadas com sangue
Uma multidão de anônimos
Erguendo a voz e o canto
Contra o silêncio imposto
Pelo terror estabelecido
O mundo se levantando
De um letargo forçoso
De uma noite opressora
De um inverno eterno
Uma revolução taciturna
Um povo novo ressurgindo
Um amanhecer desabrochando
Uma esperança se engendrando
14 de junho de 2014
Meditações
Nasceu o sol por trás do horizonte
E a escuridão que se achava eterna
Com um vermelho arrebatamento
Abandonou envergonhada
O palco que a exaltou
Nada é eterno neste universo infinito
A não ser o tempo que nos conduz
Por esta sedutora aventura
Indo e vindo
Surgindo e sumindo
Alçando e descendo
Amando e morrendo
Ninguém permanece para sempre no topo
O impiedoso tempo encarregar-se-á
De demolir os alicerces
De tão arrogante tentativa
As mentiras que o sustentavam
As ofensas que o alimentaram
A hipocrisia que o protegia
E a escuridão que se achava eterna
Com um vermelho arrebatamento
Abandonou envergonhada
O palco que a exaltou
Nada é eterno neste universo infinito
A não ser o tempo que nos conduz
Por esta sedutora aventura
Indo e vindo
Surgindo e sumindo
Alçando e descendo
Amando e morrendo
Ninguém permanece para sempre no topo
O impiedoso tempo encarregar-se-á
De demolir os alicerces
De tão arrogante tentativa
As mentiras que o sustentavam
As ofensas que o alimentaram
A hipocrisia que o protegia
26 de abril de 2014
Uma nuvem peregrina
Deixando um rastro de aflição e pranto
Nem o canto dos pássaros
Nem a melodia dos ventos
Conseguiam animar seu passo
Quais sinistros presságios
Arrojará sua andança?
Até onde chegará
Sua infeliz odisseia?
Por que esse abatido gesto?
Por quem tão lastimoso rosto?
Perguntava interessado
Um fugitivo passarinho
Desde onde arrastando essa pena?
Até quando empurrando essa dor?
Indagava intrometida
Uma apreensiva borboleta
Mas a nuvem peregrina
Prolongava sua dolorosa romaria
Engolindo em segredo suas dores
Soluçando copiosamente suas mágoas
9 de abril de 2014
Repetidamente
Intentando uma e outra vez
Insistindo sempre mais uma vez
Sem reparar no cansaço
Sem render-se ao fracasso
Com o semblante renovado
Com a esperança imaculada
Desvendando o horizonte certo
Desenhando sonhos no céu
Até descobrir a estrela esperada
Até despontar a jornada definitiva
Uma e outra vez
Sempre mais uma vez
Insistindo sempre mais uma vez
Sem reparar no cansaço
Sem render-se ao fracasso
Com o semblante renovado
Com a esperança imaculada
Desvendando o horizonte certo
Desenhando sonhos no céu
Até descobrir a estrela esperada
Até despontar a jornada definitiva
Uma e outra vez
Sempre mais uma vez
8 de março de 2014
Corpo de mulher
Na pele curtida
As marcas profundas
De uma história
Sofrida em silêncio
De um desprezo
Carregado no rosto
De uma ofensa
Injetada na alma
No olhar infinito
Os sonhos germinados
De uma vida ditosa
Sem ódio nem raiva
De um abraço eterno
Sem custo nem ameaça
De um beijo sincero
Sem medo nem pena
Na memória florida
Os nomes gravados
De quem semeou a vida
Com cada gota do seu sangue
De quem levantou a bandeira
Para conquistar o direito
De quem engravidou de rebeldia
Para engendrar um futuro novo
No corpo firme
Os sinais manifestos
De feridas sangrantes
Choradas em noturna solidão
De sacrificados esforços
Na humildade do afeto sem par
De luminosas gargalhadas
Geradas nas redes do amor
De uma história
Sofrida em silêncio
De um desprezo
Carregado no rosto
De uma ofensa
Injetada na alma
No olhar infinito
Os sonhos germinados
De uma vida ditosa
Sem ódio nem raiva
De um abraço eterno
Sem custo nem ameaça
De um beijo sincero
Sem medo nem pena
Na memória florida
Os nomes gravados
De quem semeou a vida
Com cada gota do seu sangue
De quem levantou a bandeira
Para conquistar o direito
De quem engravidou de rebeldia
Para engendrar um futuro novo
No corpo firme
Os sinais manifestos
De feridas sangrantes
Choradas em noturna solidão
De sacrificados esforços
Na humildade do afeto sem par
De luminosas gargalhadas
Geradas nas redes do amor
21 de fevereiro de 2014
A festa dos idiotas
Comemos sem digerir
Beijamos sem saborear
Amamos sem renunciar
Na festa dos idiotas
Nada tem sentido
Tudo virou automático
Sem criatividade
Nem espontaneidade
Alienado rito tragicômico
Repetido até a extenuação
Na festa dos idiotas
Os mais espertos têm a batuta
E dirigem a orquestra
Sem jeito nem maneira
Enquanto os idiotas da vida
Arrastam seus passos
Num frenesi alcoolizado
Num delírio narcotizado
Na festa dos idiotas
Palavras vazias
Enfeitam as paredes e as salas
Enchendo os olhos
De fascinados leitores
Que engolem a vida
Sem questionar nem sentir
Na festa dos idiotas
A ideologia é servida
Em sedutores pratos
De manjares exóticos
Enquanto empapuçados convidados
Dormitam recostados
Sobre a miséria do mundo
Existimos sem rumo
Dançamos sem gosto
Sofremos sem pranto
Morreremos sem luto
14 de fevereiro de 2014
Me chamarão de louco
Por sonhar com estrelas impossíveis
Por desenhar florestas no deserto
Por perguntar aos ventos
Quem causou esta barbárie
Me chamarão de louco
Por erguer o rosto ao chegar a tempestade
Por resistir em silêncio agravos e calúnias
Por semear no crepúsculo
Harmonias íntimas de amor e de luta
Me chamarão de louco
Por confiar ainda na bondade humana
Por esperar cada noite o renascer do dia
Por proclamar aos gritos
Que a vida está viva no coração da gente
5 de fevereiro de 2014
Caminhei silencioso
Caminhei silencioso
Para não acordar os ventos
Para não alertar as estrelas
Para não acender o sol
Caminhei silencioso
No meio de sombras
No meio das presas
No meio da dor
Caminhei silencioso
Sem procurar um destino
Sem olhar o vizinho
Sem importar o suor
Caminhei silencioso
Confiando nos sonhos
Confiando nos outros
Confiando em vão
Caminhei silencioso
Passo a passo pela vida
Passo a passo pelo mundo
Passo a passo pela fé
23 de dezembro de 2013
Está chegando
Está chegando
Devagar
Sem fazer barulho
Acariciando a terra em cada passo
Beijando o vento em cada alento
Está chegando
Atravessando decididamente
Obstáculos e tentações
Evitando com destreza
Espinhas e ameaças
Está chegando
Para proclamar aos ventos
Que o sol eterno já vai nascer
Que acabou o reinado
Das sombras e da morte
Erguendo a esperança
De quem vive abatido
Acordemos!
Gritemos sem medo ao mundo
Que está chegando o amanhã
E como uma folha em branco
Estenderá seu horizonte
Para que nele desenhemos
Com o pincel do coração
E a tinta das decisões
Cada um dos nossos sonhos
Cada uma das nossas lutas
Delineando com amor
Os nomes e os rostos
Que fecundarão nossa memória
Que fecundarão nossa memória
11 de dezembro de 2013
Em um dia tormentoso
Em um dia tormentoso
Abri meu coração
Amedrontado
E descobri com surpresa
Feridas eternamente abertas
Flores ainda coloridas
Risos e olhares afetuosos
Lágrimas e dores semeadas
Amores com temores misturados
Esperanças e fraquezas entrelaçadas
Em um dia tormentoso
Abri meu coração
Fugitivo
Despertando sem pretender
Agradecimentos e remorsos
Vergonhas e satisfações
Dívidas e saudades
Afetos e desenganos
Em um dia tormentoso
Abri meu coração
Complicado
2 de novembro de 2013
Francamente
Nasci palhaço
E morrerei
Com um sorriso
Enfeitando meu coração
Já chorei no meu caminho
Menos do que deveria
Mais do que gostaria
Engolindo em silêncio o pranto
Digerindo na solidão a dor
E reclamei muito também
Pelos defeitos não admitidos
Pelas feridas sem querer abertas
Por sonhos frustrados
E por guerras sofridas
Mas não tenho como fugir
Do meu destino cômico
Da risada que virou rotina
Da piada com que interpreto a vida
Da bobagem que rouba um sorriso
Até do mais fechado dos rostos
Nasci palhaço
E partirei rindo
Deste mundo paciente
Que suportou meu circo
25 de outubro de 2013
O céu abriu-se
Como um sorriso transparente
Sincero e acolhedor
E todos os olhares
Concentraram-se nele
Como aguardando uma palavra
O céu abriu-se em silêncio generoso
Invadindo os corações agitados
Pela violência do temporal
E os assustados rostos
Sossegaram-se espelhando
A beleza do espetáculo oferecido
O céu abriu-se harmoniosamente
Inundando de luz o dia
Rachando as trevas
Com um vermelho libertário
Lembrando para todos
Que não há tempestade eterna
Nem escuridão que suporte
O embate de um povo
Quando em rebeldia se levanta
12 de outubro de 2013
Autorretrato
Carregando poucas coisas
Na minha mochila
Um sonho
Algumas canções
E uma alegria
Que nada e ninguém
Conseguirão murchar
Nem as injustiças
Do poderoso
Nem as calúnias
Do invejoso
Nem a ironia
Do arrogante
Nem o desprezo
Do orgulhoso
Cheguei a este mundo
Sorrindo na dor
Cantando na solidão
Sonhando acordado
Com um amanhecer
De luz para todos
Com flores e pássaros
Enfeitando a vida
Com melodiosas estrelas
Pronunciando mil nomes
Com novas paisagens
Onde semear generoso
Um sorriso sincero
Um sonho de amor fraterno
E umas poucas canções
22 de setembro de 2013
Ares puros
Respiremos ares puros
Renovados
Revolucionados
Oxigênio gerado
Nas risadas estrondosas das crianças
No olhar sincero dos apaixonados
No beijo nervoso da mãe novata
No abraço profundo do amigo fiel
Para que ninguém se asfixie mais
Nas poluídas atmosferas
Que torturam e matam
No bafo que se eleva
Do esforço ingente do operário explorado
Da tristeza silenciosa do indígena desprezado
Da bestialidade imposta à criança soldado
Da violência tatuada no rosto feminino
Do odor insuportável dos lixões habitados
Dos rios de sangue inocente vertidos na terra
Respiremos ares puros
Que renovem nossa alma
Que revolucionem nossa consciência
E nos comprometam a vida
6 de setembro de 2013
Uma só palavra
Uma só palavra
Pode definir o destino do mundo
Uma só palavra
De quem não nos representa
De quem não escolhemos
De quem não nos conhece
Nem sabe nada
Dos nossos anseios
Das nossas necessidades
Dos nossos sentimentos
Uma só palavra
Para saber se haverá amanhã
Se os nossos filhos poderão sorrir
E a nossa esperança dar seus frutos
Uma só palavra
Para sonhar e semear o futuro
Ou chorar de raiva pelo presente perdido
Uma palavra
Que nos torne mais humanos
Ou bem uma palavra
Que acorde o monstro que levamos dentro
Uma palavra
Que nos faça irmãos
Ou essa outra palavra
Que nos converte em animais
Uma só palavra
Pode marcar os rumos da humanidade
Uma só palavra
De quem governa o reino da ambiguidade
O presidente de uma pátria sem povo
Com uma bandeira ensanguentada
De um Estado fracassado e hipócrita
Que somente sabe cevar os ódios
Uma só palavra
Pode destruir ou salvar o mundo
A palavra de quem frustrou os sonhos
Nossos sonhos de um mundo diferente
Seus próprios sonhos de uma democracia real
A palavra daquele que o mundo
Reconheceu como defensor da paz
E hoje urina nela sem pudor nenhum
Para manter seus privilégios a preço de humanidade
Uma só palavra
Pode marcar a história
Ou iniciar sua extinção
Uma só palavra
E todos esperamos e exigimos seja esta:
PAZ!
15 de agosto de 2013
Perguntas sem resposta
Pelo significado da história
Pela bagagem que incansavelmente
Carregamos na memória
E não achei a resposta certa
Simplesmente fiquei calado
Relendo nomes e lugares
Revivendo afetos e feridas
Saboreando abraços e lágrimas
Agradecendo rostos e palavras
Me perguntaram
Pelo sentido da vida
Pela esperança que gratuitamente
Vai nutrindo nossos dias
E não soube responder certeiramente
Apenas fechei os olhos
Adivinhando um amanhecer em paz
Imaginando gargalhadas e beijos
Deleitando encontros e reconciliações
Sustentando meu compromisso diário
4 de agosto de 2013
Procuremos
Procuremos na memória
O frescor que nos roubaram
A alegria sequestrada
E a esperança clandestina
E quando chegarem, porque virão
Os semeadores de trevas
Que não se atemorizem
Os rebentos do nosso amor
Os brotos da vida
Que vamos tecendo
Na trama dos nossos medos
No tear das nossas sombras
Procuremos no horizonte
O céu que nos foi prometido
Acariciando esta terra
Que abraça nossas lutas
Procuremos na distância
O encontro definitivo
Que aliviará nossas penas
Como bálsamo para as feridas
Procuremos no presente
A razão dos nossos esforços
Que aquecerá o nosso sangue
Quando a noite se faça eterna
28 de julho de 2013
Me pesa o mundo
Me pesa o mundo
Tomada de: http://mwfpress.com |
Sei perfeitamente
Que não o carrego sozinho
E sei também
Que normalmente
É ele quem me carrega
Mas mesmo assim
Me pesa o mundo
Como uma carga gigante
Que tivessem colocado
No fundo da minha retina
Me pesa este mundo
Quando não amanhece
Em todo seu esférico horizonte
Condenando a seus filhos
A uma eterna noite
Me pesa este mundo
Que não quer saber
Que a fome é mais cruel
Quando exibindo o prato cheio
Se proíbe o seu deleite
Me pesa um mundo
Que vira de costas
Para não atender os rostos
Que choram e tremem
Que faz de conta
E abandona friamente
A quem fugindo da morte
Enfrenta fronteiras
E assalta as barreiras
Me pesa o mundo
Que fica mudo
E se evade surdo
Enquanto as armas detonam
A infância mais terna
Me pesa este mundo
Que se diverte e engana
Com fugazes fulgores
E opulentos excessos
Me pesa o mundo
Que vive na superfície
Ocultando e esquivando
O que na profundeza ocorre
Me pesa este mundo
Que narcotiza a consciência
Entorpecendo a raiva
Sepultando a mudança
Enaltecendo a indiferença
21 de julho de 2013
Tu estás em todos
Veio tua vaporosa figura
Até a minha memória
Aquecendo as lembranças
Que agora me nutrem
Um rosto diverso
Um nome entre outros
Um corpo abraçado
Uma voz acompanhada
Porque tu és todos os corpos
Estás em todas as vozes
Te vejo em todos os rostos
Te encontro em todos os nomes
Num frio amanhecer
Veio até a minha presença
Tua vaporosa lembrança
Despertando o ardente desejo
De abraçar-te em todo abraço
De beijar-te em todos os rostos
De amar-te em cada encontro
15 de julho de 2013
Persistência
Enquanto o pássaro cantar
Confiando no vento
Que carrega seus sons
Até o ouvido amante
Enquanto as estrelas brilharem
Na mais escura noite
Esperando que suas faíscas
Dancem harmoniosamente
Para deleite dos namorados
Enquanto a flor se abrir
Exibindo seu coração colorido
Exalando seu sedutor perfume
Desejando avivar o afeto
De quem ama em secreto
Enquanto o sol nascer
Revolucionando cada dia o horizonte
Não haverá escuridão que me acanhe
Nem silêncio que me intimide
Nem solidão que me congele
Nem solidão que me congele
7 de julho de 2013
Pequena e delicada
É a vida que nos confiam
A vida própria
E a vida alheia
A vida do mundo
E a vida futura
Pequena e delicada
É a alma de quem nos ama
E em nós confia
Conosco se entrega
Por nós se arrisca
De nós se nutre
Pequena e delicada
É a flor com amor oferecida
Para agradecer a história
E florir o coração
Embelezando a vida
Enternecendo a alma
27 de junho de 2013
Insone
No silêncio da noite
Quando a vida viajava ainda
Pelas estradas do cansaço
Arrastando a sombra
Pelas sendas já pisadas
Acordou sem motivo
Na imensidão noturna
De um véu iluminado
Por milhões de sonhos
Fugitivos e travessos
anciãos ou recém-nascidos
Acordou sem desejá-lo
Na monotonia escura
De uma vida sem estrelas
Quando a lua namoradiça
Convidava radiante e tentadora
Ao eterno abraço dos insones
Acordou sem alternativa
No raiar de uma nova aventura
Com o coração atravessado
Pelo desejo de devorar o dia
Até retornar vazio e cansado
Ao seio que lhe proverá de vida
19 de junho de 2013
Indignação
Por que não consegues enxergar
As raízes de tua cadeira
As mãos que tecem
Com sofrimento e fome
O teu colossal salário?
Se defendes apenas ao rico
E proteges com tuas leis
Aos que já têm resguardo
Nos seus privilégios
Quem olhará então para baixo
Para os que sobrevivem, somente
E agora se revoltam indignados
Por tanto sistema podre
E tanta promessa falsa?
Quem te recomendou
Responder aos seus lamentos
Com teus cães de guarda
Açoitando a esperança
De um povo que não aguenta
Tanto circo sem palhaço
De um futuro que nos aguarda
Além das trevas do presente?
16 de junho de 2013
Quando o frio chegar
Quando o frio chegar
Com seus assovios assustadores
Amedrontando as forças
Paralisando e escurecendo
Os ingênuos sonhos juvenis
Quando o frio chegar
Não deixes o sorriso murchar
Nem extinguir a alegria
Nem congelar a ternura
Quando o frio chegar
Com seu silêncio ameaçador
No permitas que o coração emudeça
Nem que se acobardem os olhos
Renunciando medrosos
À espera paciente
Do nascer do sol
Dilacerador das trevas
Que enevoaram a esperança
Quando o frio chegar
Não soltes minha mão trêmula
Nem esqueças dos abraços cálidos
Que outrora semearam minha alma
Com o vigor do afeto
E o ardor da entrega
Quando o frio chegar
Que nos surpreenda juntos
Aquecendo o mundo
Com o nosso sangue vertido
Alimentando a terra
Com o nosso amor doado
9 de junho de 2013
Ser como tu
Como tu
Ser como tu
Como tu
Água na areia
Envolvendo com afabilidade
Empapando silenciosamente
Como tu
Vento na praia
Aliviando com generosidade
Afagando carinhosamente
Como tu
Sol no inverno
Aquecendo com tenacidade
Iluminando gratuitamente
Como tu
Que nem imagina ser assim
Um diminuto ser anônimo
No meio da algazarra
Empequenecido pelos gritos
Desprezado pelo brilho
De estrelas fugazes e presunçosas
Como tu
Um sonho na distância
Um perfume inspirador
Como tu
Uma voz omitida
Um coração ignorado
Como tu
Ser como tu
2 de junho de 2013
Tua ferida aberta
Expõe sem pudor
A história da tua raiva
As raízes da tua dor
A origem do teu pranto
Como num mapa aberto
Descubro claras marcas
De ignominioso desprezo
Rios de violência
Vertidos sem motivo
Num mar de culpa e vergonha
Cordilheiras de opróbio
Que deves superar cada dia
Para poder erguer a vida
E descobrir o céu
Tua ferida aberta
É um grito silenciado
Uma lágrima encalecida
Uma dor anestesiada
Que tenta fugir disfarçada
À procura de novas paisagens
Onde não exista mais
A palavra que fere
E a agressão que humilha
26 de maio de 2013
Semeando nas nuvens
Elevando acordes improvisados
Notas sinceras que nascem
No mais profundo
Deste coração boêmio
Pelo dia canto às nuvens
Aos passarinhos errantes
Aos ventos indiscretos
E aos reflexos do sol irmão
De noite canto às estrelas
Às sempre presentes sombras
Aos sonhos que o sol arrastou
E à lua minha sugestiva amiga
Olho o céu e canto
Semeando notas em cada nuvem
Ocultando nomes em cada estrela
Adivinhando vozes na suave brisa
Intuindo rostos no céu eterno
Intuindo rostos no céu eterno
18 de maio de 2013
Grita
Grita teu nome
Tua raiva
Tua impotência
Grita e não pares mais
Até derrubar os gelos
Que envolvem e protegem
O coração dos indiferentes
Grita e não aceites mais
A humilhação de tua raça
A miséria de tua vida
O esquecimento obrigado
Grita sem cessar
Até arrebentar o coração
Deste mundo surdo
Grávido e expectante
11 de maio de 2013
A pé
Arrastando a vida
Por trilhas empoeiradas
E veredas sombrias
Empurrando a esperança
de alcançar algum destino
Que faça merecer um dia
Tanto esforço realizado
A pé, de novo a pé
Carregando o mundo
Em meio a pedras e feridas
Por cima de espinhos e prantos
Resistindo o frio manhaneiro
Aturando a solidão eterna
Sem mais suor que o sangue
Vertido pela fé dilacerada
A pé, eternamente a pé
Com o olhar perdido
Em um horizonte impossível
Açoitado pelos ventos atrozes
Semeando silenciosamente
O cansaço acumulado na alma
Derramado em cada passo
De uma esfomeada sombra
A pé, infatigavelmente a pé
Acordando com a lua
Viajando com as estrelas
Alimentando-se do tempo
Procurando no infinito
O que foi negado na história
Até o dia em que o sol anuncie
Que o dia contigo é mais dia
6 de maio de 2013
Meio-dia
Foi-se embora o vigor inicial
O momento de acometer aventuras
De acordar entusiasmado
De aproveitar o frescor
E a luz nascente
Está chegando o meio-dia
Quando o sol se torna um peso
E já não mais desperta o ânimo
Quando o cansaço acumulado
Anda a procura de uma sombra
Onde reencontrar a esperança
Está chegando o meio-dia
E as aves já não cantam risonhas
Anunciando que a vida germina
Agora o silêncio impera no deserto
Os sonhos se abrasam calmamente
Enquanto o sol declina inevitável
1 de maio de 2013
Imenso e inocente
Seu olhar imenso e inocente
Como se o universo completo
Estivesse concentrado nele
Como se um oceano profundo
Inundasse cada uma de suas pupilas
Como se toda a história
Pudesse ser compreendida na sua luz
E no seu silêncio interpelador
Um interrogante imperioso:
No seu olhar
Imenso e inocente
Uma eternidade de frustração
Promessas descumpridas
E sonhos abandonados
Através do seu olhar
Imenso e inocente
Uma esperança que não morre
Um futuro que nos aguilhoa
Uma terra que nos suplica
21 de abril de 2013
A alma sedenta
A alma sedenta
Não vive de promessas
Nem de ilusões vãs
Farta de formalismos
Não aceita mais falsidades
Nem palavras artificiais
Sempre insatisfeita
Procura nos fundos
O que a aparência esconde
A alma que degustou o céu
Não se satisfaz com mixarias
Nem com sonhos de fumaça
A alma sedenta
Nunca abandonará sua busca
De outras águas e outros beijos
Com quem forjar abraços
Que nos devolvam a vida
E nos aproximem do eterno
13 de abril de 2013
O beija-flor
Chegou bem perto de mim
Com gesto atribulado
E revoar angustiado
- Por que a vida é tão desigual?
Enquanto uns sofrem pela calma
Eu não posso refrear esta agitação
Que me exaspera e descontrola
Com carinho empático
Coloquei-me nas suas penas
Sem respostas elaboradas
Mas com a sinceridade precisa
- Não temas tua veloz existência
Que a angústia ou a ansiedade
Não afoguem tua esperança
Acalma teu coração travesso
E escuta seus versos e anseios
Oferece para ele caminhos e palavras
E mesmo que a pressa continue
Arrastando os voos da tua vida
Não percas nunca o rumo
Nem esqueças jamais a causa
Que não se murche teu sorriso
Nem se esfriem teus beijos
Procura em cada flor que te acolha
O destino que te aguarda
E o amor que te alimenta
1 de abril de 2013
Insurreição
Golpeia!
Açoita!
Ofende!
Não protegerei a face
Nem revidarei tua raiva
Séculos de silenciada dor
Me ensinaram a sofrer calado
Mostra tuas cartas!
Podes agudizar a crueldade!
Não me encolherei humilhado
Nem implorarei clemência
Tua violência te incrimina
O ódio que transpiras te condena
Me consideras derrotado
Me evitas na tua arrogância
Achando que a força te protege
Mas tu és tolo e esqueces
Que o sangue semeado
Sempre acaba florescendo
No coração dos pequenos
Que a inocência castigada
Não tolera a impunidade
E que a história finalmente
Erguerá a dignidade
De quem foi espoliado em vida
25 de março de 2013
A sombra
Há uma sombra insistente
Que me persegue sem piedade
Acossando-me sem trégua
Escurecendo minha memória
Entrevando minha alma
Ninguém a convidou
Não foi pronunciado seu nome
Nem solicitada sua presença
Mas ela fez se presente
Quando mais fraco me sentia
Apareceu no nascer do crepúsculo
Aproveitando o sol cansado
E a chegada das horas mais pesadas
Achando-me indefeso e desprevenido
Sem força para empreender a fuga
Hoje me acompanha implacável
Aferrada a cada passo e escolha
Semeando dúvidas e medos
Embaçando cada dia o horizonte
Querendo entorpecer minha esperança
18 de março de 2013
Memória
A brisa noturna
Trouxe à minha memória
A fragrância de dias floridos
Quando se teciam os abraços
Que balançavam nossos sonhos
O sol manhaneiro
Refletiu nos meus olhos
O ardor de encontros felizes
Quando as palavras cediam espaço
Aos férteis silêncios do afeto
14 de março de 2013
Viver a poesia
Uma voz distante
Suscita ecos íntimos
O olhar perscrutador
Descobre ocultos tesouros
A palavra certeira
Nomeia estrelas e sonhos
Poesia
Uma forma de ler o mundo
De respirar a vida
De saborear o tempo
12 de março de 2013
Pesadelo invernal
Sinto um frio atroz
Encurralando-me a cada noite
Como uma faca gelada
Como um terrível presságio
Envolve-me como hálito mórbido
Acossa-me como fera faminta
Observa-me como fatal destino
Convida-me a abraçar a derrota
Sinto uma tristeza cruel
Sequestrando meus sonhos
Como um ladrão noturno
Como um vírus corroendo o céu
Assalta-me como guerreiro implacável
Seduz-me com suas finas artimanhas
Paralisa-me com seu olhar terrífico
Condena-me ao deserto infinito
1 de março de 2013
“O SUBSTITUTO”, um filme para repensar a vida.
Título original: Detachment (2011).
País: EUA.
Diretor: Tony Kaye.
Roteiro: Carl Lund.
Vencedor do prêmio do público na Mostra Internacional de São Paulo
O título original expõe de forma rápida toda a problemática do filme e dos seus personagens, o que não aparece refletido na tradução ao português. A palavra inglesa “detachment” pode ser traduzida como ”desapego” ou “distanciamento”, mas também “indiferença”. Isso é o que o filme retrata, de forma diversa, positiva e negativamente. O protagonista, um professor que somente faz substituições sem nunca assumir uma vaga fixa, vive carregando uma história familiar tortuosa que não acaba de assimilar. Chamado para realizar uma substituição em uma escola em um estado completo de caos, encontrará professores/as que não sentem apego nenhum pela sua profissão, estudantes desencantados e aborrecidos da vida antes mesmo de começá-la, adolescentes à procura de adultos em quem confiar e com os quais substituir pais negligentes ou ausentes.
31 de dezembro de 2012
O eco
Uma história nas costas
Um sonho na pupila
Um germe no coração
Esforço cotidiano
Esperança semeada
Confiança oferecida
Gritos compartilhados
Lamentos reprimidos
Ofensas digeridas
Murchou-se a flor da manhã
Uma geada estéril tomou conta
As estrelas tornaram-se noite
Para que continuar cantando
Para quem espalhar meus versos
Se afinal somente o eco me responde?
24 de dezembro de 2012
Grávido
Como tornado imprevisto
Agitando meu interior
Como criança ansiosa
Abrindo caminhos para nascer
Como vulcão impetuoso
Expelindo o coração do mundo
São os sentimentos que me dominam
Contorcendo cruelmente minha vida
Grávido
Estou grávido
Inesperadamente
Assustadoramente
Fiquei grávido da Utopia
Essa senhora sempre nova
Que me seduz e encanta
Com ilusões palpáveis
Engravidei sem duvidar
Puxado pelo coração amante
Num fervilhar de sonhos possíveis
Arrebatado pelo céu vindouro
E quando a criatura se formava
Surgiu a palavra indesejada
E afastou-me da vida que tecia
Condenando-me à solidão fecunda
Agora estou grávido de angústia
Pelas sendas não percorridas
Pelas ideias não semeadas
Pelos sonhos que fugiram
Estou grávido de tristeza
Por tanta semente sem germinar
Por tanto esforço sem futuro
Por tanta herança não repartida
Estou grávido de raiva
Pelas lutas em que me envolveram
Por sofrer o destino dos dissidentes
Por ter que extinguir este amor gestante
17 de dezembro de 2012
Advento
Arrancarão do coração o sonho
E a vida se esvaziará sem sentido
Pausadamente
Inexoravelmente
Chegarão lógicas e explicações
Mas a dor não sabe de raciocínios
Terrivelmente
Inevitavelmente
Afastarão a seiva que me nutre
Transformando-me em terra ressequida
Solitariamente
Inexplicavelmente
Arrastar-me-ão como bicho desprezível
Arrebatando-me o sangue que me ergue
Sigilosamente
Impiedosamente
Mas ressurgirei da vergonha e do fracasso
Proclamando aos ventos o que amo
Irredutivelmente
Agradecidamente
10 de dezembro de 2012
Dolorosas obviedades
A flor murcha
Quando a raiz adoece
O medo impera
No coração atribulado
A razão se desvanece
Com cada palavra que fere
A esperança definha
Quando o orgulho governa
As sombras festejam
Quando o sol declina
A angústia congela
As asas dos sonhos
A noite se alastra
Obrigando o dia a fugir
O amor é uma frágil pena
Sacudida pela soberba
3 de dezembro de 2012
Condenados
Como onda violenta
Que arrasta o fundo
E faz borbulhar a pele
Como tornado repentino
Que arrasa a superfície
E arranca pela raiz a vida
Como tempestade de verão
Que engole a luz do dia
E transforma o céu em mar
Assim são a raiva e a impotência
Que habitam no coração ferido
Quando a mentira e a ofensa
Tomam conta do mundo
Afastando-nos dos sonhos
E condenando-nos ao pranto
26 de novembro de 2012
Apátrida
No país dos idiotas
É honrado e aclamado
Quem manipula os desejos
E submete a coragem
No império dos ignorantes
Somente os surdos
Sobrevivem ao temporal
De ofensas e sarcasmos
Na pátria dos soberbos
O carnaval é diário
Tabuleiro perfeito
Para bajuladores e falsos
É honrado e aclamado
Quem manipula os desejos
E submete a coragem
No império dos ignorantes
Somente os surdos
Sobrevivem ao temporal
De ofensas e sarcasmos
Na pátria dos soberbos
O carnaval é diário
Tabuleiro perfeito
Para bajuladores e falsos
19 de novembro de 2012
Uma pedra e outra pedra
Uma pedra
E outra pedra
Um míssil estrelado
Aniquila sem piedade
Uma família palestina
Uma pedra
E outra pedra
Uma bala perdida
Arrasta pelo chão da morte
Mais uma criança carioca
Uma pedra
E outra pedra
Os mercenários do império
Arrasam um povoado
Na sua faxina afegane
Uma pedra
E outra pedra
Crianças adestradas
Como máquinas de extermínio
Dessangram o coração da África
Uma pedra
E outra pedra
Os bancos e seus capangas
Impassíveis amarram a corda
Que enforcará a vida
De um despejado na Espanha
Uma pedra
E outra pedra
Gordos e ricos fazendeiros
Maquinam armadilhas legais
Para exterminar seus irmãos índios
Uma pedra
E outra pedra
Que não lapidem nosso coração
Alcemos nossa consciência
E vomitemos vergonha
Uma pedra
E outra pedra
Com todas as mãos na massa
Edifiquemos a dignidade
Desta humanidade estuprada
12 de novembro de 2012
Variações
O olhar profundo
O passo firme
A voz terna
O ouvido atento
O sorriso franco
O coração disposto
A mão firme
O olhar atento
O passo disposto
A voz franca
O ouvido profundo
O sorriso terno
O coração aberto
Combinações
Variações
Decisões
5 de novembro de 2012
A missão do poeta
Não direi nada novo
Não revelarei mistérios
Nem propagarei segredos
Simplesmente darei voz
Aos sentimentos que nos afogam
Às esperanças que nos nutrem
E aos amores que nos sustentam
Gritarei em solidariedade rebelde
A dor de quem não conta
O silêncio imposto
E a raiva contida
De quem habita a noite
Cantarei com todas as vozes
Em todas as línguas
E com todas as cores
Que a vida é uma dança
Quando o coração nos guia
Que as espinhas nunca abafarão
A fragrância das rosas
E que o sol retornará do exílio
Quando derrotarmos as trevas
29 de outubro de 2012
As cores da vida
Com todos os tons
Todos os matizes
E todas as misturas
Assim é o mundo
Assim é a vida
Que sonho e construo
Azul escuro
É o esforço das minhas lutas
Como o oceano infinito
Onde repousa a utopia
Verde floresta
É a justiça que persigo
Para que a vida floresça
No coração mais árido
Vermelho intenso
São os sorrisos e abraços
Que acendem nossa alma
Quando o inverno nos cerca
Amarelo pálido
São as perguntas que nos guiam
Diversas e eternas
Para nunca desistir da viagem
Alaranjado luminoso
São os frutos da paz semeada
Nascendo dentre as trevas
Anunciando o dia que germina
Branco imaculado
É o coração de quem ama
Reunindo num só gesto
Todas as cores da vida
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