24 de outubro de 2011

Ambiguidades

Silêncio
respeito ou indiferença?
desprezo ou solidariedade?

Sorriso
carinho ou humilhação?
sarcasmo ou amizade?

Lágrimas
tristeza ou júbilo?
emoção ou sofrimento?

Quão difícil é interpretar a vida
decifrar os sinais do coração
entender as intenções e os motivos

Portanto,
não julgues sem perguntar
não dês significados improvisados

Tantas vezes me surpreendo
agindo sem me entender
sendo um estranho para mim

Fico calado sem propósito
expilo risadas sem explicação
e choro amargamente sem motivo

Aceitemo-nos sem compreender
deixemos que o perdão domine o juízo
e o coração se encontre com seu semelhante

21 de outubro de 2011

Nem precisamos explicar

Parece que a leitura, principalmente de textos compridos e densos, cada vez custa mais e gosta menos nos tempos que vivemos. Por esse motivo e apesar da minha tendência natural a construir elaborados parágrafos e textos, decidi escrever hoje de forma diferente.
No contexto da comemoração dos 60 anos do Colégio São Miguel Arcanjo, quero compartilhar em forma de frases curtas, sentenças, ditados ou aquilo que for saindo do coração, o que para nós, escolápios, significa comemorar 60 anos de caminhada, e o desafio de construir um futuro bonito, desde a criatividade e a fidelidade às nossas fontes (Jesus de Nazaré e São José de Calasanz). (Continuar lendo...)

- A história? Um livro que devemos ler entre linhas e com olhar crítico, para compreender, aprender e não cometer os mesmos erros.

- 60 anos de vida institucional, mas quantos anos de vidas pessoais doados, oferecidos, compartilhados, construídos...?

- A pessoa é muito mais que um cérebro em um corpo. Devemos educar a pessoa toda, sua intelectualidade, afetividade, sexualidade, corporalidade, emotividade, criticidade, transcendência, sociabilidade, familiaridade...

- Educar para se encaixar no sistema? Isso não é educar, mas moldar! Não é isso que queremos! Não é para isso que trabalhamos!

- Educar para obter um bom resultado no ranking de escolas? E quais os critérios para estabelecer essa escala? Imagino que não entram itens como: honestidade, autenticidade, consciência ética, solidariedade...

- Educar focado no resultado do vestibular, Enem ou até da faculdade é como dirigir um carro de noite com um farol que ilumina somente um metro pela frente, antes ou depois acabaremos caindo em algum barranco ou batendo de frente com algum obstáculo.

- Basear a imagem pública do colégio nos resultados de vestibulares ou Enem é como vender um carro pela cor tão bonita com que foi pintado, esquecendo que a vida do carro está dentro, no seu motor.

- Fazer propaganda com os nomes de alunos “exitosos” nos vestibulares é fácil, mas quem garante que esses alunos sejam pessoas educadas, bem formadas, humanas no trato com os demais, dignas de levar o nome do colégio com elas?

- Educamos para que cada criança, adolescente ou jovem possa descobrir seu “tesouro”, suas melhores capacidades e talentos, colocando-o a serviço do que mais gosta e melhor sabe fazer, construindo uma vida feliz e contribuindo com a felicidade de todos/as.

- Educar é favorecer a autenticidade, que cada pessoa chegue a ser o melhor de si própria, que seja o original, que desenvolva aquilo que faz dela um ser único e irrepetível.

- Educar com um único padrão é desconsiderar a complexidade e diversidade do mundo em que vivemos e a particularidade de cada pessoa.

- Como é importante a avaliação! Mas avaliação de que? Das competências para superar as diferentes provas acadêmicas? Isso não é educar, mas treinar! Avaliemos as competências para a construção, com responsabilidade, da vida própria e de uma sociedade melhor!

- Educar é libertar! Libertar de: preconceitos, medos, tabus, dogmas, violência, visões reduzidas e mesquinhas do mundo e da vida, egocentrismo, imediatismo sem futuro, concorrência desumana...

- Um colégio deve ser um laboratório, reproduzindo em miniatura o mundo que sonhamos e para o qual educamos. Estamos conseguindo?

- Temos claros nossos valores institucionais: paz, justiça, solidariedade, respeito pelo diferente... Funcionários/as e famílias, falemos a mesma linguagem!

- Qualidade ou excelência na educação? Totalmente necessárias! Mas, desde quais critérios? Para concorrer com essas escolas que somente se orientam pelas tendências de mercado, procurando lucro, fama e prestígio? Não, obrigado.

- Qualidade e excelência têm que caminhar juntas com fidelidade e criatividade. Fidelidade à nossa identidade escolápia (carisma e missão). Criatividade para responder aos desafios atuais, oferecendo o que é próprio e exclusivo de um colégio escolápio. Qualidade e excelência para sermos mais fieis e mais criativos na nossa missão hoje, isso sim!

- E qual é a nossa missão hoje? A mesma de sempre, a que Calasanz intuiu e por ela entregou a vida. Evangelizar (oferecer a proposta de Jesus) educando (formando a pessoa em todas suas dimensões) crianças e jovens, preferencialmente pobres (os que mais precisam, os que sofrem as consequências da injustiça e do egoísmo pessoal e social) para transformar a sociedade (pessoas novas comprometidas na construção de uma sociedade nova, sem excluídos).

- Os sonhos viram ilusão quando não se transformam em projetos, desembocando em ações que acabem atingindo a realidade.

- Queremos ser e viver do jeito que Jesus propõe e é desde esse modelo que queremos educar. Isso não se negocia. E ser assim significa olhar o mundo desde as necessidades e os direitos dos últimos, não desde a soberba dos primeiros ou desde a inveja dos que estão no meio. Viver como Jesus significa compreender a vida desde o serviço gratuito ao outro, não desde a concorrência com o outro e, muito menos, desde a exploração do outro.

Poderíamos continuar acrescentando elementos para definir o que somos, o que sonhamos, o que acreditamos e pelo que nos esforçamos cada dia. Acho que nem precisamos explicar esses pontos, precisamos vive-los, isso sim. Temos uma história de 60 anos, cheia de entregas e generosos esforços. Façamos acontecer agora um bonito presente para continuarmos sonhando com um futuro prometedor. Calasanz nos guia.

17 de outubro de 2011

Me perdoem

Me perdoem
se com palavras ou silêncios
com olhares e gestos
abri sem querer feridas
e incendiei campinas

Me perdoem
pela inconsciência manifesta
por teimar no mapa
e esquecer da mágoa

Me perdoem
por empurrar a história
endurecendo a cara

Me perdoem
por sonhar
cantar
lutar

Me perdoem
por olhar tanto o céu
e esquecer da lama
que nos forma
e sustenta

Me perdoem
por insistir
exigir
existir

10 de outubro de 2011

Asas

Paul Klee
quando o fogo se aviva ao meu redor
e a terra treme sob meus passos
quando o horizonte se embaça
e as lágrimas me afogam
clamo ao céu e grito no vazio implorando
umas mãos que me ergam e abracem
umas palavras que me façam vibrar
um olhar que me devolva o sentido
procuro nas alturas eternas
uma resposta e um caminho
sem querer aceitar que fora de mim
somente acharei reflexos
do que no meu interior fui tecendo
não são alheias as forças
nem as luzes nem o ímpeto
não são dos outros os ventos
que me farão navegar pela vida
ninguém poderá me ceder um dia
as asas que me levantem
me devolvendo a leveza
a audácia e destreza
para enfrentar os céus com rebeldia
abrindo as nuvens e empurrando as trevas
não acharei fora as asas
que me retornem aos ventos
e me libertem do medo
somente com tesão e coragem
poderão nascer as asas
que me joguem à vida
asas forjadas com dor
alimentadas com sonhos
e revestidas de amor
as asas que me façam viajar
por entre estrelas e rostos
sobre corações e nomes
recolhendo nas mãos
histórias e acordes
abraços e risos
que me resgatem do tédio
e revigorem a entrega

3 de outubro de 2011

A gente pequena

não destacam nem aparecem
ninguém conhece seus nomes
nem contam suas histórias
passam despercebidos
como anônimas sombras
mas estão aí
no solo do mundo
nos lodos férteis
e nos árduos sertões

é a gente pequena
a humanidade miúda
que pulula no escondido
agitando ao vento suas dores

povos silenciados
milhões de omitidos
pequenos relatos de vidas duras
que jamais o mundo lembrará
porque não têm ouro que brilhe
não fazem barulho com bombas
nem semeiam fofocas de famosos

é a gente sem nome e sem futuro
que sofre sem culpa o presente
e carrega com dor o passado
é o povo emudecido e condenado
memória eterna da nossa omissão
silêncio ensurdecedor
que arrepia as consciências
e acorda nossa embrutecida sensibilidade

26 de setembro de 2011

Compromissados

Descortinemos as sombras
e empurremos as pesadas trevas
para deixar nascer a vida
para fazer florir a ternura

Criemos melodiosas risadas
apaixonadas e agradecidas 
que extingam as lutas
e enalteçam as carícias

Abracemos juntos as estrelas
deixemos cair as tristezas
e cuidemos do amor que cintila
antes que o arrebatem as tormentas

E proclamemos sem medo nem vergonha
que cremos no abraço que nos resgata
na palavra sincera que nos exalta
e nos corações irmãos que se amam


19 de setembro de 2011

Chegará

chegará
com certeza, chegará
como o raiar de um novo dia
anunciado pelo canto manhaneiro
de alguma ave madrugadora

chegará
às escondidas ou de repente
como neblina que invade os campos
ou como tempestade que silencia os cantos
sem aviso nem preparo

chegará
virá de fora ou surgirá de dentro
como aventureiro de regresso a casa
ou como sangue agitando as veias
ansioso por tão longa espera

chegará
eu sei que chegará
e arrastará as dúvidas, as mágoas e os prantos
semeando a alegria nesta terra devastada
neste coração ferido nas atrozes lutas da vida

chegará
nos inundando de esperança
afogando as trevas que acorrentam o afeto
afinando os fios e a trama em que me teço
germinando o amor que silenciei por medo

14 de setembro de 2011

Sin detener el paso

Foi publicado em formato digital meu segundo livro de poemas em espanhol, que podem comprar (sem custo) ou ler on-line neste link: 


São poemas nascidos de um coração sensível aos problemas do mundo, comprometido com sua transformação e solidário com as vítimas inocentes desta história.

12 de setembro de 2011

A sinfonia do mundo

Eleva-se harmoniosa
a sinfonia do mundo
alçando-se até os céus
notas de amor, de luta e de morte
melodias de dor e paixão
ritmos de festa e de guerra
cantos de júbilo e revolta
acordes de paz e ajuda
compassos de pranto e amor

Canta o mundo e cala o céu
trinam os corações seus nomes
e escutam atentos os astros

No seu brilhante esplendor
compreenderão as estrelas
as sombras e os trinos
desta orquestra humana
desafinada e destoante
esperançada e sofredora?

Chega aos meus ouvidos
a sinfonia do mundo
penetrando meus afetos
e aguilhoando a consciência

Canta comigo!
ajuda-nos a harmonizar nossas notas!
que tua vida seja um acorde
no meio de tanto ruído!
deixa que teu coração decore
os ritmos e as melodias
desta terra humana
que clama, canta e ama!

7 de setembro de 2011

Não chora

não chora
compreende
aceita
desculpa
mas não chora
não sou ideal
não fui criado por mãos artistas
não me entregaram o mapa da vida
e muitas vezes erro o caminho
a palavra e o sentido

não chora
paciência
tolerância
misericórdia
mas não chora
hoje sou eu
amanhã seremos todos
nesta aventura que cada dia enfrentamos
nos perdemos e reencontramos
na dor e no amor enraizados

30 de agosto de 2011

Contemplando o mar

Sossega coração, sossega
Contempla o ir e vir da tristeza
Na dança calma ou agitada da onda
No vaivém eterno da vida

Acalma coração, acalma
Que não retraiam teus ânimos
Nem a espuma, nem os ventos
Nem o estrondo dos temores emergidos

Amansa coração, amansa
A dor que alagou tua alma
Passará com a luz do novo dia
Germinando novamente a esperança

Repousa coração, repousa
Suporta a sedutora correnteza
Mergulhando na solidão mais profunda
Até encontrar o amor que te alimenta

21 de agosto de 2011

Melodias de dor

Melodias de dor se forjam
no mais profundo esquecimento
e como lágrimas se derramam
entre os dedos
através das mãos
percorrendo a vida

É um canto de revolta
diante da barbárie humana
um grito de resistência
um clamor angustioso
que acorda o olhar
e aguça a consciência

Que ninguém disfarce
a dor do mundo
até que a última ferida
no último coração
do mais esquecido e abandonado
dos filhos desta terra
seja curada com amor e justiça

15 de agosto de 2011

Aos prantos

A tristeza engasgou-se no íntimo
Dificultando o bom senso
E paralisando o instinto
Como uma espinha gigante
Atravessou-me no fundo
Perfurou a alegria
E libertou os medos

Angustiado e tremendo
Resgato a memória
Procurando os motivos
Intuindo o futuro
Quem convidou os fantasmas
Que me envolvem e afligem?
Quem ressuscitou o passado
Transformando-o em futuro?

Resiste, aguenta, levanta!
Clamo e reclamo a cada jornada
Mas as forças afrouxam
Quando a dor nos ataca

Porque roubaram a esperança?
Para que alimentaram a raiva?
Quem me devolverá a calma?

8 de agosto de 2011

Os clamores do mundo

No meio de um mundo em transformação, agitado e convulso, surge em mim uma dúvida que se desdobra e multiplica em mil perguntas e questionamentos. Realmente estamos interessados em conhecer o mundo que habitamos, ou substituímos o mundo real pelo “meu pequeno mundo”, no qual eu (com as minhas preocupações e necessidades) sou o centro gravitacional?
São muitas as tragédias que acontecem a cada dia, algumas vêm se arrastando na história atual, deixando seu rasto de morte e dor; outros são acontecimentos recentes que desestabilizam a ordem estabelecida, perturbando a tranquilidade almejada pelas classes acomodadas do mundo e seus dirigentes. Algumas experiências estão ainda em gestação e nem sabemos no que resultará, mas já estão apontando para um horizonte novo, destacando a possibilidade e a necessidade de pensar o futuro desde outras referências diferentes das usadas até agora.
Quero compartilhar alguns dos acontecimentos atuais que mais pesam na minha consciência mundial, com uma breve descrição e algumas reflexões críticas simples. (Continuar lendo)
A GlobalRevolution, inspirada nos movimentos cidadãos surgidos na Espanha nestes meses como reação à crise econômica e às políticas oficiais implementadas para enfrentá-la. Conhecida com diferentes nomes tais como SpanishRevolution, movimento 15M, Indignados, ela reúne cidadãos em assembléias, acampamentos e marchas nas principais cidades do país com uma mensagem clara: “não somos mercadoria”. Segundo eles os problemas sociais e econômicos que estão vivendo os países ocidentais não têm sua causa na crise, mas no sistema mesmo. Os governos enfrentam a crise aplicando fortes recortes nas políticas e gastos sociais, “democratizando” os custos da crise entre a população que, de fato, já vêm sofrendo as consequências da mesma (desemprego, inflação, bolha imobiliária, juros e hipotecas...). Os prejuízos da crise são socializados, mas nunca foram socializados os lucros das grandes corporações e bancos, verdadeiros responsáveis pela crise. Uma revolta de indignação está enchendo praças e ruas com milhares de pessoas, perpassando gerações, ideologias, religiões, nacionalidades, com uma luta não-violenta em favor de uma democracia real e participativa, que privilegie a sociedade e não os índices econômicos, as pessoas e não os interesses corporativos, a justiça social e não a depredação dos bens públicos por parte de políticos corruptos, profissionais da malandragem. O que começou com um acampamento numa praça de Madri, aos poucos está se espalhando por muitas cidades da Espanha, Europa, América, Oriente Médio... O que resultará de tudo isto, não sabemos, mas o certo é que estamos num momento muito interessante, numa revolta social que reflete o desgaste das classes até agora privilegiadas e que agora sofrem as consequências de políticas econômicas desumanas e enganadoras. O desgaste dos países que foram colocados como modelo de progresso econômico e político. Talvez o fim de um sistema que, no meio da crise, tenta se sustentar e reerguer a qualquer preço.
A insurreição civil nos países árabes contra governos quase ditatoriais e seus exércitos. Alguns países já não serão mais o mesmo, como o Egito e a Tunísia. Outros continuam envolvidos em fratricidas guerras, alimentadas pelos países representantes da verdadeira democracia e da liberdade, que nunca tiveram problema para comprar e vender favores, amizades e alianças, como acontece na Líbia. E outros países envolvidos em sangrentos conflitos, sofrendo igualmente as consequências de regimes autoritários e corruptos, com povos reprimidos com força brutal e desproporcionada, são intencionalmente ignorados por esses mesmos representantes da democracia e da liberdade, é o que aconteceu com o Bahrein, Iêmen, e agora chega a limites escandalosos na Síria.
Dramática é a situação da população de Somália, no meio de uma guerra entre a milícia islâmica radical de Al Shabab e as tropas de um governo inexistente depois da saída do último ditador, apoiados pelas tropas da União Africana, representando a democracia e a liberdade (e garantindo os interesses dos países ocidentais nessa região estrategicamente tão importante). A seca prolongada, décadas de guerra, milhões de refugiados e uma consequência terrível: a pior crise alimentar desde os anos 90, quando a fome assolou o país. Vinte e nove mil crianças já morreram de fome só nos últimos três meses e a ajuda humanitária internacional não chega por culpa dos conflitos armados. A seca não é a causa primeira desta situação, mas o detonante final de uma história de exploração, devastação colonialista, guerras entre blocos ideológicos, conflitos religiosos, etc. Onde estão os responsáveis? Talvez lucrando mais uma vez com suas campanhas “humanitárias”.
E a Noruega nos surpreendeu! Triste surpresa quando uma pessoa decide, por motivações ideológicas e religiosas, assassinar 93 pessoas. Um fanático religioso, um extremista racista e misógino, que se achava um cavaleiro templário lutando em nome de Deus, vingando as políticas tolerantes com muçulmanos, ciganos, negros e pobres em geral. Um homem mais inteligente que os outros, um visionário que intuiu o que os demais não podem ou não querem ver: que neste mundo não há espaço nem futuro para todos, por isso as raças superiores devem eliminar, excluir, isolar todos aqueles que ameacem a salvação do “povo eleito”. Um louco ou simplesmente o resultado de uma sociedade egocêntrica e materialista? Uma sociedade fundamentada no consumo ilimitado de uns poucos privilegiados, à custa de uma maioria esquecida que paga com sua miséria os excessos da minoria e que, agora, é vista como ameaça para o bem-estar alcançado.
E o que dizer dos conflitos que se perpetuam no tempo, transformando o que era uma “guerra preventiva” em um estado de guerra permanente? Quantos inocentes pagaram com suas vidas o desejo de vingança de um estado que quando quis, brincou com a violência no mundo todo? Quantos sofrem até hoje com as mudanças arbitrárias na política internacional dos Estados Unidos e seus aliados? Poderíamos fazer uma lista enorme com os nomes de pessoas ou grupos que foram treinados, protegidos, armados e financiados pelos diferentes governos norte-americanos que, em um determinado momento, se transformaram em inimigos da liberdade e dos direitos humanos, em terroristas sanguinários e desestabilizadores das democracias, da paz e da ordem mundial. O caso mais claro e conhecido é o recentemente executado Osama Bin Laden, mas poderíamos citar tantos... Iraque e Afeganistão continuam lotando os jornais com ataques, atentados, mortos e sofrimento. Quando na história da humanidade a violência resolveu um só conflito? Não aprendemos porque não nos interessa aprender.
Este é o mundo que temos. Poderíamos continuar com outros conflitos e situações dramáticas que acontecem a cada dia. A minha preocupação continua sendo a mesma: tudo isso tem alguma coisa a ver comigo? Sinto-me parte deste mundo, me afeta o que nele acontece? Interesso-me por compreender as causas e consequências dos acontecimentos ou sou um simples espectador?

4 de agosto de 2011

Sentir e viver

Reuni no livro Sentir e Viver todos os poemas publicados neste blog até agora. Pode ver aqui (recomendo em tela cheia) ou no site do Scribd, acessando desde o título do livro. Se alguém quiser um exemplar em PDF pode solicitar diretamente por e-mail.

1 de agosto de 2011

Quando as entranhas se agitam

Quando as entranhas se agitam
E os alicerces se comovem
Quando o futuro se embaça
E a esperança foge enevoada
Onde ancoraremos nossos sonhos?
Onde semearemos os esforços?

Na dor de quem não tem culpa
De que sejamos discurso
Etéreas teorias sem raiz nem fruto

No sofrimento mudo dos esquecidos
Espectadores da nossa grandiloquência
Comensais forçosos da nossa incoerência

Na luta teimosa de quem ainda canta
Apesar das feridas do nosso desprezo
Avivando o sangue e afirmando o passo

25 de julho de 2011

Sobre a nossa natureza

Com quais materiais nos fizeram
Quando teceram nossas entranhas
E modelaram nossos sentidos?

Quais as palavras que nos gestaram
Quando se formava nossa sensibilidade
E se construía nossa consciência?

Quais olhares nos iluminaram
Quando tateávamos caminhos
E se desenhavam nossos mapas?

Com quais afetos nos alimentaram
Quando enraizava nossa estima
E se erguia cintilante o amor?

Quais as mãos que nos guiaram
Quando nos aventuramos na vida
E o horizonte invadiu nosso anseio?

Quem continua velando nossa viagem
Quando erramos nossas escolhas
E sentimos que o futuro nos espanta?

18 de julho de 2011

Conselho final


Toca o céu com teu olhar
Procurando estrelas e horizontes
Não te conformes com a poeira
Arremessada em cada passo
Cansado e trêmulo caminhar
De quem perdeu a esperança

Mergulha ávido na tua dor
Até achar a mais clara verdade
Não te resignes com as palavras
Proferidas qual afiada seta
Consciência e espírito feridos
Por quem congelou a ternura

14 de julho de 2011

Mundo próprio

É necessário olhar no íntimo
Aventurar-se nas entranhas do ego
Para advertir agradecido
O manancial que me alimenta
A luz que me orienta
E os amores que me sustentam

A natureza que se transforma
A vida que se recria
Em uma dança inteligente
Um elogio da beleza
Que comove o espírito
E amolece a ira

A capacidade humana
Para transformar o mundo
Num “re” criativo e fecundo
Reinterpretar
Remodelar
Reinventar
Uma inteligência menina
Que não dá sossego nem descansa
Na descoberta diária do universo

O coração vibrante
Ímpeto e energia a serviço da vida
Delicadeza e ternura nas mãos amigas
Um coração que sorri e chora
Se apaixona e sofre
Que canta e dança
Ao escutar alguns nomes
Que se endurece e fecha
Diante da violência e da morte

E finalmente a memória
Do que foi vivido e sofrido
Do que me enriquece e anima
Das esperanças partilhadas
Das histórias construídas
Memória que modela meu ser
Lembranças, sonhos, rostos
Daqueles que me criaram
Dos que trabalharam minha massa
Dos que entregaram tudo de graça
Dos amores que proclamam
Que a vida é digna quando se ama

11 de julho de 2011

Teimosa esperança

Nem as trevas
Nem os silêncios
Nem as mágoas
Nem os medos
Far-me-ão desistir
Desta busca incessante
Desta aventura sem fim

Contra a correnteza da rotina
Contra o vento do desânimo
Contra tempestades de intriga
Contra furacões de gelo
Persistirei obstinado
Procurando um sentido
Procurando um futuro

Por cima de ciladas
Por cima de temores
Por cima de ameaças
Por cima de rumores
Erguer-me-ei em desacato
Com o punho em alto
Com o coração em canto

8 de julho de 2011

Ai!

Oswaldo Guayasamín
Ai! Quem sentira como própria
A dor de tantas vidas truncadas
Das almas eternamente esquecidas
Neste império da autossuficiência

Ai! Quem assumira com ternura
Os sonhos das vidas condenadas
Dos que nunca sentirão a dita
De construir com esforço suas vidas

Ai! Quem oferecera esperança
Àqueles que se arrastam nas trevas
Sem horizonte nem ventura
Nesta noite que se pressagia eterna

Ai! Quem contemplara com lágrimas
Este mundo que se desmancha
Com a marreta da indiferença
E a ilusão da prosperidade própria

4 de julho de 2011

Sem deter o passo

Ascende
Eleva o espírito
Respira fundo os nomes e os rostos
Abraça tuas sombras
E continua a caminho
Que nada detenha teu ímpeto
Que ninguém abafe teu canto
Uma plêiade de sonhadores te espera
Deixa te aconchegarem com afeto
Deixa te alimentarem com respeito

Corre até perfurar os ventos
Até fusionar os medos
Até diluir o horizonte no eterno
Não olhes as pedras nem os muros
As estrelas guiarão teu curso
Meus versos acompanharão teu esforço

E quando sintas que o fim se afasta
Que a esperança enfraquece
E o passado estagnado refreia o passo
Lê e canta os sons do coração
A memória das carícias
Que aguçaram os sentidos
E aqueceram nossos gelos
Resgata os sonhos adormecidos
E os projetos postergados
E confia cegamente
Na mão firme que sustenta tua vida
No amor que te recebe cada noite
E nesta alma que por ti vela

27 de junho de 2011

Resgatando a história

Resgatando a história
O coração se expande
E o horizonte se renova

Carregado de sentimentos
E digerindo a saudade
Retomo feliz o meu caminho 

Agradecido
Pela memória ressurgida
Pelo amor semeado
Pelas flores deleitadas

Envergonhado
Pela fidelidade revigorada
Pelos abraços coletados
Pelas confidências partilhadas

Entusiasmado
Pela amizade enraizada
Pelo tesouro intuído
Pelas vidas convividas

20 de junho de 2011

Viajando

Que não passe pela vida viajando
Sem deter o olhar, a palavra, o abraço
Consumindo com dolo
Experiências, afetos e nomes

Que não faça da minha vida um passeio
Um ir e vir frio e vazio
Rodando sem destino
Sem referências nem saudades

Passar pelo mundo ligeiro
Sem ancorar o espírito
Nem sepultar os sonhos
Passar pelo mundo, inevitável!

Mas nunca passar pela vida
Não tirar da bagagem
Sorrisos nem cantos
A dor e a esperança
Os corações ternos
Lágrimas vertidas
Beijos agradecidos
Esforços partilhados
A justiça conspirada
E a paz sonhada

Que não passe pela vida
Transformando o universo
Em lembranças de prateleira
Ou retrato congelado

Quero viver entregando
Em cada passo e instante
Um encarnado fragmento
Deste coração vibrante.

13 de junho de 2011

Humildade

Contemplo o céu
Sua gratuita imensidão
Sua abertura infinita
Não pede
Não exige
Não impõe

Contemplo o sol
Sua luminosa generosidade
Seu abraço caloroso
Nada cobra
Nada empresta
Nada anseia

Contemplo a lua
Sua humilde presença
Seu rosto sempre novo
Nem reclama
Nem vozeia
Nem ofusca

Contemplo meu coração
Puxa! Acho melhor
Continuar em outro momento

10 de junho de 2011

Observando e perguntando

Uma andorinha afaga o céu
Com seus sonhos ao vento
E suas esperanças brilhando
Qual o teu destino?
Quem guia teu esforço?
Quem fortalece teu verso?

Uma estrela treme na noite
Oferecendo seus cantos
E agitando seu fogo
Quem te confia seus desejos?
Por quem brilhas no eterno?
O que aguardas em silêncio?

Um coração renasce no escuro
Amassando humilde um tesouro
Jorrando ao mundo seus afetos
Quem acendeu teu ímpeto?
Para quem palpitas sem descanso?
Por quem te esvaziarás amando?

31 de maio de 2011

Ainda cantamos, ainda pedimos, ainda sonhamos, ainda esperamos

Nos 60 anos do Colégio São Miguel Arcanjo.

Na voz da incomparável Mercedes Sosa escutaríamos: “Todavía cantamos, todavía pedimos, todavía soñamos, todavía esperamos”. Peço licença para usar a letra dessa maravilhosa música como suporte para a minha reflexão de hoje. (Continua...)

AINDA CANTAMOS
 

Depois de 60 anos de história, o Colégio São Miguel Arcanjo quer continuar cantando, jogando aos ventos belo-horizontinos os acordes e os ritmos da nossa missão. Recebemos uma bonita herança, uma sinfonia criada por séculos de esforços generosos, de idéias brilhantes, de tentativas, fracassos e sucessos, de nomes e de amores. Esta sinfonia escolápia canta a capacidade humana para recriar a vida e o mundo, para reinventar a sociedade e o futuro, para transformar a miséria em dignidade, a exclusão em justiça.
Queremos manter vivas as notas, o tempo e os compassos que compõem esta sinfonia educativa, evangelizadora e transformadora. Queremos conservar todas as vozes que deram vida a esta sinfonia, acrescentando outras novas, as vozes dos que hoje proclamamos que vale a pena educar libertando, abrindo horizontes na vida de crianças e jovens, oferecendo caminhos de realização pessoal e de construção social, mostrando modelos de verdadeira felicidade compartilhada com toda a humanidade.

AINDA PEDIMOS
 

Porque sabemos que sozinhos não daremos conta, pedimos, rogamos, suplicamos a colaboração de todos/as. Porque educar é uma responsabilidade social que nos compromete a todos/as.
Queremos contar com a ajuda da família: conheçam nossa missão, nossos valores, nossos projetos e caminhemos de mãos dadas. Reforcemo-nos mutuamente em nossos esforços. Empurremos na mesma direção e sentido, unifiquemos nossas linguagens, olhemos para o mesmo horizonte e rememos juntos nas mesmas águas.
Queremos e exigimos ajuda das instituições públicas e particulares. Não queremos continuar sendo “saco de pancada” de quem não ajuda e ainda atrapalha. Estou me referindo principalmente à mídia, que negocia com os dramas humanos e, afinal, acaba jogando a responsabilidade e a culpa sempre nas instituições educacionais.
Pedimos às autoridades públicas que reconheçam o valor da educação para construirmos um país melhor, que não continuem usando dela para fins políticos e privados.

AINDA SONHAMOS
 

Mesmo com os pés bem no chão, sendo realistas (não resignados, nem fatalistas), continuamos olhando o futuro com esperança e continuamos sonhando.
Sonhamos com um Colégio São Miguel que seja espaço para todos/as, mas espaço alternativo. Sonhamos com um ambiente de tolerância e paz, de respeito mútuo e crítica construtiva, de inclusão e solidariedade.
Sonhamos com a semente que cada dia colocamos no coração e na mente de crianças, adolescentes, jovens e de todas as pessoas que dão vida a esta família. Sonhamos com uma escola capaz de viver o que anuncia, que faça acontecer nela o que propõe para a vida das pessoas, que reconheça suas falhas e limitações, e que não esqueça nunca do horizonte: “evangelizar educando para transformar a sociedade”.
Sonhamos com educadores/as vocacionados/as, com famílias comprometidas, com funcionários/as identificados/as, com equipes dinâmicas e dinamizadoras, com projetos atualizados e práticos, com alunos/as dispostos a crescer e a aprender para iniciarem a aventura da vida com as melhores condições e a melhor consciência ética.

AINDA ESPERAMOS
 

Estamos convictos de que a melhor época do São Miguel ainda está por acontecer, não por desprezar a história recebida, da qual nos sentimos profundamente agradecidos/as, mas porque sabemos que ainda temos muitas ideias, projetos, anseios, esforços e sonhos por realizar.
Esperamos ainda que o São Miguel seja mais fiel à sua missão e identidade escolápia, seguindo o exemplo de Jesus de Nazaré e de São José de Calasanz. Esperamos, ainda, gerarmos muitos bons frutos, pessoas e projetos que sirvam para fazer acontecer aqui o Reino de paz e justiça que Deus quer para esta humanidade. Esperamos, ainda, servir por muito tempo para que as crianças de hoje e de amanhã sejam felizes amando e fazendo felizes as outras pessoas.
Esperamos ainda ver muitos/as ex-alunos/as trabalhando generosa e solidariamente para fazer deste mundo um lar para todos/as, mais justo e pacífico, mais digno e humano.
Esperamos e sabemos que comemoraremos muitos outros aniversários do São Miguel. Hoje são 60, prepararemos ansiosos os 100 anos, os 150... E como hoje comemoram conosco todos/as aqueles/as que passaram por aqui e deixaram sua vida, seus sonhos e seus esforços, desde o céu, junto a todos/as eles/as, com Calasanz e com Deus Pai-Mãe, continuaremos soprando velas e animando sonhos.

15 de maio de 2011

Prece


desde a terra
que acolhe nossos passos

desde o barro
que modela nossas vidas

desde a dor
que robustece nossas lutas

desde a esperança
que sustenta nossos dias

desde a fé
que alenta nossas dúvidas

nos dirigimos
a quem alimenta nossa confiança

em que haverá
um amanhã melhor...

13 de maio de 2011

Adentro-me no teu íntimo

Adentro-me no teu íntimo
Procurando o rastro do teu sentir
Mergulhando por entre os fios
Que tecem os sonhos do teu querer

Caminho devagar por tuas veredas
Catando os sinais do teu sorrir
Contemplando as cores e as formas
Da fascinante paisagem do teu existir

Percorro os ângulos do teu mapa
Explorando as pegadas do teu olhar
Quero conhecer cada rincão de tua terra
E esquadrinhar com detalhe o teu sonhar

Apalpo o tecido das tuas verdades
Examinando o peso do teu pensar
Quem me dera participar das tuas vontades
Para saborear com carinho o teu desejar

1 de maio de 2011

No reflexo te percebo

no reflexo te percebo
como sombra que vaga
como eco que se dissipa
presença que se desvanece

quem segurará tuas dúvidas?
quem descobrirá teus medos?
quem alimentará teus versos?

na penumbra intuo teu corpo
como alma que se desgarra
como gesto que se evapora
aparência que se distorce

quem afagará tuas entranhas?
quem sustentará teus passos?
quem beijará teus sonhos?

25 de abril de 2011

Amor criança

Cegueira
Dúvidas
Receios adventícios
Fazem parte da rotina de quem ama

Sem pauta marcada
Sem avisar nem se anunciar
O temor se convida e tudo se abala
Os sentimentos se alvoroçam
As imagens se misturam
E os sonhos se desvanecem

Sem perceber verte-se o alento
E as forças extinguem-se silenciosas

Não julgues meu dizer nem meu calar
Não forces mais as cordas do coração
Tentando extrair a última gota
De um amor ainda criança
De um sentimento em gestação
De uma vida que apenas desabrocha

Bebe de mim desejos e sonhos
Tira deste poço escuro
As trevas que me invadem
E abre-me a novos ares e melhores dias
Onde o amor seja adulto
E a vida derramada

18 de abril de 2011

Iluminados por milhões de estrelas

De dia tudo fica mais fácil. A realidade se mostra tal qual é. Sob a luz do sol não precisamos intuir, tatear, adivinhar, escolher sem saber. Nas horas iluminadas do dia os caminhos são claros, os destinos aparecem na distância e o horizonte sempre está aí, como referência.

Em muitos momentos da vida almejamos a luz intensa que nos guie e oriente. Desejamos a luz que dissipe as incertezas, os temores e os fracassos. Não é por acaso que todas as religiões projetaram sempre em Deus o desejo da Luz Eterna, da perfeita iluminação, da Verdade absoluta.

Se a vida fosse sempre dia, sem trevas, sem dúvidas, sem tropeços, tudo seria mais simples. Mas nós somos mais complicados que tudo isso. Somos seres gerados e nascidos na penumbra. Somos filhos das sombras. Levamos nos nossos genes a dor e a alegria, a esperança e a frustração, a força e o medo, a vergonha e a coragem. Somos criaturas em penumbra, com cada pequena luz que brilha dentro nós, as sombras crescem e se multiplicam. Continuar lendo...

Existem pessoas que não aceitam isso. Vivem negando as sombras, as próprias e as alheias. Para elas somente pode existir perfeição, clareza, certeza. A realidade toda é ponderada desde um dualismo maniqueísta, simplista, superficial e, quase sempre, interesseiro. Rejeitam a noite, as incertezas, as limitações, as dúvidas, achando que eles pertencem ao dia, detentoras da luz e da verdade. Não toleram as sombras porque consideram que eles são somente luz. Negando sua própria realidade, negam a realidade das outras pessoas, negam a realidade humana, a sua originalidade e a sua potencialidade.


O compromisso e a responsabilidade de educar devem se fundamentar nessa realidade ambígua, contraditória, imperfeita e desconhecida. Educar não é conduzir das trevas para a luz, mas ajudar a se compreender como penumbra. Educar é ajudar a dar sentido à nossa realidade, pessoal e social, desentranhando as sombras, mergulhando nas noites, descobrindo o que ainda está oculto. Porque neste mundo ambíguo, nesta realidade complexa, nem tudo é luz e treva, a maior parte é penumbra. 


Na penumbra percebemos ainda a tênue luz que nos orienta. Na penumbra nos envolvem as sombras, escondendo as possibilidades, enganando os sentidos e deformando as percepções. Mas é nessa penumbra que nós somos, crescemos e aprendemos. Na escuridão da noite se ocultam grandes possibilidades e valiosos tesouros, é função do/a educador/a ajudar a descobrir o que está oculto, sabendo que, tanto possibilidades quanto tesouros, nunca ficarão livres de sombras, dúvidas, erros e fracassos. 


Educar é ajudar a caminhar na penumbra da nossa realidade, iluminados pela luz tênue e humilde de milhões de estrelas. A luz daqueles que nos precederam. Daqueles que, entregando suas vidas por amor, se transformaram em estrelas, e hoje olham para nós sorrindo desde o firmamento da eternidade. Iluminados pela luz daqueles que continuam sonhando, sem deixar que as luzes artificiais e falsas os ceguem e confundam. Iluminados pela luz de quem sabe aprofundar na vida, na realidade e na existência, não se conformando com as respostas simples de quem não aceita a dúvida, de quem tenta dogmatizar o desconhecido, de quem acaba matando o espírito humano, criativo e sempre insatisfeito.


Descubramos a riqueza da penumbra, as possibilidades da noite e os sinais do dia, deixemo-nos iluminar pelos milhões de estrelas que nos acompanham e guiam. Não caiamos na tentação de simplificar a realidade, matando o que nos faz viver: a insatisfação, a necessidade de conhecer sempre mais, de compreender sempre melhor, de transformar o que nos foi dado, de recriar a cada dia o mundo e a existência.

11 de abril de 2011

O sangue inocente clama desde a terra

Oswaldo Guayasamin.
O sangue inocente clama desde a terra
Foi vertido sem piedade
Extraído sem dor nem motivo
O que semeamos neste mundo
Que seus frutos nos espantam?

Vidas e sonhos esparramados sem sentido
Choramos a morte injusta e antecipada
Quando bate na porta da nossa casa
Quando fala nossa língua
E salpica com crueldade nossa rotina

Mas são muitos os Rios que acontecem a cada dia
O massacre é mundial e ninguém se questiona
Quem chora os milhões de assassinados pela fome?
Quem faz própria a dor dos miseráveis?
Por que umas vidas são mais vidas que outras?

Costa de Marfim, Líbia, Afeganistão, Iraque
O mundo em guerra não nos abala
E sonhamos em ser como aqueles
Que têm a morte por companheira
Aqueles que perderam o rumo e o sorriso

Ergue o coração e a raiva, humanidade!
Não permitas mais ultrajes nem mais indiferença
Que não arranquem mais filhos do teu seio
Que ninguém se sinta em paz até que a paz reine
Que a vida seja para todos e por todos protegida

4 de abril de 2011

Reclamações da paz

 
Quem te ensinou a viver
não falou contigo que o amor não mata
que a pessoa é sagrada
e o diálogo nos salva?

Não te explicaram
ao surgirem sozinhas as inevitáveis brigas
que o perdão nos honra
e a vida decepada não volta?

Nunca te mostraram
ao fugir desbocada tua primeira raiva
que a ira semeia feridas
e o ódio, afinal, nos afoga?

30 de março de 2011

No amanhecer do meu viver

Olha pra mim
Mergulha no meu ser
E faz-me entender
O que palpita dentro de mim
Qual a profundeza da minha dor
O sabor da minha esperança
A cor do meu querer

Entra em mim
Sem temor de machucar-me
A vida me acostumou a sofrer
Enfia em mim o teu sentir
E revela-me os segredos
Que vagueiam sonolentos
No mar do meu pavor

Explora em mim
Até meu mundo descobrir
Não te freiem os escrúpulos
Ou receio de me ferir
Não voltarei mais para a noite
Que as sombras fujam temerosas
No amanhecer do meu viver

16 de março de 2011

O que vai fazer com a sua vida?

Na adolescência e primeira juventude colocamos as bases da nossa vida. É fundamental nessa etapa da vida que alguém nos questione: o que você quer fazer com a sua vida? Qual o sentido que você está dando a sua vida? Para que e para quem você vai viver?
Estas são algumas das perguntas que esta apresentação oferece, para  ser usada com adolescentes, jovens e, quem sabe, também por adultos que até agora viveram se deixando levar.

14 de março de 2011

Coração

Coração amante, não tremas nem desconfies
Os ventos do afeto sempre trazem tempestades
Não procures refúgio, será inevitável
Os sentimentos levantam ciclones
Quando o fogo passa e se acendem as saudades

Coração entregado, não procures certezas
Perguntas e respostas nunca vêm de mãos dadas
Não te conformes com menos, com o mais evidente
Mistério e silêncio serão nossas sombras
Acompanhando-nos sempre nas longas jornadas

Coração frágil, não esmoreças nem abandones
O amor é luz que aquece o dia e alenta nas noites
Não tentes fugir das trevas, é nelas que o sol descansa
No negro céu semeado de amores brilhantes
Encontrarás a estrela que cante tuas verdades.

21 de fevereiro de 2011

Constelações de sentimentos me envolvem

Constelações de sentimentos me envolvem
Surpresas, medos, esperanças, alegrias fugazes
Galáxias de afetos que me gritam: vive!
Planetas que ecoam nos céus a voz de quem existe

Já percorri outros universos de saberes e normas
Afundei em buracos negros de raciocínios e lógicas
Perdi a vida viajando à procura de certezas
E acabei errante no infinito vazio das dúvidas eternas

Que novo cosmo me deparará o destino?
Por onde me levarão os astros e o bom senso?
Que nebulosas habitarão meus medos?
Em quais asteróides semearei meus sonhos?

Hoje é o coração quem governa minha vida
Fugindo dos velhos mapas e da trilhada senda
Lágrimas, risos, arrepios, emoção, ternura
Povoam o céu deste velho corpo que ainda palpita

7 de fevereiro de 2011

Andando em círculos


Andando em círculos construo a vida
Sempre bebendo nas mesmas fontes
Inventando o passado e lembrando o futuro
Onde tudo termina e começa de novo

Em círculos de incerteza caminho
Sempre retornando ao lugar de origem
Cada dia novo e sempre o mesmo
Estranha novidade que me devolve na história

Quer correndo, quer me arrastando
O vai e volta da vida não para
Nem o amanhã, nem o ontem
É o agora que somente compreendo

Quem me orientará neste redemoinho nervoso?
Quem apontará o futuro sem me devolver ao passado?
Ou será que é assim tudo e sempre
Caminhar em círculos até descobrir o Centro?

4 de fevereiro de 2011

Aí estás

Num caótico borbulhar de vozes
No estrondo duma tempestade de ecos
Descubro teu nome
Reconheço teu verso
Decifro as notas do teu canto

Nem os deslumbrantes galanteios
Nem a ofuscante sombra da inveja
Me afastam do teu olhar
Que ilumina as noites
Desvelando novos horizontes

Mesmo numa selva de dúvidas
No meio das estrelas e dos mares
Avisto rápido tuas pegadas
Sinto o cheiro do teu passo
E a memória acorda em mim a esperança

21 de janeiro de 2011

Quem?

No frio da noite
Os sentidos enganam
E os medos renascem
    quem semeará meu corpo?
    quem espalhará meus sonhos?
    quem cantará meus versos?

Apalpando as sombras
Intuo tempestades
E os caminhos se confundem
    quem reconhecerá a meta?
    quem orientará meu olhar?
    quem conduzirá meus passos?

Vasculhando o céu
Interrogo os astros
Procurando uma esperança
    quem me acolherá amanhã?
    quem conciliará meu juízo?
    quem acalmará meus medos?

15 de janeiro de 2011

Neste mundo

Neste mundo ferido
Ofendido, aflito e desprezado
Onde estás tu?
De que fala teu coração e tua boca?
O que te faz chorar, rir, cantar?

Neste mundo exausto
Dividido, humilhado e violento
Onde te situas?
Por quem tremes, lutas e gritas?
O que alimentas com teu esforço?

Neste mundo sufocado
Ameaçado, temeroso e magoado
Onde sonhas tu?
Qual o teu olhar, o teu sentir, o teu amar?
O que oferece a tua mão e teu verso?

9 de janeiro de 2011

Como a borboleta

suave, mais suave ainda
sem importunar as almas errantes
cansadas de procurar o manancial da vida

devagar, mais devagar ainda
sem forçar os desejos contidos
temerosos e aflitos por tanto gelo sofrido

com a delicadeza da borboleta
afagando os afetos e despertando os sonhos
extraindo o néctar de quem se descobre vivo

com o encanto da borboleta
fascinando com sua dança tímida, cadenciada
embelezando o espaço e respeitando o sentimento

com a beleza da borboleta
amaciando as dores e colorindo as tristezas
erguendo o espírito de quem já morou nas trevas

1 de janeiro de 2011

O sabor do teu olhar

 
O sabor do teu olhar
Revive os tempos da infância
Quando tudo e sempre parecia simples
O dia e a noite
Os jogos e as brigas
As gargalhadas e os prantos

O sabor do teu olhar
Resgata as aventuras perdidas
Quando a realidade era recriada na nossa mão
As guerras e os amores
O poder e a camaradagem
As estrelas e os mares

O sabor do teu olhar
Desperta minha repousada memória
Quando sonhávamos a vida sem saber
O futuro e as estrelas
Os esforços e as venturas
As alegrias e os amores